Os olhos começam a pesar-me. Luto para chegar ao próximo sítio do livro onde posso parar. Marco a página, pouso o livro. Pego nos auscultadores, coloco nos ouvidos, fecho os olhos. Não sei quanto tempo terá passado quando, de repente, ouço uma voz. Autoritária, quase ameaçadora. Vem em crescendo e acaba por me fazer acordar do sono leve. À minha frente está o tipo que vinha na mesma divisória, a falar comigo. Tiro os auscultadores mas isso não me ajuda a entendê-lo: fala comigo em eslovaco. Digo-lhe
I can’t understand you
E ele muda para um inglês pobre e entrecortado. Diz-me qualquer coisa sobre dormir e o comboio parar e respondo qualquer outra coisa sem grande sentido – estará a dizer-me para não dormir?
No, you don’t undertand me.
(pois não, pois não...)
Repete a mesma lengalenga, desta vez acrescenta uns sons quando descreve o comboio a parar que fazem lembrar naves espaciais. E finalmente percebo e digo-lhe que sim, parámos numa estação enquanto ele dormiu, estava eu a ler o meu livro. Larga um suspiro raivoso, vira costas e faz um gesto brusco de quem vai dar um murro na porta mas aguenta o impulso ao último instante. Sai disparado. Volto pôr os auscultadores nos ouvidos. Ele regressa passados uns minutos, senta-se encolhido, a falar (praguejar?) sozinho. Subo o volume.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
O movimento e o som do comboio embalam-me.
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