quarta-feira, 31 de março de 2010
Concorrência
Ontem, na RTP, a Judite de Sousa entrevistava o Pinto da Costa e, na SIC, o Miguel Sousa Tavares entrevistava o Luís Filipe Vieira. A TVI ainda tentou convencer o José Eduardo Bettencourt.
terça-feira, 30 de março de 2010
Up for grabs
Sempre – desde que me lembro – gostei de coisas verdes, tipo couves e brócolos e nabiças e espinafres e alface e lombardo. Também nunca não gostei de sopa. Há poucas coisas que, de facto não gosto. Curiosamente, a maioria das vezes que torço o nariz é devido a doces. Especialmente aqueles doces que são muito doces: enjoam-me. Fios de ovos, a maioria dos doces conventuais, baba de camelo. Até a mousse de chocolate, e logo eu que gosto imenso de chocolate. Tirando isso, não morro de amores por nabo. E iscas não consigo gostar.
Fui aprendendo a gostar de algumas coisas pelo caminho. Por exemplo, favas. Com vinho tinto. Embirrava quando era miúdo e agora a perspectiva de favas guisadas para um almoço de fim-de-semana é agradável. Até o sushi, cujo cheirinho a Doca Pesca era suficiente para me demover, agora me parece óptimo.
De maneira que gostava de ter mais manias a comer. Ser pisco. Só assim uma vez por outra. Para dar um certo ar elevado e chique. As pessoas elevadas e chiques têm sempre umas quantas esquisitices. Não gosto disto porque não sei quê. Coisas verdes, blarg. Sopa, que chatice. Ai que porcaria.
Fui aprendendo a gostar de algumas coisas pelo caminho. Por exemplo, favas. Com vinho tinto. Embirrava quando era miúdo e agora a perspectiva de favas guisadas para um almoço de fim-de-semana é agradável. Até o sushi, cujo cheirinho a Doca Pesca era suficiente para me demover, agora me parece óptimo.
De maneira que gostava de ter mais manias a comer. Ser pisco. Só assim uma vez por outra. Para dar um certo ar elevado e chique. As pessoas elevadas e chiques têm sempre umas quantas esquisitices. Não gosto disto porque não sei quê. Coisas verdes, blarg. Sopa, que chatice. Ai que porcaria.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Ainda sobre o Estoril Sol
E aquela conversa toda na altura para vender o projecto do novo empreendimento que ficaria no sítio onde estava o anterior mamarracho (e que, curiosamente, é o metro quadrado mais caro do país). No outro dia, ao passar de carro, ocorreu-me a melhor definição do que são aqueles três pinchavelhos de cimento virados para o mar: são três blocos de peças de Tetris. Mas os três blocos mais caros do país. E pensar que um dia, naquele mesmo sítio, havia um mamarracho, hein?
domingo, 28 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
sexta-feira, 26 de março de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
Armação
As imagens de São Bartolomeu no carro eram coisa do passado. Ao invés, escrevia bequadros para evitar os acidentes.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Lullaby
Os soporíferos e anestésicos são redundantes. Para o mesmo fim – e com a vantagem adicional de controlar as alergias – existem os anti-histamínicos.
terça-feira, 23 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
domingo, 21 de março de 2010
Bridge
O som compassado do comboio. Cada vez mais devagar, cada vez mais lento, a aproximar-se da estação. Às vezes, também o som da buzina, uma duas vezes, a entrecortar o som compassado das rodas metálicas a trilhar o aço do ferro. Um caminho de ferro. Cada vez mais devagar, cada vez mais lento, o compasso do som compassado vai aumentando de duração à medida que as rodas metálicas abrandam, o tempo abranda, tudo abranda. Cada vez mais devagar. Cada vez mais lento. Até que o som compassado do comboio pára.
sábado, 20 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
quinta-feira, 18 de março de 2010
Terapia para grupos
Inúmeros convites para pertencer a grupos do Facebook. Todos os dias. Desde causas como apoios partidários até contra circuncisão feminina. De apoio a clubes de futebol. Ou até coisas sem a mínima ponta por onde se lhe pegue. Mas muitos, imensos, uma enchente. De tal forma que também a mim me apetece abrir um destes grupos. E até já tenho um tema alinhavado. Um grupo contra os grupos do Facebook.
terça-feira, 16 de março de 2010
Relatividade
Deixar a secretária quando ainda existe luz solar. Mais cedo, é certo. Mas também porque os dias estão a ficar maiores.
