«Ai estou tão só, não se ouve ninguém
e o pior está para vir
depois do almoço
todos os que restam vão partir
ai estou tão infeliz
com esta pasmaceira
até vim de calças de ganga
pela segunda vez na minha carreira
ai que solidão
o que vale é que logo para compensar
vou estar espremida
no meio da multidão
Ai o que me deu para vir na véspera de 2010
antes estivesse em casa
a gramar o Fernando a jogar PES :(»
Ode escrita pela S. (a quem educamente pedi a permissão para aqui reproduzir) que, tal como eu, trabalha no dia 31 de Dezembro.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Trapos de língua #19
E ainda há forma como se dizem as coisas. Que, por experiência, vamos adquirindo. Muitas vezes sem percepção. À boa moda portuguesa, “façam silêncio” é uma expressão perfeitamente aceitável; no entanto, ninguém no seu perfeito juízo se atreveria a dizer “make silence”. Também não diríamos “fazer os pratos” – a não ser que, por exemplo, trabalhássemos na Marinha Grande – mas os ingleses têm o “do the dishes”. Uma das expressões mais giras que temos foi-me explicada por um alemão: “limpar o pó”. O que é que é limpar o pó? Vocês limpam os grãozinhos de pó? O pó tira-se e manda-se fora, não se limpa. E, de facto, “Staub wischen” é exactamente isso.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Kill off all my demons and my angels might die too
Progenitora exímia nas artes de bem progenitar, a minha mãe cedo me aconselhou a não falar com estranhos. Hoje, volvidos vinte e tal anos, dou por mim a ter que partilhar umas palavras com gente muito, mas muito estranha. E que, não contente com a estranheza, mistura nisso um certo toque de aborrecimento e mentecaptidão. Como sou banana e tenho dificuldade em frontalmente me desenvencilhar, faço uso da minha cobardia para resolver a questão:
“Desculpe, mas tenho mesmo que ir. É que a minha mãe não deixa, sabe…”
“Desculpe, mas tenho mesmo que ir. É que a minha mãe não deixa, sabe…”
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Do início até ao bop, nas palavras do Kerouac
«Once there was Louis Armstrong blowing his beautiful top in the muds of New Orleans; before him the mad musicians who had paraded on official days and broke up their Sousa marches into ragtime. Then there was swing, and Roy Eldridge, vigorous and virile, blasting the horn for everything it had in waves of power and logic and subtlety – leaning to it with glittering eyes and a lovely smile and sending it out broadcast to rock the jazz world. Then had come Charlie Parker, a kid in his mother’s woodshed in Kansas City, blowing his taped-up alto among the logs, practicing on rainy days, coming out to watch the old swinging Basie and Benny Moten band that had Hot Lips Page and the rest – Charlie Parker leaving home and coming to Harlem, and meeting mad Thelonius Mnk and madder Gillespie – Charlie Parker in his early days when he was flipped and walked around in a circle while playing. Somewhat younger than Lester Young, also from KC, that gloomy, saintly goof in whom the history of jazz was wrapped; for when he held his horn high and horizontal from his mouth he blew the greatest; and as his hair grew longer and he got lazier and stretched-out, his horn came down halfway; till it finally fell all the way and today as he wears his thick-soiled shoes so that he can’t feel the sidewalks of life his horn is held weakly against his chest, and he blows cool and easy getout phrases. Here were the children of the American bop night. »
On the road, Jack Kerouac
On the road, Jack Kerouac
domingo, 27 de dezembro de 2009
Trapos de língua #18
As línguas germânicas têm um conjunto mais vasto de significados que os das línguas latinas. Talvez seja esta a característica que torna o inglês numa língua tão prática. Vamos a exemplos. A junção do “over” com o “sleep” na palavra inglesa “oversleep” resulta num significado que não possuímos em português: “deixei-me dormir” será, talvez, a expressão que mais usamos para estes casos, mas é algo que também pode ser dito na simples situação em que nos deixamos dormir. O “outplay” é fabuloso. Numa palavra, explicamos que dado jogador (ou equipa) jogou mais ou melhor que o adversário. Muitas vezes o “outplay” acaba em “outclass”: quando o tal jogador “outplay” em demasia o adversário e ganha com uma margem confortável, então entramos no campo do “outclass”. Outro que me apraz muito é o “clockwise”, que numa palavra arruma a um canto a expressão “no sentido dos ponteiros do relógio”. O “verpassen” alemão é interessante. Nós dizemos “perder o autocarro” o que pode ser estranho porque dá a entender que o autocarro, propriedade nossa, desapareceu do nosso alcance, não sabemos onde o pusemos. Lá está, os alemães têm esta palavra que traduz o verdadeiro significado de chegar demasiado tarde à paragem, depois de o transporte já ter passado.
