Os deuses da meteorologia estão contra nós. A chuva e o nevoeiro denso teimam em não desaparecer e, com base nos conselhos dos entendidos, rapidamente percebemos que não vai ser possível fazer o trilho que liga a Serra do Topo à Fajã dos Cubres, passando pela Fajã da Caldeira de Santo Cristo, um dos ex-libris da ilha. Para além de perdermos a vista que motiva a caminhada, o chão fica enlameado e convidativo a escorregadelas.
Desapontados, rumamos ainda assim à Fajã dos Cubres, onde tipicamente os caminheiros estacionam os carros, que ali fica à espera até que terminem o trajecto, e arranjam boleia que os leve até ao início. Como a esmagadora maioria das estradas que levam às fajãs, esta é também sinuosa e apertada. Faço figas e rezo a todos os santinhos para não me cruzar com outro veículo. O nevoeiro denso dissipa-se, aos poucos, à medida que vamos descendo. Pelo caminho, abrandamos perto de um senhor que vem no sentido ascendente e nos sossega: lá em baixo o tempo está aberto.
À chegada ao pequeno parque de estacionamento, perto da igreja, ocorre-me que há forma de minimizar o estrago: pode ser que consigamos fazer apenas a parte do trajecto que liga as duas fajãs e voltar, mantendo-nos sempre ao nível do mar. A senhora do quiosque onde compramos umas garrafas de água confirma que é perfeitamente possível e demora uns 45 minutos.
Fazemo-nos ao caminho. São cerca de 4.5 kms, feitos com algumas subidas e descidas entre as fajãs, muito humidade e calor. A paisagem compensa largamente o esforço e a T-shirt empapada, que exibimos com algum orgulho aos desistentes que se socorrem do serviço de tipos de moto 4.
No regresso, sentamo-nos na esplanada de outra roulotte e completamos o ritual: pedimos uma dose das grandes, vistosas e caras ameijoas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, o único sítio da ilha onde estes lindos espécimes são cultivados. Acompanhadas de pão para o molho, uns camarões fritos e duas minis fresquinhas, é a recompensa pelos 10kms de caminhada. Isso e um duche à chegada ao alojamento.
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