domingo, 26 de abril de 2009

A Orquestra Sinfónica da Juventude Simón Bolívar quase não cabe no palco do Coliseu.

Bardas de tipos novos, mais que as mães, vão progressivamente inundando as cadeiras e os lugares disponíveis, até ficarem muito aconchegados e a escassos centímetros da primeira fila. Na primeira parte, tocam peças de compositores latino-americanos, com o ritmo e a intensidade próprias. Na segunda parte, a Sagração da Primavera. E, verdade seja dita, tocam bem para cacete.

E é depois que surge a parte mais curiosa da sua actuação. Até eu que sou partidário de algumas correntes que pretendem rasgar um pouco o clima de formalismo da música clássica, não esperaria isto. O público eufórico pede um encore, uma situação não inédita mas pouco comum em orquestra. E, depois das inúmeras vénias e entradas e saídas do maestro, a luz apaga-se por completo dentro do Coliseu.

Estranho. Por entre os flashes sucessivos das máquinas fotográficas, conseguimos vislumbrar ao fundo os putos. E, ainda mais estranho, parece que estão a mudar de roupa. Quando a luz volta, os últimos ainda vestem os seus casacos com as cores da Venezuela com a designação nacional nas costas, à boa moda das comitivas nacionais de desportistas nos Jogos Olímpicos. E um boné na cabeça.

E depois tocam duas peças curtas, muito latinas, muito caribe, muito rumba. E, enquanto o fazem, dão azo à sua irreverência não restringida: levantam-se das cadeiras, dançam, levantam os instrumentos no ar, os contrabaixistas e violoncelistas giram os instrumentos para que dêem voltas sobre si mesmos, alguns músicos que não estão a tocar fazem o comboio. Uma macacada.

No final, qual concerto de rock, os bonés e casacos voam todos para a plateia, enquanto o público faz a barulheira de quem gostou da agitação e da energia. Ainda fiquei a pensar que este tipo de iniciativas fazem sentido no contexto do governo de Chávez. Talvez seja mesmo uma espécie de Mocidade à venezuelana: aparentemente, os apoios estatais são uma realidade. Não interessa. Antes assim. Na Mocidade Portuguesa, faziam desfiles e cerimónias; estes putos tocam muito bem.

À saída, quando passam pela entrada principal do Coliseu e os espectadores esperam por tréguas da chuva, uns quantos soltam aquele típico sotaque sul-americano que mastiga os plurais: “Bravo, muchacho’”. E eles respondem: “Mucha’ gracia’”. E eu quis acrescentar:

Chevere

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