sábado, 14 de maio de 2016

Um adolescente aprisionado no corpo de um homem de meia-idade

Os posters colocados na parede chamam-me a atenção logo à entrada. São talvez uma meia dúzia de carros, espalhados por um pilar perto de uma porta, de forma algo atabalhoada. Sentamo-nos, e reparo que há mais, na secretária, no fundo do ambiente de trabalho do computador e no screen saver. De início, distraem-me da conversa, puxam-me a atenção.

A prática parece-me adolescente, faz-me lembrar os posters de bandas que também tive, em tempos, nas paredes do meu quarto. Mas, neste caso, estamos no local de trabalho e à minha frente está alguém que já deve ter passado a meia-idade em alguns anos. E isso traduz-se nas viaturas homenageadas. Porque não se trata de super-carros - Ferraris, Porsches, Bentleys ou Aston Martins, daqueles com que se fantasia por serem inatingíveis. Da mesma forma que o poster dos Metallica, do Cristiano Ronaldo ou da Pamela Anderson.

São BMWs, Audis e Mercedes. Não as versões mais baratas - desportivos, coupés, relativamente vistosos mas, no limite, algo que sinto que não está fora do seu alcance e ao qual pode verdadeiramente almejar. Imagino-o ao volante de um descapotável, óculos escuros, casaco de cabedal e flausina no banco do pendura. É isso: uma prática adolescente com motivos de meia-idade.

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