terça-feira, 31 de outubro de 2017
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Assim foi o one-man show de Jack Broadbent no CCB
(Publicado originalmente aqui)
Desde cedo é perceptível que o Grande Auditório do CCB não vai encher. Nem sequer vai ficar perto disso. Sentado numa das primeiras filas da segunda plateia, vou vendo as pessoas ser conduzidas pelos funcionários que tiveram uma noite pouco movimentada. Sinto um quase nervoso miudinho, na expectativa que mais espectadores surjam e que, pelo menos, a sala fique composta. Quando as badaladas para chamar os mais atrasados se ouvem, talvez metade dos lugares da primeira plateia estivessem ocupados. O palco é de um minimalismo que parece solidário com o resto desta sala: apenas se vislumbram, ao centro, duas guitarras, uma de cada lado, no meio das quais um amplificador rectangular, assente sobre um dos lados mais estreitos.
As luzes apagam-se e Jack Broadbent surge do lado esquerdo. Camisa branca, calças pretas e garrafa de Corona na mão, avança à beira do palco e faz uma vénia teatral ao público. Senta-se no amplificador, deita a guitarra que está à sua direita em cima das suas pernas, como um pai natal que senta a criança ao seu colo. Só que neste caso é para tocar slide e não para lhe perguntar se se portou bem no ano que termina. Ajeita o tripé do microfone e faz estalidos com a boca como se testasse o som, que o público, divertido, imita. E, de repente, inicia uma sucessão de frases carregadas de blues até mais não, até rebentar, frases essas que, aos poucos, vão desembocar no riff da primeira música da noite: On the Road Again.
Deseja as boas vindas do público a mais uma sexta-feira. E, de imediato, inteligentemente, aborda o elefante da sala para, assim, o poder ignorar: refere que a sala não está cheia mas que, desta forma, temos o espaço todo só para nós e podemos pôr os pés para cima. E o que segue, de certa forma, é isso mesmo: ficar à vontade. O guitarrista britânico age como se estivesse num espaço mais intimista como um bar. Reage e estimula os comentários que chovem do público que se mostrou altamente interventivo. Diz piadas, gags que se nota fazerem parte de um show que já repetiu vezes sem conta. É blasé e irónico, com um humor auto-depreciativo aqui e ali. Vai alternando entre a guitarra slide – a tal da sua direita – e outra guitarra que usa de forma digamos mais ortodoxa – a da sua esquerda. Alterna também entre um conjunto de covers, algumas das quais são já uma imagem de marca, e alguns temas originais.
No final do original Don’t Be Lonesome, pergunta ao público se está tudo bem e brinca com o facto de só ele ter algo de beber. Aproveita para pedir à organização para trazer mais trezentas Coronas para todos nós. Do público sugerem-lhe Super Bock, marca de cerveja que diz também apreciar. Para dizer a verdade, no fundo, aprecia todas, acrescenta. “Drinking is bad for you”. Dois temas à frente, após uma cover do mítico Lead Belly, é presenteado com uma nova garrafa de Corona, trazida por um dos roadies que tenta fazer a tarefa impossível de entrar em palco discretamente.
Um dos pontos altos é um tema da banda americana Little Feat chamado Willing que, segundo Broadbent, é “fucking beautiful”. Talvez por isso o dedique ao seu pai, ele que também é guitarrista e irá juntar-se ao filho em Nashville, no Tennessee, dentro de um mês, para o auxiliar na gravação de um novo álbum que diz ter quase pronto. Outro é um tema que tem uma história engraçada por detrás. “Funny one”, nas palavras do guitarrista. Segundo explica, um dia foi-lhe dito que tinha um “heroin body” – logo ele que, confessa, havia anos que não consumia a droga – por um homem de baixa estatura. Tão baixa estatura que nem sequer teve coragem para partir para vias de facto porque achou que seria demasiado desigual. Ao invés, optou por lhe dedicar um tema que lhe tocou na semana seguinte, com o título “Small Man Syndrome”. O homem de baixa estatura – que ainda por cima vendia seguros! – não terá apreciado a prenda mas parece que os amigos se riram. Das covers, não posso deixar de destacar ainda o Moondance de Morrison e o grande Wind Cries Mary do também grande Jimmy Hendrix.