segunda-feira, 15 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
Vidros rachados
Um fim-de-semana a cantar modos da menor melódica. É duro. Como o ouvido e as cordas vocais que teimam em não ouvir e cuspir quartas aumentadas e, por arrasto, os modos que as têm. Pensar nos Simpsons, é o remédio chapa quatro. Já o ouvi, já o disse a outros. Ainda não o consigo aplicar decentemente. Há qualquer coisa de tão forte na atracção da quarta perfeita que está mesmo a pedir que seja esta a nota entoada em detrimento da aumentada. Isto, ao mesmo tempo que há uma repulsa, uma quase dor física em cantar esta última. Isto tudo por condicionamento, é verdade. Anos e anos a escalas maiores, direitinhas e bem comportadas, assim como cadências bonitinhas e resoluções óbvias. Este passado é como um móvel antigo que não se consegue facilmente arrastar, de pesado que é.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Guardas tudo para ti, nunca dizes nada, nunca te expões, nunca dizes as coisas que verdadeiramente importam. Deixas-me especado, desconcertado, a fazer um esforço para tentar interpretar, perceber, depreender as coisas por entre o teu silêncio. Se te pergunto
Nada
E eu que detesto interpretar, porque que carga de água não dizes logo o que queres e paras com as charadas, não quero ter que te interpretar, que te perceber se não me dás nada, se não te expões, se não me mostras, se não me dizes as coisas que verdadeiramente importam e não tudo o resto que dizes, insignificante, insípido, desinteressante. E eu insisto
Nada
As coisas que verdadeiramente interessam. Dessas não dizes nada, não abres a tua boca para dizer seja o que for sobre isso e eu sei que queres falar, sei que queres tocar em tudo isso, sei que queres mandar tudo isso cá para fora mas não mandas, não soltas, não consegues soltar, não consegues imaginar-te a falar sobre as coisas verdadeiramente importantes. Escrito na tua cara, no teu olhar e
Nada
Dou voltas à cabeça, como nada se está escrito na tua cara, como nada se se está mesmo a ver que estás a rebentar com coisas para dizer, que estás rebentar de tanto silêncio junto, acumulado, silêncio podre, fétido de estagnado na tua boca que não se abre. Guardas tudo. Nunca dizes nada. As coisas que verdadeiramente importam.
E eu que detesto interpretar.
Nada
E eu que detesto interpretar, porque que carga de água não dizes logo o que queres e paras com as charadas, não quero ter que te interpretar, que te perceber se não me dás nada, se não te expões, se não me mostras, se não me dizes as coisas que verdadeiramente importam e não tudo o resto que dizes, insignificante, insípido, desinteressante. E eu insisto
Nada
As coisas que verdadeiramente interessam. Dessas não dizes nada, não abres a tua boca para dizer seja o que for sobre isso e eu sei que queres falar, sei que queres tocar em tudo isso, sei que queres mandar tudo isso cá para fora mas não mandas, não soltas, não consegues soltar, não consegues imaginar-te a falar sobre as coisas verdadeiramente importantes. Escrito na tua cara, no teu olhar e
Nada
Dou voltas à cabeça, como nada se está escrito na tua cara, como nada se se está mesmo a ver que estás a rebentar com coisas para dizer, que estás rebentar de tanto silêncio junto, acumulado, silêncio podre, fétido de estagnado na tua boca que não se abre. Guardas tudo. Nunca dizes nada. As coisas que verdadeiramente importam.
E eu que detesto interpretar.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Up tempo
Tirar-te de mim. Lavar-te de mim. Retirar o cheiro impregnado.
terça-feira, 9 de março de 2010
segunda-feira, 8 de março de 2010
domingo, 7 de março de 2010
Hang me out to dry
O cheiro fresco da roupa lavada. Doce. Acabada de lavar. Aparece assim que a porta se abre, depois das três voltas da fechadura. Percorre a casa toda. A humidade, não pára de chover e a roupa não seca. Passas os dias a queixar-te da humidade, que não pára de chover e que a roupa não seca. A casa toda a cheirar a roupa lavada, constantemente. Mudas o posicionamento, espalhas roupa pela cozinha toda. A frincha na janela para entrar ar. A corrente ajuda a secar. Passas os dias a tocar na roupa pendurada para ver se já secou um bocadinho, a mudar a posição em que está estendida, a estendê-la noutros sítios para ver se seca mais depressa, a abrir a frincha da janela para deixar o ar entrar. E a roupa teima em não secar, a casa toda a cheirar àquele cheiro fresco de roupa lavada, acabada de lavar. A humidade, não pára de chover.
