quarta-feira, 31 de março de 2021
terça-feira, 30 de março de 2021
Suportabilidade
A utilização do verbo "suportar", à semelhança do inglês, como sinónimo de "apoiar", "consubstanciar" ou "dar assistência a" é um bocado insuportável.
segunda-feira, 29 de março de 2021
domingo, 28 de março de 2021
Distinto
«I distinguish remorse from regret in that remorse is sorrow for what one did do whereas regret is misery for what one did not do.»
Hitch-22, Christopher Hitchens
quinta-feira, 25 de março de 2021
Enviesado
"O meu viés..." diz-me quando inicia a explicação daquilo que consideraria ser, simplesmente, a sua opinião. A expressão aterra-me na cabeça de tal forma que me abstraio das palavras seguintes. Como se não fosse possível ter uma opinião que não seja, por definição, enviesada. Assim como solicitar uma opinião isenta, a alguém que consideremos imparcial.
segunda-feira, 22 de março de 2021
Sotaque
Na sua autobiografia - intitulada Hitch-22 -, Christopher Hitchens fala da experiência de ser um britânico nos EUA, assim um pouco à semelhança do célebre tema de Sting. Um dos aspectos que realça são as diferenças na utilização da língua inglesa. Refere, inclusivamente - e este é um fenómeno que, segundo consta, abrange outros anglo-falantes não-americanos em terras do tio Sam - que a sua sonoridade britânica teria sido, em algumas circunstâncias, uma boa alavanca para conquistas junto do sexo oposto. Neste contexto, relata o episódio de uma jovem, que se terá referido ao seu "sotaque"; Hitchens respondeu-lhe, de imediato, que seguramente ele não tinha sotaque, mas sim o contrário: ela é que tinha.
Este episódio, por sua vez, fez-me recordar um outro muito semelhante, protagonizado por José Saramago: no decurso de uma entrevista, uma jornalista brasileira disse-lhe que tinha dificuldade em perceber o seu "sotaque", ao que Saramago de imediato retorquiu, com o tom seco e austero que o caracterizava, que "sotaque tem a senhora". O escritor português não avançou, contudo, se, na sua experiência, o sotaque, perdão, o português de Portugal granjeia qualquer tipo de vantagem junto do sexo feminino luso-falante doutras latitudes.
A noção da ausência de sotaque no país de origem da língua, para além de soar um certo toque de sobranceria, acarreta, em si, algumas inconsistências. Desde logo porque não permite categorizar os diferentes sotaques dentro do próprio país de origem. Das duas uma: ou nenhum é sotaque - o que é chato porque eu ia jurar que já ouvi o sotaque do Porto, açoreano, madeirense, alentejano, algarvio, das Beiras, de Setúbal, de Viseu, etc.; ou são todos excepto um, que é o não-sotaque, e em cujo caso é necessário definir qual é exactamente este último.
Costuma dizer-se que o português falado na região de Coimbra é o mais correcto ou mais aproximado do padrão da língua. Mas, acaso este fosse o não-sotaque, teríamos outro problema: do ponto de vista da origem - a lógica aparentemente subjacente aos comentários de Hitchens e Saramago - Coimbra não fará sentido. Certamente teríamos que rumar mais a norte.
A minha sugestão simplificadora é aceitar que todos temos sotaque. Embora um(ns) coincida(m) com a forma como a língua se fala numa parte do território onde originariamente se formou.
domingo, 21 de março de 2021
Chumbo
Olhando para as pontuações que atribuem aos filmes, por vezes desconfio que os críticos de cinema, pura e simplesmente, não gostam de cinema.
quinta-feira, 18 de março de 2021
quarta-feira, 17 de março de 2021
Equivalência
À pergunta do jornalista sobre a ausência de processo anterior na política, Nuno Graciano retorque que tal não é correcto: o candidato do Chega à Câmara Municipal de Lisboa foi presidente (ou coisa que o valha) da associação de estudantes (ou coisa que o valha) no liceu e na universidade (ou coisa que o valha).
terça-feira, 16 de março de 2021
O Fidesz, partido de extrema-direita de Vitor Orbán, saiu do Partido Popular Europeu.
Em bom rigor, Orbán apenas se antecipou a uma provável expulsão, espoletada por alterações às regras do partido recentemente aprovadas. Ainda assim, o registo do governo húngaro não é mau: só agora saem do partido de centro-direita. E este parece um desenlace pouco dramático, já que, pelo menos em tese, o regime autocrático da Hungria - assim como dos restantes países do grupo de Visegrado - colide frontalmente com os valores democráticos da União Europeia.
A única vez que a porta de saída da UE foi mostrada a um país foi à Grécia do Syriza. É certo que também havia umas pequeníssimas questões pecuniárias envolvidas e, ao que parece, o dinheiro tem o dom de se imiscuir em muitas decisões. Ainda assim, parece haver maior tolerância europeia para países com regimes irritantes mas de direita, do que outros com regimes igualmente irritantes mas de esquerda.
sábado, 13 de março de 2021
Colado nas costas
«Somos cães a correr atrás da própria cauda, sempre à procura, longe de nós, de algo que temos a abanar nas costas. O sentido da vida é como aquela brincadeira perpetuada pelos cretinos que existem em todos os empregos e que consiste em colar um papel nas costas de um colega, com algum insulto escrito. É isso a vida, um papel colado nas costas. Andamos a fazer figuras, a perguntar-nos a que se deve a felicidade dos outros, e o segredo está colado nas nossas costas.»
Para onde vão os guarda-chuvas, Afonso Cruz
terça-feira, 9 de março de 2021
quinta-feira, 4 de março de 2021
Sequência
Na Índia, as pessoas fazem filas paquistanesas.
(Para evitar estragar a piada, vamos esquecer que, na génese da expressão não estão, aparentemente, os indianos, mas sim os índios americanos, que caminhavam uns atrás dos outros para ocultar as pegadas)
quarta-feira, 3 de março de 2021
Arbitrariedade
«The conventional word that is employed to describe tyranny is "systematic". The true essence of a dictatorship is in fact not its regularity but its unpredictability and caprice; those who live under it must never be able to relax, must never be quite sure if they have followed the rules correctly or not. (The only rule of thumb was: whatever is not compulsory is forbidden.) Thus, the ruled can always be found to be in the wrong.»
Hitch-22, Christopher Hitchens