A mão desloca-se sem pensar até ao interruptor, repete o gesto mecânico que tantas e tantas repetiu e voltou a repetir. Mas desta vez
Não foi só esta
a luz não acende como costuma, como tantas vezes fez e voltou a fazer. Apenas um brilho muito ténue que não chega para iluminar e mostrar o caminho, um desapontamento. O mesmo brilho que já apareceu antes, que já desapontou, mas que a força do hábito teima em esquecer,
Em querer esquecer,
como se a mão não soubesse que a lâmpada está fundida, já fundiu há uns dias. A mesma mão que já devia ter-se esticado e desenroscado o casquilho da lâmpada fundida e procurado outra para a substituir. E, no entanto, encontrar o bocadinho de tempo necessário para essa tarefa parece ser outra tarefa em si mesmo, uma tarefa difícil e complicada que tem o poder de evitar os sucessivos desapontamentos da mão que procura o interruptor, que se esquece por um curto momento que, desta vez,
Mais uma vez
o gesto vai ser em vão.
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