sábado, 6 de março de 2010
Acordo
O Expresso já adoptou, para algumas notícias, o novo acordo ortográfico. É horrível. Começo a ler e, de repente, dou por mim a entoar as palavras com sotaque brasileiro porque não consigo identificá-las, escritas daquela forma, com o meu sotaque lisboeta. Depois fico a pensar. No tempo da minha avó, mãe escrevia-se mãi, assim como outras palavras tinham grafias diferentes. Quão difícil terá sido para ela adaptar-se a essa mudança? Terá sido tão brusca quanto esta parece ser? Terá causado tanta discussão e celeuma?
quinta-feira, 4 de março de 2010
Horn
Preparavas-te um bocadinho antes. Fazias o olhar sério e só depois apitavas a buzina. Normalmente eram duas buzinadelas e não uma: duas resulta melhor porque parece mesmo que estás a chamar alguém e não a buzinar porque algum nabo fez um disparate à tua frente. E depois a mão, a mão no ar a cumprimentar, a dizer adeus àqueles estranhos que não faziam ideia quem éramos. Com ar convincente. Vão ficar a pensar “quem era…?”. E dizias este último “quem era…?” com um falsete agudo e fininho, com um volume elevado que quase me trespassava os tímpanos.
quarta-feira, 3 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
A frigideira cheia de azeite a borbulhar, a salpicar o fogão sujo da cozinha pequena. O calor pegajoso, o suor a escorrer pelas minhas costas, os cubos de gelo que tirávamos do congelador. O rádio a tocar sempre a mesma música, a inundar a sala de acordes e de versos, o barulho dos carros lá em baixo na avenida, à distância de um oitavo – seria o oitavo? – andar. O sofá comprido, os pés em cima da mesa de café, o soalho de madeira a estalar. O jornal em cima da mesa, o janelão que dava para a varanda inclinada. Oitavo andar. Detesto alturas, detesto qualquer varanda, detestava ainda mais aquela varanda do que as outras porque era inclinada, parecia que ia cair. O barulho dos carros lá em baixo, o chão a aproximar-se, o barulho do azeite a borbulhar, a salpicar o fogão, o lume estava forte. A cozinha pequena, o rádio a cuspir acordes e versos pela cozinha, pela sala de soalho de madeira, a estalar com o calor pegajoso. Os pés em cima da mesa de café, sentados no sofá com o jornal nas mãos e a varanda ali ao lado. Mesmo ao lado. Inclinada, não conseguia pôr mais do que um pé em cima daquela língua de cimento que se projectava no ar. Tu debruçada a espreitar para a rua, os carros lá em baixo a fazer barulho ao atravessar a avenida e eu sem conseguir sequer aproximar-me, sem conseguir sequer imaginar-me naquele bocado de cimento que parece que a qualquer momento se vai soltar do oitavo – seria o oitavo – andar e vai acabar estatelado lá em baixo ao pé dos carros que cruzam a avenida. De maneira que fico cá dentro, não saio da sala banhada pelos acordes do rádio, o barulho do azeite a borbulhar na frigideira quente, o calor pegajoso, o jornal e os pés em cima da mesa de café. Não saio do sofá, não me aproximo da varanda, não quero saber do que se passa lá em baixo na rua, na avenida. Detesto varandas.
segunda-feira, 1 de março de 2010
É como se quisesse esticar os braços e eles não mexessem
É como se quisesse andar e não saísse do mesmo sítio
É como se quisesse gritar e não se ouvisse
É como se quisesse dormir e o sono não viesse
É como se quisesse acordar e o sonho não acabasse
É como se quisesse parar e não conseguisse estar quieto
É como se quisesse estar quieto e não conseguisse parar
É como se quisesse calar-me e a boca não se fechasse
É como se quisesse falar e a boca não abrisse
É como se estivesse sem estar
É como se fosse sem ser
É como se quisesse sem querer.
É como se quisesse andar e não saísse do mesmo sítio
É como se quisesse gritar e não se ouvisse
É como se quisesse dormir e o sono não viesse
É como se quisesse acordar e o sonho não acabasse
É como se quisesse parar e não conseguisse estar quieto
É como se quisesse estar quieto e não conseguisse parar
É como se quisesse calar-me e a boca não se fechasse
É como se quisesse falar e a boca não abrisse
É como se estivesse sem estar
É como se fosse sem ser
É como se quisesse sem querer.
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