terça-feira, 26 de dezembro de 2017
domingo, 24 de dezembro de 2017
sábado, 23 de dezembro de 2017
Sou um coleccionador de panfletos que pessoas simpáticas entregam na rua.
Seja de matérias políticas, religiosas e até mesmo dos curandeiros com capacidade para solucionar todo o tipo de problemas. Há dias, fui presenteado com (mais) um panfleto de testemunhas de Jeová. Nestes casos, costumo empregar um processo que se assemelha a uma corrida de estafetas: praticamente sem parar de andar, estico o braço para recolher o papel que me querem dar e, desta forma, evito a potencial conversa que perigosamente se poderia desenvolver caso incorresse na incúria de abrandar o passo.
Neste último panfleto lê-se a seguinte pergunta: "Qual é o segredo para uma família feliz", com uma imagem de um homem e uma mulher, que se olham, de perfil e, no meio, uma criança sentada, cabeça em cima da mão, com uma expressão preocupada. No interior do panfleto, uma série de sugestões, maioritariamente baseadas em histórias bíblicas, são oferecidas para combater os problemas que nos assolam.
Não é, de todo, o método mais eficiente: a forma mais fácil para descobrir o segredo de uma família é, claro está, visitar a cozinha de um restaurante chinês.
Neste último panfleto lê-se a seguinte pergunta: "Qual é o segredo para uma família feliz", com uma imagem de um homem e uma mulher, que se olham, de perfil e, no meio, uma criança sentada, cabeça em cima da mão, com uma expressão preocupada. No interior do panfleto, uma série de sugestões, maioritariamente baseadas em histórias bíblicas, são oferecidas para combater os problemas que nos assolam.
Não é, de todo, o método mais eficiente: a forma mais fácil para descobrir o segredo de uma família é, claro está, visitar a cozinha de um restaurante chinês.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Fala-se da quadra natalícia
Mas nunca de quintilha natalícia. Ou sextilha, septilha, etc.. Ou, no sentido contrário, terceto, dístico, monóstico.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Me Hansa, vai!
Quando os primeiros europeus chegaram à região ouviram os locais referir-se àquele lago gigantesco - hoje tem uma dimensão muito menor do que tinha à altura no século XIX - como Chad. E foi assim que ficou baptizado: lago Chad. Não só vingou como também acabou oferecer a designação do país que o alberga. Acontece que, na língua original, "chad" significa precisamente lago. Ou seja, dizer lago Chad é o equivalente a dizer "lago lago".
Algo semelhante ocorre com a Liga Hanseática, a associação de cidades mercantis de há uns quantos séculos: "Hansa" significa qualquer coisa como "liga" ou "associação". Donde, pela mesma ordem de ideias, isto só pode acabar de uma forma bastante análoga. Liga Hanseática é qualquer coisa como "liga liga".
Algo semelhante ocorre com a Liga Hanseática, a associação de cidades mercantis de há uns quantos séculos: "Hansa" significa qualquer coisa como "liga" ou "associação". Donde, pela mesma ordem de ideias, isto só pode acabar de uma forma bastante análoga. Liga Hanseática é qualquer coisa como "liga liga".
domingo, 17 de dezembro de 2017
sábado, 16 de dezembro de 2017
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Catch-22 calórico
«Throughout history, people adapted to a lack of calories by not growing too big or too tall. not only is stunting a consequence of not having enough to eat, especially in childhood, but smaller bodies require fewer calories for basic maintenance, and they make it possible to work with less food than would be needed by a bigger person. A six-foot-tall worker weighing 200 pounds would have survived about as well in the eighteenth century as a man on the moon without a spacesuit; on average there simply was not enough food to support a population of people of today's physical dimensions. The small workers of the eighteenth century were effectively locked into a nutritional trap; they could not earn much because they were so physically weak, and they could not eat because, without work, they did not have the money to buy food.»
The great escape: health wealth and the origins of inequality, Angus Deaton
The great escape: health wealth and the origins of inequality, Angus Deaton
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Regime
Há eixos rodoviários que são verdadeiras artérias da cidade mas nenhum é uma veia. É possível ter-se veia artística mas nunca artéria artística.
domingo, 10 de dezembro de 2017
Abres a boca, tapas os ouvidos
«Voaram as primeiras bombas, eu estava parada, acompanhando-as com o olhar até caírem na terra. Alguém aconselhou a abrir a boca para evitar ensurdecer. Abres a boca, tapas os ouvidos, mas ouves na mesma como elas voam. Como uivam. É tão assustador que a pele se estica, não só na cara, mas em todo o corpo.»
As últimas testemunhas, Svetlana Alexievich
As últimas testemunhas, Svetlana Alexievich
sábado, 9 de dezembro de 2017
Comércio internacional
«O princípio é sempre o mesmo: os organismos abdicam de alguma coisa em troca de algo que outros organismos têm para oferecer; no longo prazo, esta colaboração tornará a vida mais eficiente e a sobrevivência mais provável. Aquilo de que as bactérias, as células nucleadas, os tecidos ou os órgãos abdicam é, regra geral, a independência; aquilo que recebem em troca é o acesso aos «bens comuns», bens que resultam de um acordo cooperativo em termos de nutrientes indispensáveis ou de condições gerais favoráveis, como o acesso ao oxigénio ou a certas vantagens climáticas. Pense nisso da próxima vez que ouvir alguém a acusar os acordos comerciais internacionais de serem uma má ideia.»
