De repente, o gato salta-te para o colo, como me costumava fazer a mim. Aliás, a qualquer pessoa. Com um aviso casual, um miar fortuito emitido instantes antes de dar o impulso no chão e aterrar nas tuas pernas. Quer festas, roça-se em ti, ouve-se o ronrom. Encolhes-te toda, soltas um som ridículo. Tens pouca experiência com animais, as tuas mãos ficam perdidas sem saber o que fazer, sinto-te ficar tensa, quase hirta. Levanto-me e agarro o gato, tiro-o de cima de ti, ponho-o no meu colo.
Explico-te como funcionam os gatos. Como se tivessem um manual de instruções e eu te estivesse a pôr a par dos botões, onde e quando carregar. O que fazer. A certa altura estamos a falar da personalidade dos gatos – da independência, da fleuma. Dizes que os gatos são como as mulheres quando passam as mensagens por gestos e silêncios, intenções. O que eu te tentei explicar – sem sucesso, reconheço-o agora – é que não é só com as mulheres que eles são parecidos.
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