sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Arranjava sempre forma de levar a melhor sobre quem se atravessava na sua frente.

Qual craque, adorava driblar, fintar os seus adversários, fazer slalom com os argumentos que esgrimia como ninguém. Dava-lhes autênticos nós-cegos, verdadeiros golpes de rim, manobras acrobáticas e pontapés de bicicleta, que os deixavam feitos num oito, sem combustível, a precisar de ir à box.

Até que, um dia, encontrou alguém à sua altura. Entraram em ringue e começaram a bater bolas. Primeiro com alguma suavidade, estudando-se mutuamente. Aos poucos, depois de algumas piscinas a intensidade foi aumentando. Taco-a-taco, muito equilibrado, fazia antever uma maratona com um final em sprint e com recurso ao photo-finish.

Até que, confiante, sentiu que tinha surgido uma oportunidade para um ataque que o faria cruzar a meta em primeiro. E, então, sem cerimónia, já a antever a bandeira axadrezada, fez uma verdadeira entrada a pés juntos, de é em riste. “Bem jogado!”, pensou.

Para sua surpresa, no entanto, foi apanhado em contra-pé: o adversário desencadeou um contra-ataque feroz. Como se tivesse recebido uma assistência para uma desmarcação perfeita, tirou um verdadeiro ás na manga, que acertou, em cheio, na mouche. Um autêntico afundanço.

Tentou, sem sucesso, ripostar, virar o marcador: chutar para canto, cortar as vazas. O estrago estava feito, estava destrunfado. Antecipava o KO. Teria que pedalar muito, em contra-relógio, se quisesse ter qualquer hipótese de inverter o resultado até ao apito final. Sentiu-se fora-de-jogo, posto em xeque. Nunca havia sido vítima de uma tal placagem, um verdadeiro ensaio de porrada. O mundo todo desabava à sua volta.

Então, resignado, limitou-se a passar o testemunho.

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