Chegamos agora à recta final do concerto. Broadbent brinca uma vez mais com o público, olha para o relógio e diz que já não tem muito tempo, que só dá para mais dois temas. Aos pedidos de um qualquer espectador para que toque três, diz que sim, com certeza, faz parte do espectáculo criar esse suspense. E então surge o Hit the Road Jack, que já havia sido solicitado por outro espectador. Uma forma de terminar o set em grande, o guitarrista levanta-se repentinamente, agradece e sai de palco com a garrafa de cerveja na mão para regressar pouco depois, atravessando o palco e saindo do lado oposto, caminhando casualmente como se descesse a rua. Depois sim regressa para tocar, promete-nos um primeiro tema calmo – um original chamado Too Late – e termina com um tema mais intenso – Black Magic Woman de Carlos Santana.
Assim foi o one-man show de Jack Broadbent no CCB. Um concerto diferente sobre diferentes aspectos. Um concerto próprio para uma sala pequena feito numa sala grande pouco cheia. E, sobretudo, uma forma diferente de tocar guitarra e interpretar grandes temas. Ficamos à espera de mais música deste senhor.
Desde cedo é perceptível que o Grande Auditório do CCB não vai encher. Nem sequer vai ficar perto disso. Sentado numa das primeiras filas da segunda plateia, vou vendo as pessoas ser conduzidas pelos funcionários que tiveram uma noite pouco movimentada. Sinto um quase nervoso miudinho, na expectativa que mais espectadores surjam e que, pelo menos, a sala fique composta. Quando as badaladas para chamar os mais atrasados se ouvem, talvez metade dos lugares da primeira plateia estivessem ocupados. O palco é de um minimalismo que parece solidário com o resto desta sala: apenas se vislumbram, ao centro, duas guitarras, uma de cada lado, no meio das quais um amplificador rectangular, assente sobre um dos lados mais estreitos.
As luzes apagam-se e Jack Broadbent surge do lado esquerdo. Camisa branca, calças pretas e garrafa de Corona na mão, avança à beira do palco e faz uma vénia teatral ao público. Senta-se no amplificador, deita a guitarra que está à sua direita em cima das suas pernas, como um pai natal que senta a criança ao seu colo. Só que neste caso é para tocar slide e não para lhe perguntar se se portou bem no ano que termina. Ajeita o tripé do microfone e faz estalidos com a boca como se testasse o som, que o público, divertido, imita. E, de repente, inicia uma sucessão de frases carregadas de blues até mais não, até rebentar, frases essas que, aos poucos, vão desembocar no riff da primeira música da noite: On the Road Again.
Deseja as boas vindas do público a mais uma sexta-feira. E, de imediato, inteligentemente, aborda o elefante da sala para, assim, o poder ignorar: refere que a sala não está cheia mas que, desta forma, temos o espaço todo só para nós e podemos pôr os pés para cima. E o que segue, de certa forma, é isso mesmo: ficar à vontade. O guitarrista britânico age como se estivesse num espaço mais intimista como um bar. Reage e estimula os comentários que chovem do público que se mostrou altamente interventivo. Diz piadas, gags que se nota fazerem parte de um show que já repetiu vezes sem conta. É blasé e irónico, com um humor auto-depreciativo aqui e ali. Vai alternando entre a guitarra slide – a tal da sua direita – e outra guitarra que usa de forma digamos mais ortodoxa – a da sua esquerda. Alterna também entre um conjunto de covers, algumas das quais são já uma imagem de marca, e alguns temas originais.
No final do original Don’t Be Lonesome, pergunta ao público se está tudo bem e brinca com o facto de só ele ter algo de beber. Aproveita para pedir à organização para trazer mais trezentas Coronas para todos nós. Do público sugerem-lhe Super Bock, marca de cerveja que diz também apreciar. Para dizer a verdade, no fundo, aprecia todas, acrescenta. “Drinking is bad for you”. Dois temas à frente, após uma cover do mítico Lead Belly, é presenteado com uma nova garrafa de Corona, trazida por um dos roadies que tenta fazer a tarefa impossível de entrar em palco discretamente.
