segunda-feira, 23 de agosto de 2021

No brainer

«For a long time I didn't understand why so many black people had abandoned their indigenous faith for Christianity. But the more we went to church and the longer I sat in those pews the more I learned about how Christianity works: If you're Native American and you pray to the wolves, you' re a savage. If you're Afrian and you pray to your ancestors, you're primitive. But when white people pray to a guy who turns water into wine, well, that's just common sense.»

Born a crime, Trevor Noah

sábado, 21 de agosto de 2021

Branco o é

O projecto artístico tinha tanto de simples como de questionável: pintar paredes e muros de branco. Talvez numa alusão à pureza e simplicidade. Arrancou em Lisboa, com alguma pompa e circunstância. Seguiu, pouco depois, para Madrid, com a perspetiva de continuar em direcção a Paris e ir essa Europa fora. O progresso foi bruscamente interrompido quando o prenderam por branqueamento de capitais.   

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Outsourcing

 «The problem of outsourcing morality is that it exacerbates the original problem of the absence of internal inhibitions or constraints. Everyone either will try to walk the fine line between legality and illegality (doing things that are unethical but technically legal) or will break the law while trying not to be caught. Breaking the law is not unique to today's commercialized societies. But what is unique is for people to claim that they have done everything in the most ethical manner possible if they have remained just barely on the right side of the law, or, if they have strayed into illegality, that is the business of others to catch them and prove they have broken the law. Internal check, stemming from one's own belief in what is moral and what is not, seem to play no role whatsoever. 

This is perhaps most obvious in commercialized sports, where the old-fashioned notions of fair play, which internalised acceptable conduct, have all but disappeared and have been replaced by behavior that, in some cases openly breaks the rules. Such behavior is fully accepted and even encouraged, since people believe that it is up to the referees alone to enforce the rules. Take the 2009 example of the famous soccer goal marked by hand by Thierry Henry, which allowed the French national team to qualify for the World Cup and sent the Irish team home. No one, from Henry to the last French supporter, denies that the goal was scored by hand, that it was illegal, and that is should not have been allowed to stand. But they would not draw the obvious consequences. In everyone's opinion the matter was not to be decided by Henry (say, by his telling the referee that the goal was illegal) or by his teammates (doing the same thing), but solely by the referee. Once the referee, not having seen how the goal was scored, has accepted it, the goal is as legal as can be, and there is no shame in celebrating it. Or even bragging about it.»

Capitalism, Alone, Branko Milanovic

domingo, 15 de agosto de 2021

Distância

«Global inequality of opportunity is not generally considered a problem at all, much less a problem in need of a solution. Within nation-states, many people regard the intergenerational transmission of family-acquired wealth as rather objectionable; but among nations, the intergenerational transmission of collectively acquired wealth is not considered an object of concern. This is interesting because individuals' links to their family are closer than their links to an entire community, and one might thing that the transmission of family wealth across generations could be viewed as less objectionable than the transmission of societal wealth across generations of unrelated individuals. The reason that it is not seems to lie in one crucial difference, namely that in the first case, where the intergenerational transmission of wealth tase place within the same community, individuals can easily compare their positions with each other, and they resent injustice; in the other case, inequality is international, and individuals cannot easily compare themselves or perhaps they do not care to do so (or, at least, the rich do not). Distance, as Aristotle noted, often makes people indifferent to the lot of others, perhaps because they do not see them as peers with whom they compare their income or wealth.» 

Capitalism, Alone, Branko Milanovic

sábado, 14 de agosto de 2021

Os pais sentam a criança à mesa com um tablet à frente.

Durante todo o jantar, o aparelho passa desenhos-animados. Mas com uma particularidade: com o volume alto. Bem alto. A técnica usada para manter a criança sossegada e em silêncio o ruído do aparelho na etiqueta do preço. Como se estabelecesse um trade off, que permite trocar o ruído da criança barulhenta pelo do tablet.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Ilha Graciosa II

Subimos uns degraus que levam ao topo de uma espécie de fortaleza que ladeia e protege a praia. Percorremos aquele pequeno trilho elevado na expectativa de encontrar um novo conjunto de degraus que nos permita descer para a areia. Resignados, descemos mais à frente, após o areal, para o lado oposto onde está a estrada. Só então nos apercebemos que a entrada é feita por um arco na mesma estrutura, no topo da qual caminhámos antes. Como se a praia tivesse uma porta que a guardasse de visitantes indesejados. 