Normalmente associa-se a elegância às línguas que soam bem, como italiano ou francês. Pois eu acho que esta lógica, esta maleabilidade e adaptabilidade das línguas germânicas é uma demonstração de elegância à prova de bala.
Normalmente associa-se a elegância às línguas que soam bem, como italiano ou francês. Pois eu acho que esta lógica, esta maleabilidade e adaptabilidade das línguas germânicas é uma demonstração de elegância à prova de bala.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Lover Man
«My mind was filled with that Great song ‘Lover Man’ as Billie Holliday signs it; I had my own concert in the bushes. ‘Someday we’ll meet, and you’ll dry all my tears, and whisper sweet, little things in my ear, hugging and a-kissing, oh what we’ve been missing, Lover Man, oh where can you be… ‘ It’s not the words so much a as the great harmonic tune and the way Billie sings it, like a woman stroking her man’s hair in soft lamplight.»
On the road, Jack Kerouac
On the road, Jack Kerouac
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Trapos de língua #17
Não é que as formas simples (leia-se, sem verbo auxiliar) de passado não existam em francês e alemão. Elas existem mas não muito empregues na oralidade. Estão reservadas sobretudo para a escrita e dão um carácter formalismo ao discurso, sobretudo no caso do francês. Na prática, as construções do tipo “j’ai mangé” ou “ich habe gegessen” são regra. Não é comum ver por aí gente a dizer “je mangeais” ou “ich aβ”. O mesmo existe no espanhol, embora de forma ligeiramente diferente. A construção com auxiliar refere-se a um tempo que está mais próximo enquanto a versão sem auxiliar usa-se para acções mais distantes e não há nenhuma relação com níveis de formalismo diferentes. Por exemplo, “hoy he comido” mas “ayer comí”, “esta semana he comido” mas “la semana pasada comí”, “este año he comido” mas “el año pasado comí”. No entanto, estamos sempre a falar de acções isoladas que decorreram e terminaram no passado.
Em português, nenhuma destas lógicas existe. Não há qualquer diferenciamento em termos do registo de linguagem (mais formal, menos formal). Há apenas alguma noção da proximidade da acção. Se disser “Eu comi” refiro-me a uma acção isolada e terminada. Se disser “Eu tenho comido” então estarei a: dar uma noção de que a acção decorreu recentemente; introduzir um carácter de repetição, como se acrescentasse “nos últimos tempos” ou “ultimamente” à frase. Para além disso, esta acção poderá prolongar-se para o futuro, como se se tratasse de um hábito recém-adquirido.
Em português, nenhuma destas lógicas existe. Não há qualquer diferenciamento em termos do registo de linguagem (mais formal, menos formal). Há apenas alguma noção da proximidade da acção. Se disser “Eu comi” refiro-me a uma acção isolada e terminada. Se disser “Eu tenho comido” então estarei a: dar uma noção de que a acção decorreu recentemente; introduzir um carácter de repetição, como se acrescentasse “nos últimos tempos” ou “ultimamente” à frase. Para além disso, esta acção poderá prolongar-se para o futuro, como se se tratasse de um hábito recém-adquirido.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Seasons greetings
Cada vez me cansa mais ouvir. Enfada-me. Aborrece-me de morte. Cinco minutos de uma apresentação e estou a bocejar. Reuniões. Sobretudo se, à mesa, estão representantes daquele tipo de criaturas que adoram, deliram com a possibilidade de se ouvirem a si próprias a falar. Não aguento, nunca aguentei. A diferença, agora, é que não me dou ao trabalho de fingir que não aguento. Divago, apago. Desligo.
Sou um péssimo conversador de circunstância. Daquelas com muita chacha. Smalltalk. Encher chouriços. Nunca sei o que dizer, é confrangedor. As tentativas, mesmo que esforçadas, acabam quase sempre silêncios incómodos. Até mal-entendidos. E com pessoas a pensar que eu não jogo com o baralho todo. Suspiro quando a vítima se afasta e fico novamente sozinho. Escondo-me, refugio-me para que não me encontrem e não tenha que voltar a fazer o esforço de encetar um diálogo irrelevante. E isso cansa. E muito.
