domingo, 17 de novembro de 2013

Anti-pró

«Às vezes prefere-se o moderno anti, sufixo nacionalmente adorado com o qual os portugueses se definem: é-se anti-comunista e anti-nuclear e anti-aborto e anti-gamente ainda era pior. Pelo contrário, o sufixo oposto, pró é praticamente tabu. Não se ouve dizer que se é pró-comunista e, de um modo geral, só se é «pró» em relação ao menino e à menina, ex: «É pró menino e prá menina».

Pior ainda: pró é sobretudo usado para mandar pessoas de que não se gosta para um sítio malcriado, e as palavras que começam por ela são geralmente pejorativas: nenhum português quer ser proxeneta, prostituta ou professional. As palavras começadas por anti, em contrapartida, são autênticas coqueluches: tudo é antítese de tudo, e a anti-poesia e o anti-cinema suscitam o interesse geral.»

A causa das coisas, Miguel Esteves Cardoso

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