Pares de espreguiçadeiras com um guarda-sol de palha no meio preenchem uma parte da areia escura. Há algumas livres e decidimos usar um par. Resolvo ir perguntar à rapariga que trabalha no café que fica à direita da entrada quanto é o aluguer das ditas espreguiçadeiras. Recebo uma resposta, repleta de sotaque, que deita por terra a minha pré-concepção do urbana do mundo

Ó senhor não custa nada, as espreguiçadeiras são públicas. 


É verdade, ainda há disto.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Ilha Graciosa

Uns dias antes da chegada, perguntamos ao senhor que nos aluga o carro como fazer o levantamento, que tínhamos pedido para o aeroporto. Diz-nos que um Toyota Corolla, cinza prata, a gasolina, com a matrícula assim-assado, estará à nossa espera nas últimas filas do parque de estacionamento, perto das árvores, com a chave no cinzeiro. É precisamente aí que o volto a deixar, passados dois dias, antes de ir para o voo de regresso à Terceira: praticamente no mesmo lugar de estacionamento (só não é no mesmo porque estava ocupado) e com a chave no cinzeiro.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

São Jorge ou fajã-hopping

Os deuses da meteorologia estão contra nós. A chuva e o nevoeiro denso teimam em não desaparecer e, com base nos conselhos dos entendidos, rapidamente percebemos que não vai ser possível fazer o trilho que liga a Serra do Topo à Fajã dos Cubres, passando pela Fajã da Caldeira de Santo Cristo, um dos ex-libris da ilha. Para além de perdermos a vista que motiva a caminhada, o chão fica enlameado e convidativo a escorregadelas.  

Desapontados, rumamos ainda assim à Fajã dos Cubres, onde tipicamente os caminheiros estacionam os carros, que ali fica à espera até que terminem o trajecto, e arranjam boleia que os leve até ao início. Como a esmagadora maioria das estradas que levam às fajãs, esta é também sinuosa e apertada. Faço figas e rezo a todos os santinhos para não me cruzar com outro veículo. O nevoeiro denso dissipa-se, aos poucos, à medida que vamos descendo. Pelo caminho, abrandamos perto de um senhor que vem no sentido ascendente e nos sossega: lá em baixo o tempo está aberto. 

 

À chegada ao pequeno parque de estacionamento, perto da igreja, ocorre-me que há forma de minimizar o estrago: pode ser que consigamos fazer apenas a parte do trajecto que liga as duas fajãs e voltar, mantendo-nos sempre ao nível do mar. A senhora do quiosque onde compramos umas garrafas de água confirma que é perfeitamente possível e demora uns 45 minutos.

 

Fazemo-nos ao caminho. São cerca de 4.5 kms, feitos com algumas subidas e descidas entre as fajãs, muito humidade e calor. A paisagem compensa largamente o esforço e a T-shirt empapada, que exibimos com algum orgulho aos desistentes que se socorrem do serviço de tipos de moto 4.  

 

No regresso, sentamo-nos na esplanada de outra roulotte e completamos o ritual: pedimos uma dose das grandes, vistosas e caras ameijoas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, o único sítio da ilha onde estes lindos espécimes são cultivados. Acompanhadas de pão para o molho, uns camarões fritos e duas minis fresquinhas, é a recompensa pelos 10kms de caminhada. Isso e um duche à chegada ao alojamento.  

sábado, 7 de agosto de 2021

Casa de biológo

Em entrevista ao Expresso, um dos fundadores da biofarmacêutica Moderna - entretanto afastado da gestão da mesma há anos - afirma que recebeu a vacina da Pfizer. Apenas por uma questão de conveniência, porque uma entidade com a qual colaborou o contactou para ser vacinado e, à chegada, era essa a vacina disponível. Ainda assim, uma afirmação interessante - e respeitável, pela candura - para alguém que ainda tem uma posição accionista na Moderna.