Sou um péssimo conversador de circunstância. Daquelas com muita chacha. Smalltalk. Encher chouriços. Nunca sei o que dizer, é confrangedor. As tentativas, mesmo que esforçadas, acabam quase sempre silêncios incómodos. Até mal-entendidos. E com pessoas a pensar que eu não jogo com o baralho todo. Suspiro quando a vítima se afasta e fico novamente sozinho. Escondo-me, refugio-me para que não me encontrem e não tenha que voltar a fazer o esforço de encetar um diálogo irrelevante. E isso cansa. E muito.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Soma não nula
Ou ganhamos os dois ou perdemos os dois.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Começámos por avistar as primeiras leoas a caminhar e só depois vimos as duas mais jovens, de volta do que parece ser uma zebra.
Na verdade, é apenas uma pele de zebra sem nada que possam verdadeiramente comer. De repente, uma delas puxa uma das pontas daquele pedaço ressequido e consegue afastar a outra, que fica com um pedaço mais pequeno. O John diz-nos que estão tão fracas e cansadas que nem sequer lutam pelos despojos.
Nos últimos oito meses choveu apenas em duas ocasiões. A seca foi significativa e a ausência de pasto afugentou ou, pior, matou os animais dos quais as leoas se costumam alimentar. Estão agora magras, escanzeladas e o facto de estarem a debater-se por uma pele de zebra é um reflexo do desespero.
Nos últimos oito meses choveu apenas em duas ocasiões. A seca foi significativa e a ausência de pasto afugentou ou, pior, matou os animais dos quais as leoas se costumam alimentar. Estão agora magras, escanzeladas e o facto de estarem a debater-se por uma pele de zebra é um reflexo do desespero.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Girafa fantasma
Martin não se sentava nos bancos. Tinha um lugar só dele, num estrado de metal que separa a zona do condutor e do pendura do resto do veículo. Mas também tinha outro: no tejadilho, mesmo à frente, neste caso, por cima do condutor. E foi assim que acabámos fora da cabine, no topo do veículo, ao final do dia, uma perspectiva inesperada, com o sol a desaparecer. Sempre muito devagar, os solavancos seriam insuportáveis com o rabo de encontro ao metal rijo.
As fortes chuvadas fizeram o dia pouco promissor para avistar os bichos. De repente, ao fundo, algumas girafas. Curiosas, estacam a olhar para nós, animal ou objecto estranho. Aproximamo-nos. Mas não muito, não queremos vê-las, assustadas, a virar costas e desatar a correr daquela forma escangalhada e desengonçada como correm. Àquela distância, o flash engana a máquina e a bicha de pescoço comprido sai com este aspecto para o visor:
Mostro ao Martin que, tal como as girafas corredoras, se escangalha, aqui a rir, com os seus dentes branquíssimos. Quando recupera a fala, diz-me:
“It looks like a ghost!”.
As fortes chuvadas fizeram o dia pouco promissor para avistar os bichos. De repente, ao fundo, algumas girafas. Curiosas, estacam a olhar para nós, animal ou objecto estranho. Aproximamo-nos. Mas não muito, não queremos vê-las, assustadas, a virar costas e desatar a correr daquela forma escangalhada e desengonçada como correm. Àquela distância, o flash engana a máquina e a bicha de pescoço comprido sai com este aspecto para o visor:
Mostro ao Martin que, tal como as girafas corredoras, se escangalha, aqui a rir, com os seus dentes branquíssimos. Quando recupera a fala, diz-me:
“It looks like a ghost!”.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Zebralo ou Cavalebra.