A estranha ordem das coisas, António Damásio
A estranha ordem das coisas, António Damásio
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
Não sei se se pode dizer que seja um pedinte.
Isto porque, na prática, não pede como os outros. Nem sequer abre a boca, em praticamente nenhuma circunstância: as poucas vezes em que o vi falar foram quando alguém entabulou conversa com ele. Estes casos excluídos, olha constantemente para baixo. Sentado no chão, directamente sob o passeio largo da avenida, à sua frente uma lata velha e gasta mas que, ainda assim, dá para ver que é de salsichas tipo Frankfurt da Nobre. O olhar pesado parece repousar sobre aquela lata, como se se concentrasse nela para, ao mesmo tempo, se abstrair de tudo o resto. A maioria das pessoas que passam parecem nem sequer reparar. Absortas, imagino-as a, inadvertidamente, dar um chuto na lata de salsichas. A lata que, no fundo, faz as vezes de pedinte, substitui-se à voz dele e ao olhar com que outros - esses, sim, pedintes na verdadeira acepção do termo - procuram compungir os transeuntes. Ele não: olha para aquela lata com o que parece ser sobretudo vergonha.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
Os condenados são normalmente arrastados até ao local.
Não é um trajecto que, normalmente, se faça de livre e espontânea vontade, de bom grado. No caso do invisual, o motivo era duplo: à sua resistência a realizar o seu último trajecto, havia igualmente a questão óbvia de não conseguir ver onde punha os pés. Ali chegado, foi devidamente preso, não só para evitar uma tentativa desesperada de fuga, mas também que caísse por terra caso lhe faltasse a força nas pernas. Perguntaram-lhe se tinha últimas palavras e ele balbuciou-as atabalhoadamente. Depois disso, mexeu a boca, à procura, quase como estivesse a tactear o ar, do último cigarro que lhe haviam colocar nos lábios. E, antes de o pelotão apontar as armas na sua direcção e se preparar para disparar, colocaram-lhe uma venda nos olhos.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Contar
«Contava as bombas. Caiu uma, duas... Sete...
Foi como aprendi a contar...»
As últimas testemunhas, Svetlana Alexievich
Foi como aprendi a contar...»
As últimas testemunhas, Svetlana Alexievich
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
domingo, 3 de dezembro de 2017
sábado, 2 de dezembro de 2017
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Shibuya num sábado à noite.
Onde os turistas se concentram para olhar de boca aberta para aquela que é considerada a passadeira mais movimentada do mundo. Máquinas fotográficas em tripés, estrategicamente colocadas de forma a conseguir captar, a baixas velocidades de obturação, a deslocação de uma mole de gente de cada vez que o sinal para os peões abre. Mais turistas que se juntam àquela mole e fazem filmes com os telefones como se estivessem no olho do furacão.
Este é um dos sítios onde se percepciona o outro lado. O lado em que os nipónicos dão asas à possível necessidade de extravasar uma vida contida e delimitada por regras, costumes e comportamentos agrilhoados. Como se se quisessem livrar de um espartilho, de um cinto que já não comporta o perímetro abdominal mais dilatado. E aqui as manifestações são variadas. Incluem métodos relativamente universais como a intoxicação alcoólica: a primeira vez que vejo pessoas bêbedas, adolescentes a rir descontroladamente, no chão, encaracolados no canto da entrada de um edifício em Tokyo.
Mas há tanto mais e algumas manifestações que serão mais características deste canto do mundo. Dentro de uma das inúmeras arcades, vários pisos amplos e escuros, repletos das mais variadas máquinas de jogos – dos clássicos Super Mario e Sega até aos jogos de combate, corridas de carros e cestos de basquete para tentar encestar o maior número de vezes – vemos hordas de locais a despejar moeda atrás de moeda dentro das ranhuras para ter acesso a mais algum tempo em frente aos monitores gritantes e botões coloridos. Sendo certo que as camadas mais jovens são o principal alvo deste tipo de estabelecimentos, não é de todo incomum ver extratos de maior idade. Engravatados, embora com o nó possivelmente alargado, a pasta de pele no chão de um dos lados, gesticulam avidamente à frente do aparelho. Descomprimem da intensidade da jornada de trabalho recorrendo a uma outra intensidade, exigida por aquele jogo, que mais parece uma aula de aeróbica. A mania dos jogos chega ao cúmulo de ser possível vestir-se de um qualquer personagem do Super Mario e conduzir karts pelas avenidas de Tokyo, pelo meio dos outros veículos. E isto sem falar dos inúmeros bonecos do Sangoku, Pikaxu e companhia que enfeitam algumas ruas.
