segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Elefante

Estou a pôr as bananas no saco de plástico transparente. Olho para a placa onde está indicado preço; olho apenas porque quero ver a referência para em seguida introduzir na balança. E começo a repeti-la para mim mesmo mentalmente, começo a repetir o número de três dígitos (cento e qualquer coisa) porque tenho medo de me esquecer até chegar à balança. Vou com o número na cabeça naquele pequeno trajecto, levo-o comigo – tenho medo de desatar a dizê-lo alto inconscientemente – evito os carrinhos de outras pessoas, manobro o meu por entre o espaço que me parece exíguo. Deixo cavalheiristicamente uma senhora passar-me à frente num mini-cruzamento e só depois me apercebo do erro estratégico: ela rouba-me a balança diante dos meus olhos. O número, a referência para pesar as bananas sempre a correr em loop na minha cabeça – e continuo a rezar para que não o esteja a dizer alto – e começo a ir em direcção à outra balança. Imagino todas as outras pessoas a repetir mecanicamente números diferentes nas cabeças delas, números de pêssegos, maçãs, tomates, melões; imagino-os todos a apressarem-se para as balanças com medo de se esquecerem. Chego à balança, pouso as bananas na chapa metálica e, quando vou digitar o número, não o consigo reproduzir.

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