Cavalo mais burro dá mula. Cavalo mais zebra dá nisto. Faz lembrar a história da galinha que andou a curtir com o Galo de Barcelos e depois acabou a pôr ovos da Páscoa. Enfim.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Tínhamos acabado de regressar ao jipe
A única vez que saímos e pisámos o chão em Masai Mara foi para ver mais de perto uns hipopótamos, ou melhor, uma parte da cabeça de alguns que estavam a banhos num curso de água. Seguimos novamente o trilho, atentos às árvores, aos arbustos. De repente, uma leoa foge e esconde-se na vegetação. Deixa para trás uma carcaça de um antílope, perto de trilho de terra. Estamos muito perto e ela permanece escondida. Olha-nos fixamente. É estranho: todos os leões que vimos até agora não têm o mínimo pudor em relação a seres humanos, agem como se não estivessem lá. Aliás, é verdadeiramente desconcertante o desinteresse, o desprezo deles. Até o John está perplexo: “why is she hidding?”. Continua a espreitar por entre as folhas e os ramos, mas não se atreve a aproximar do repasto novamente. Resolvemos arrancar e deixá-la comer em paz.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Masai Mara - leopardo
Os leopardos são o oposto dos leões. Para além de terem uma vida relativamente solitária – tipicamente, quando se avista mais do que um, ou se trata de um casal, ou da fêmea com as crias – são também bastante recatados. “Very shy”. Por isso, quando surge um deitado na vegetação perto de um curso de água, a agitação no interior dos vários jipes repletos de mirones é intensa. Máquinas fotográficas disparam continuamente para o animal que olha para aquele circo com uns olhos extremamente desconfiados. De repente, um segundo animal irrompe por entre a vegetação na margem oposta, conseguimos vê-lo a correr, a atravessar de arbusto em arbusto, até finalmente se esconder novamente. O primeiro, mais perto de nós, levantou-se agora e, delicadamente, vira-nos as costas para se debruçar a beber água de uma poça. O Masai do acampamento que nesse dia nos acompanhou olha-nos com uma cara muito séria: “you are very lucky…”. Muito boa gente não chega sequer a ver um destes gatos.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
John está à nossa espera no hall do hotel em Nairobi.
Apresenta-se e pergunta-nos “ready to go to Masai Mara?” enquanto nos cumprimenta. A sua missão é, literalmente, andar connosco ao colo durante sete dias, por vários locais do Quénia. É um homem extremamente reservado, taciturno, lacónico; exactamente o oposto da maioria dos quenianos com os quais nos cruzamos, extrovertidos, amistosos. John senta-se ao volante do Land Cruiser e conduz calado. Horas sem abrir a boca. A espaços abre a boca e solta um inglês difícil de perceber, claramente menos confortável que o swahili, para nos dar alguma explicação sobre um animal ou sobre o sítio onde estamos a passar. Tirando isso, só lhe ouvimos a voz sumida para nos falar dos problemas de corrupção e de planeamento do seu país.
Guia rápido, agitadamente, intempestivamente. Ultrapassa ostensivamente quem se coloca à sua frente. O jipe sacode, salta, derrapa ao sabor das estradas esburacadas, dos caminhos, dos trilhos, da areia, da lama. Às vezes só com uma mão no volante, enquanto a outra se entretém com o telemóvel ou com o termos (de café…?). Mas uma coisa é certa: ele está sempre calmo. Muito calmo. Mesmo quando encosta o veículo à berma e, sem soltar uma palavra, salta do jipe para se esconder atrás do vidro traseiro opaco de tão sujo e dos pneus sobressalentes, enquanto alivia a bexiga do líquido do termos.
Terá quarenta, cinquenta anos. Uns olhos de lince. Enquanto conduz, perscruta a savana continuamente, como um radar, à procura do “game”. Por vezes, indica-nos, de dedo apontado, onde está determinado animal, num exercício que parece impossível à vista desarmada. Outras vezes, pára o veículo e arma-se dos binóculos, para tirar teimas quando apenas os olhos não chegam.
Não conseguimos que se misture connosco. Oferecemos-lhe uma cadeira para se sentar ao nosso lado e rápida e energeticamente a recusa. Afasta-se e junta-se aos empregados dos acampamentos e dos lodges por onde vamos passando. Por vezes junta-se a eles, conversa com eles, nem sequer o vemos fora das horas em que temos actividades. Outras vezes janta sozinho, numa mesa isolada. Sempre silencioso, calmo, plácido. Terá esboçado dois sorrisos e soltado, no máximo, duas gargalhadas durante todos estes dias.
Mas foi uma óptima companhia.
Guia rápido, agitadamente, intempestivamente. Ultrapassa ostensivamente quem se coloca à sua frente. O jipe sacode, salta, derrapa ao sabor das estradas esburacadas, dos caminhos, dos trilhos, da areia, da lama. Às vezes só com uma mão no volante, enquanto a outra se entretém com o telemóvel ou com o termos (de café…?). Mas uma coisa é certa: ele está sempre calmo. Muito calmo. Mesmo quando encosta o veículo à berma e, sem soltar uma palavra, salta do jipe para se esconder atrás do vidro traseiro opaco de tão sujo e dos pneus sobressalentes, enquanto alivia a bexiga do líquido do termos.