O ambiente é totalmente distinto na loja de manga. Temos, é verdade, uma vez mais, pisos e pisos dedicados à mesma temática, neste caso forrados de prateleiras repletas de livros com lombadas coloridas, aqui e ali alguns posters alusivos nas paredes. Mas já este é um local mais solitário, não como os bandos que jogam entre e contra si nas máquinas dos árcades, ou cujos amigos observam as performances: aqui os utentes folheiam em silêncio, um pouco como se estivéssemos novamente nas carruagens do metro e os smartphones fossem substituídos por livros. E, nos pisos cimeiros, onde as publicações se debruçam em matérias mais sensíveis, tais como o erotismo, sente-se um certo desconforto quando o interesse de um leitor é exposto por presenças alheias, como se se tratasse de um interesse ilegítimo ou censurável.
O pináculo deste desconforto é, no entanto, reservado para as secções eróticas das grandes lojas onde se vende de tudo. Depois de passar o primeiro piso do supermercado, nos pisos onde se vendem de roupas a aparelhos domésticos, é comum existir uma zona, por vezes delimitada por um cortinado opaco que assinala a imposição ou advertência de uma idade mínima de 18 anos, onde se podem adquirir vibradores, roupas, mamas de borracha e vários outros produtos íntimos. Alguns cuja existência desconhecia em absoluto e que só após ter virado a caixa e ter olhado para instruções ou imagens ilustrativas consegui perceber, algo surpreendido, devo dizer, qual o propósito a que se destinam. E aqui, apesar da minha total ausência de julgamento, alguns autóctones sentem um verdadeiro embaraço perante presenças alheias naqueles espaços e chegam inclusivamente a desaparecer rapidamente sem virar as costas.
Este é um dos sítios onde se percepciona o outro lado. O lado em que os nipónicos dão asas à possível necessidade de extravasar uma vida contida e delimitada por regras, costumes e comportamentos agrilhoados. Como se se quisessem livrar de um espartilho, de um cinto que já não comporta o perímetro abdominal mais dilatado. E aqui as manifestações são variadas. Incluem métodos relativamente universais como a intoxicação alcoólica: a primeira vez que vejo pessoas bêbedas, adolescentes a rir descontroladamente, no chão, encaracolados no canto da entrada de um edifício em Tokyo.
Mas há tanto mais e algumas manifestações que serão mais características deste canto do mundo. Dentro de uma das inúmeras arcades, vários pisos amplos e escuros, repletos das mais variadas máquinas de jogos – dos clássicos Super Mario e Sega até aos jogos de combate, corridas de carros e cestos de basquete para tentar encestar o maior número de vezes – vemos hordas de locais a despejar moeda atrás de moeda dentro das ranhuras para ter acesso a mais algum tempo em frente aos monitores gritantes e botões coloridos. Sendo certo que as camadas mais jovens são o principal alvo deste tipo de estabelecimentos, não é de todo incomum ver extratos de maior idade. Engravatados, embora com o nó possivelmente alargado, a pasta de pele no chão de um dos lados, gesticulam avidamente à frente do aparelho. Descomprimem da intensidade da jornada de trabalho recorrendo a uma outra intensidade, exigida por aquele jogo, que mais parece uma aula de aeróbica. A mania dos jogos chega ao cúmulo de ser possível vestir-se de um qualquer personagem do Super Mario e conduzir karts pelas avenidas de Tokyo, pelo meio dos outros veículos. E isto sem falar dos inúmeros bonecos do Sangoku, Pikaxu e companhia que enfeitam algumas ruas.
O ambiente é totalmente distinto na loja de manga. Temos, é verdade, uma vez mais, pisos e pisos dedicados à mesma temática, neste caso forrados de prateleiras repletas de livros com lombadas coloridas, aqui e ali alguns posters alusivos nas paredes. Mas já este é um local mais solitário, não como os bandos que jogam entre e contra si nas máquinas dos árcades, ou cujos amigos observam as performances: aqui os utentes folheiam em silêncio, um pouco como se estivéssemos novamente nas carruagens do metro e os smartphones fossem substituídos por livros. E, nos pisos cimeiros, onde as publicações se debruçam em matérias mais sensíveis, tais como o erotismo, sente-se um certo desconforto quando o interesse de um leitor é exposto por presenças alheias, como se se tratasse de um interesse ilegítimo ou censurável.
O pináculo deste desconforto é, no entanto, reservado para as secções eróticas das grandes lojas onde se vende de tudo. Depois de passar o primeiro piso do supermercado, nos pisos onde se vendem de roupas a aparelhos domésticos, é comum existir uma zona, por vezes delimitada por um cortinado opaco que assinala a imposição ou advertência de uma idade mínima de 18 anos, onde se podem adquirir vibradores, roupas, mamas de borracha e vários outros produtos íntimos. Alguns cuja existência desconhecia em absoluto e que só após ter virado a caixa e ter olhado para instruções ou imagens ilustrativas consegui perceber, algo surpreendido, devo dizer, qual o propósito a que se destinam. E aqui, apesar da minha total ausência de julgamento, alguns autóctones sentem um verdadeiro embaraço perante presenças alheias naqueles espaços e chegam inclusivamente a desaparecer rapidamente sem virar as costas.
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