A expectativa em relação à chegada ao aeroporto do Dubai já vem influenciada: voamos na Emirates, uma companhia que oferece a qualidade de serviço que a TAP e outras companhias ocidentais ofereciam há dez, quinze anos, quando o transporte aéreo estava menos difundido e massificado. Não só pelo facto de os aparelhos serem novos e cheios de gadgets – o ecran pessoal para ver filmes ou séries de televisão, jogar jogos, acompanhar as gordas do serviço noticioso da BBC, fazer telefonemas para outro passageiro, e ainda alguns extras não gratuitos, como enviar e receber e-mails ou fazer telefonemas para terra – também pelas refeições, por exemplo. Ainda há um menu que permite a escolha entre dois pratos principais, não há limite para bebidas alcoólicas e, pasme-se, talheres de metal. Aqueles que não me lembro de ver num voo há muito muito tempo. E ainda os jornais e revistas, disponíveis para todos os passageiros. Noutras palavras, a Emirates oferece um serviço de executiva a preço de económica. E um preço de económica bastante económico.
Assim que, aterrar com num aeroporto enorme, descer umas escadas rolantes muito altas, ladeando um curso de água a imitar uma cascata e chegar a um hall de imigração tão amplo, não é nada de estranhar. É o primeiro aeroporto onde vi chuveiros, para quem estiver há algum tempo em viagem e tiver algum tempo morto entre ligações.
Se na Islândia não se sente o impacto da bancarrota senão na descida dos preços de níveis que são uma autêntica extorsão para algo mais normal, no Dubai a iminência de uma situação de insolvência contrasta com a opulência. O metro de superfície afasta-se do aeroporto e caminha em direcção à zona antiga da cidade. Os barcos típicos estão ancorados ao longo de espécie de enseada com edifícios modernos, espelhados a cortar a linha do horizonte. Novamente a bordo do metro, percebo melhor o que o Dubai é: duas avenidas que rasgam o deserto, dois segmentos de recta com quatro, cinco faixas em cada sentido, percorridos por carros de alta cilindrada, ladeadas por edifícios altos, arranha-céus, edifícios em construção, gruas, guindastes. Algures, o edifício mais alto do mundo, em forma de agulha, com mais de oitocentos metros. Mais à frente, a pista de ski, já a chegar ao enorme centro comercial.
Saímos a porta para a rua, não sem antes ter de perguntar ao segurança. O tempo está contado, o autocarro pode ser uma má opção, fazemos negócio com um taxista. Tem uma carrinha onde pode sentar os seis. Por quarenta dirhams, garante que nos leva para a segunda avenida, que percorre os quilómetros mais próximo da água do mar, e nos leva à palmeira, a Jumeirah, terreno que foi ganho às águas muito azuis daquele mar. Percorremos o caminho até ao final da palmeira, onde um hotel enorme se ergue virado para o mar. Damos a volta, vamos no sentido inverso, vamos sair. Dali ao hotel mais luxuoso do mundo é um tiro.
O Burj Al Arab e as suas sete estrelas só se deixam ver ao longe. O caminho de acesso está protegido por guardas, só autocarros do próprio hotel e Lamborghinis amarelos cruzam os portões. Turistas espreitam e tiram fotografias à distância debaixo do calor abrasador. Depois a praia. Só para espreitar. Repleta de indianos, paquistaneses e demais povos da imensa comunidade imigrante, que tomam banho, jogam à bola dentro de água, mas sempre relativamente vestidos. Não, a praia não é nada convidativa. Pelo menos aquela, que não é privativa. Hordas de homens (eventualmente privados), arrumados em fila, babam-se para o espectáculo de duas turistas em biquíni. Resultado: fotografia, meia-volta e volver.
O Dubai evoca fortemente Las Vegas, o deserto, o Strip e os hotéis doidos. Cidades inconsequentes, uma infantilidade. Não passam de uma cambada de miúdos crescidos com dinheiro a mais para gastar. E é por isso que, pese embora a curta estadia, regressar ao Dubai não parece ser uma decisão fácil. Já voltar a voar na Emirates e tomar um duche no aeroporto, bom, isso é outra conversa.
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Já sabes, não deixo passar uma incólume.
ResponderEliminarMeramente um reparo no tema dos chuveiros; há mais aeroportos que oferecem o dito serviço, embora grande parte das vezes seja no lounge, e por isso reservado aos passageiros que voam em executiva ou que tenham cartões de milhas douradinhos... Em Londres e Amesterdão sei que há nos lounges, e Amesterdão julgo que tem chuveiros também fora do lounge, ou seja, para a generalidade dos passageiros. Em todo o caso, como dizes, o serviço oferecido à generalidade dos passageiros é raro. (e olha que depois de um transatlântico, enquanto se espera pelo voo de ligação, o duche sabe que nem ginjas...)
E afinal como é, recomendas a visita ou não???
Eeeerrrr, eu por defeito recomendo sempre qualquer visita nem que seja, no mínimo, para um tipo ver como é in loco. Só se for mesmo mesmo muito mau é que digo que não. Agora, o Dubai não é assim uma coisa com a qual eu quisesse perder muito tempo. Deu para ter um cheirinho, uma panorâmica e isso chegou-me.
ResponderEliminarO Schipol tem chuveiros para o povo?? Não fazia ideia. Só conheço a bela da chaise-longue.
(Tivemos umas 30 e tal, 40 horas em trânsito, em ambos os sentidos. E a passar por sítios fresquinhos, como, por exemplo, zonas desérticas. Nem tu fazes ideia do prazer que me teria dado ter tomado uma rica banhoca enquanto estava em viagem...!)