Terá quarenta, cinquenta anos. Uns olhos de lince. Enquanto conduz, perscruta a savana continuamente, como um radar, à procura do “game”. Por vezes, indica-nos, de dedo apontado, onde está determinado animal, num exercício que parece impossível à vista desarmada. Outras vezes, pára o veículo e arma-se dos binóculos, para tirar teimas quando apenas os olhos não chegam.
Não conseguimos que se misture connosco. Oferecemos-lhe uma cadeira para se sentar ao nosso lado e rápida e energeticamente a recusa. Afasta-se e junta-se aos empregados dos acampamentos e dos lodges por onde vamos passando. Por vezes junta-se a eles, conversa com eles, nem sequer o vemos fora das horas em que temos actividades. Outras vezes janta sozinho, numa mesa isolada. Sempre silencioso, calmo, plácido. Terá esboçado dois sorrisos e soltado, no máximo, duas gargalhadas durante todos estes dias.
Mas foi uma óptima companhia.
sábado, 12 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Um aperitivo chamado Dubai
A expectativa em relação à chegada ao aeroporto do Dubai já vem influenciada: voamos na Emirates, uma companhia que oferece a qualidade de serviço que a TAP e outras companhias ocidentais ofereciam há dez, quinze anos, quando o transporte aéreo estava menos difundido e massificado. Não só pelo facto de os aparelhos serem novos e cheios de gadgets – o ecran pessoal para ver filmes ou séries de televisão, jogar jogos, acompanhar as gordas do serviço noticioso da BBC, fazer telefonemas para outro passageiro, e ainda alguns extras não gratuitos, como enviar e receber e-mails ou fazer telefonemas para terra – também pelas refeições, por exemplo. Ainda há um menu que permite a escolha entre dois pratos principais, não há limite para bebidas alcoólicas e, pasme-se, talheres de metal. Aqueles que não me lembro de ver num voo há muito muito tempo. E ainda os jornais e revistas, disponíveis para todos os passageiros. Noutras palavras, a Emirates oferece um serviço de executiva a preço de económica. E um preço de económica bastante económico.
Assim que, aterrar com num aeroporto enorme, descer umas escadas rolantes muito altas, ladeando um curso de água a imitar uma cascata e chegar a um hall de imigração tão amplo, não é nada de estranhar. É o primeiro aeroporto onde vi chuveiros, para quem estiver há algum tempo em viagem e tiver algum tempo morto entre ligações.
Se na Islândia não se sente o impacto da bancarrota senão na descida dos preços de níveis que são uma autêntica extorsão para algo mais normal, no Dubai a iminência de uma situação de insolvência contrasta com a opulência. O metro de superfície afasta-se do aeroporto e caminha em direcção à zona antiga da cidade. Os barcos típicos estão ancorados ao longo de espécie de enseada com edifícios modernos, espelhados a cortar a linha do horizonte. Novamente a bordo do metro, percebo melhor o que o Dubai é: duas avenidas que rasgam o deserto, dois segmentos de recta com quatro, cinco faixas em cada sentido, percorridos por carros de alta cilindrada, ladeadas por edifícios altos, arranha-céus, edifícios em construção, gruas, guindastes. Algures, o edifício mais alto do mundo, em forma de agulha, com mais de oitocentos metros. Mais à frente, a pista de ski, já a chegar ao enorme centro comercial.
Saímos a porta para a rua, não sem antes ter de perguntar ao segurança. O tempo está contado, o autocarro pode ser uma má opção, fazemos negócio com um taxista. Tem uma carrinha onde pode sentar os seis. Por quarenta dirhams, garante que nos leva para a segunda avenida, que percorre os quilómetros mais próximo da água do mar, e nos leva à palmeira, a Jumeirah, terreno que foi ganho às águas muito azuis daquele mar. Percorremos o caminho até ao final da palmeira, onde um hotel enorme se ergue virado para o mar. Damos a volta, vamos no sentido inverso, vamos sair. Dali ao hotel mais luxuoso do mundo é um tiro.
