sábado, 7 de fevereiro de 2009

Clap clap sschhhhiiiuuuu

Não é a primeira vez que falo da técnica que é necessário dominar para saber bater palmas em concertos de música clássica. Contexto: Orquestra de Filadélfia com o violinista Leonidas Kavacos, ciclo da Gulbenkian das grandes orquestras mundiais, Coliseu.

O Leonidas entrou, com o seu cabelinho lisinho a dar a dar, paninho para pôr entre o apoio do violino e o queixo. E depois começou a tocar um concerto para violino e orquestra. E tocou muito. Mesmo muito. Descomunalmente. Tocou quem nem um animal, um autêntico boi. Eu diria mesmo que tocou nas horas.

No final de um dos andamentos, houve um tipo que das duas uma: ou não se conteve ou não sabia que não era suposto manifestar-se. E então sucedeu-se, mais ou menos, aquilo que coloquei em título. Mais palma menos palma, mais tá calado menos tá calado. É claro que, quando a peça chegou mesmo ao fim, foi imediata a salva de palmas, triunfal e plena. Uns bravos pelo meio, um público ao rubro.

Assistir a estes concertos é um espartilho. Já não basta as cadeiras desconfortáveis, o som manhoso do Coliseu, o cheiro a naftalina dos casacos de peles que passam o resto do ano no armário, as tias e os tios, a brigada do reumático, e ainda é preciso tanta moderação nas reacções e nos comentários positivos ao espectáculo.

E nisto, entre andamentos e mesmo a meio dos andamentos, há sempre um conjunto muito grande pessoas que bichanam ao ouvido umas das outras, tossem e pigarreiam ruidosamente, outros cujos telefones tocam, outros que resolvem tirar o rebuçadinho do plástico que faz um barulho horrível. É curioso que, para estes casos, não há um sscchhhiiuuu pronto a disparar, só depois de algumas insistências se começam a ouvir os primeiros.

A minha teoria: há pessoas que adoram calar as palmas dos outros. Adoram mostrar que sabem estar num concerto daquele tipo. Que sabem a diferença entre o final de um andamento e o final de uma peça. Educam os outros enquanto bichanam ao ouvido do parceiro do lado, tossem, tomam rebuçados para ver se acabam com a tosse, desligam o telefone quando ele, atrevido, resolve tocar.

Tudo sem bater palmas porque aquilo é uma coisa para gajos cultos.

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