sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
Não sei se se pode dizer que seja um pedinte.
Isto porque, na prática, não pede como os outros. Nem sequer abre a boca, em praticamente nenhuma circunstância: as poucas vezes em que o vi falar foram quando alguém entabulou conversa com ele. Estes casos excluídos, olha constantemente para baixo. Sentado no chão, directamente sob o passeio largo da avenida, à sua frente uma lata velha e gasta mas que, ainda assim, dá para ver que é de salsichas tipo Frankfurt da Nobre. O olhar pesado parece repousar sobre aquela lata, como se se concentrasse nela para, ao mesmo tempo, se abstrair de tudo o resto. A maioria das pessoas que passam parecem nem sequer reparar. Absortas, imagino-as a, inadvertidamente, dar um chuto na lata de salsichas. A lata que, no fundo, faz as vezes de pedinte, substitui-se à voz dele e ao olhar com que outros - esses, sim, pedintes na verdadeira acepção do termo - procuram compungir os transeuntes. Ele não: olha para aquela lata com o que parece ser sobretudo vergonha.
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