O Burj Al Arab e as suas sete estrelas só se deixam ver ao longe. O caminho de acesso está protegido por guardas, só autocarros do próprio hotel e Lamborghinis amarelos cruzam os portões. Turistas espreitam e tiram fotografias à distância debaixo do calor abrasador. Depois a praia. Só para espreitar. Repleta de indianos, paquistaneses e demais povos da imensa comunidade imigrante, que tomam banho, jogam à bola dentro de água, mas sempre relativamente vestidos. Não, a praia não é nada convidativa. Pelo menos aquela, que não é privativa. Hordas de homens (eventualmente privados), arrumados em fila, babam-se para o espectáculo de duas turistas em biquíni. Resultado: fotografia, meia-volta e volver.
O Dubai evoca fortemente Las Vegas, o deserto, o Strip e os hotéis doidos. Cidades inconsequentes, uma infantilidade. Não passam de uma cambada de miúdos crescidos com dinheiro a mais para gastar. E é por isso que, pese embora a curta estadia, regressar ao Dubai não parece ser uma decisão fácil. Já voltar a voar na Emirates e tomar um duche no aeroporto, bom, isso é outra conversa.
Assim que, aterrar com num aeroporto enorme, descer umas escadas rolantes muito altas, ladeando um curso de água a imitar uma cascata e chegar a um hall de imigração tão amplo, não é nada de estranhar. É o primeiro aeroporto onde vi chuveiros, para quem estiver há algum tempo em viagem e tiver algum tempo morto entre ligações.
Se na Islândia não se sente o impacto da bancarrota senão na descida dos preços de níveis que são uma autêntica extorsão para algo mais normal, no Dubai a iminência de uma situação de insolvência contrasta com a opulência. O metro de superfície afasta-se do aeroporto e caminha em direcção à zona antiga da cidade. Os barcos típicos estão ancorados ao longo de espécie de enseada com edifícios modernos, espelhados a cortar a linha do horizonte. Novamente a bordo do metro, percebo melhor o que o Dubai é: duas avenidas que rasgam o deserto, dois segmentos de recta com quatro, cinco faixas em cada sentido, percorridos por carros de alta cilindrada, ladeadas por edifícios altos, arranha-céus, edifícios em construção, gruas, guindastes. Algures, o edifício mais alto do mundo, em forma de agulha, com mais de oitocentos metros. Mais à frente, a pista de ski, já a chegar ao enorme centro comercial.
Saímos a porta para a rua, não sem antes ter de perguntar ao segurança. O tempo está contado, o autocarro pode ser uma má opção, fazemos negócio com um taxista. Tem uma carrinha onde pode sentar os seis. Por quarenta dirhams, garante que nos leva para a segunda avenida, que percorre os quilómetros mais próximo da água do mar, e nos leva à palmeira, a Jumeirah, terreno que foi ganho às águas muito azuis daquele mar. Percorremos o caminho até ao final da palmeira, onde um hotel enorme se ergue virado para o mar. Damos a volta, vamos no sentido inverso, vamos sair. Dali ao hotel mais luxuoso do mundo é um tiro.
O Burj Al Arab e as suas sete estrelas só se deixam ver ao longe. O caminho de acesso está protegido por guardas, só autocarros do próprio hotel e Lamborghinis amarelos cruzam os portões. Turistas espreitam e tiram fotografias à distância debaixo do calor abrasador. Depois a praia. Só para espreitar. Repleta de indianos, paquistaneses e demais povos da imensa comunidade imigrante, que tomam banho, jogam à bola dentro de água, mas sempre relativamente vestidos. Não, a praia não é nada convidativa. Pelo menos aquela, que não é privativa. Hordas de homens (eventualmente privados), arrumados em fila, babam-se para o espectáculo de duas turistas em biquíni. Resultado: fotografia, meia-volta e volver.
O Dubai evoca fortemente Las Vegas, o deserto, o Strip e os hotéis doidos. Cidades inconsequentes, uma infantilidade. Não passam de uma cambada de miúdos crescidos com dinheiro a mais para gastar. E é por isso que, pese embora a curta estadia, regressar ao Dubai não parece ser uma decisão fácil. Já voltar a voar na Emirates e tomar um duche no aeroporto, bom, isso é outra conversa.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Fly me to the moon
Faz sentido que os passageiros de primeira ou executiva saiam do avião antes dos outros. Mas não faz sentido que sejam os primeiros a entrar. Para mim, pagar mais por um bilhete significa ser o último a entrar e o primeiro a sair.
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