Um dos pontos altos é um tema da banda americana Little Feat chamado Willing que, segundo Broadbent, é “fucking beautiful”. Talvez por isso o dedique ao seu pai, ele que também é guitarrista e irá juntar-se ao filho em Nashville, no Tennessee, dentro de um mês, para o auxiliar na gravação de um novo álbum que diz ter quase pronto. Outro é um tema que tem uma história engraçada por detrás. “Funny one”, nas palavras do guitarrista. Segundo explica, um dia foi-lhe dito que tinha um “heroin body” – logo ele que, confessa, havia anos que não consumia a droga – por um homem de baixa estatura. Tão baixa estatura que nem sequer teve coragem para partir para vias de facto porque achou que seria demasiado desigual. Ao invés, optou por lhe dedicar um tema que lhe tocou na semana seguinte, com o título “Small Man Syndrome”. O homem de baixa estatura – que ainda por cima vendia seguros! – não terá apreciado a prenda mas parece que os amigos se riram. Das covers, não posso deixar de destacar ainda o Moondance de Morrison e o grande Wind Cries Mary do também grande Jimmy Hendrix.
Chegamos agora à recta final do concerto. Broadbent brinca uma vez mais com o público, olha para o relógio e diz que já não tem muito tempo, que só dá para mais dois temas. Aos pedidos de um qualquer espectador para que toque três, diz que sim, com certeza, faz parte do espectáculo criar esse suspense. E então surge o Hit the Road Jack, que já havia sido solicitado por outro espectador. Uma forma de terminar o set em grande, o guitarrista levanta-se repentinamente, agradece e sai de palco com a garrafa de cerveja na mão para regressar pouco depois, atravessando o palco e saindo do lado oposto, caminhando casualmente como se descesse a rua. Depois sim regressa para tocar, promete-nos um primeiro tema calmo – um original chamado Too Late – e termina com um tema mais intenso – Black Magic Woman de Carlos Santana.
Assim foi o one-man show de Jack Broadbent no CCB. Um concerto diferente sobre diferentes aspectos. Um concerto próprio para uma sala pequena feito numa sala grande pouco cheia. E, sobretudo, uma forma diferente de tocar guitarra e interpretar grandes temas. Ficamos à espera de mais música deste senhor.
domingo, 29 de outubro de 2017
sábado, 28 de outubro de 2017
Panis et circenses
«A cultura diz respeito a objectos e é um fenómeno do mundo; o entretenimento diz respeito a pessoas e é um fenómeno da vida.»
Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt
Entre o passado e o futuro, Hannah Arendt
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Catch-22
«À primeira vista este homem deixara de ser um doido: houvera um motivo no seu crime - querer endoidecer. Mas, por amor de Deus, tal motivo melhor vinha provar ainda a sua loucura: só a um doido podia ocorrer semelhante ideia.»
Mistério, Mário de Sá Carneiro
Mistério, Mário de Sá Carneiro
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Mesmo sabendo como é, de quem que já lá tinha estado e também tinha ficado impressionado, não estava preparado.
A única coisa que me disseram que precisava era do meu cartão de cidadão. Saí com ele na carteira naquela noite sabendo perfeitamente a finalidade para a qual iria precisar dele. O caminho até ao centro da cidade levou-nos por avenidas largas e compridas, pelo meio das obras, perto da Câmara Municipal. Daí até às ruas pedonais repletas de lojas, bares, restaurantes, é um pulinho. Locais e turistas preenchem as ruas, sentam-se nas esplanadas. Os locais com copos de café à frente – bebem pouco álcool mas têm o hábito do café –, os turistas é mais comum vê-los de caneca alta de cerveja à frente. Gatos pululam por todo o lado, muitos sentados à espera que caia algo da mesa de quem come.
Algures lá à frente, depois de passar pela animação da rua, vê-se um pré-fabricado, daqueles que normalmente associamos a escritórios em locais de obras. Branco. Uma bandeira. Chegamos e mostramos a nossa identificação ao oficial fardado à nossa frente. Olha para os cartões e faz-nos sinal com a mão para avançarmos. Poucos passos depois e estamos na no man’s land, um segmento (um quarteirão?), da mesma rua de há alguns passos atrás, completamente deserta, as lojas com as grades corridas em baixo, as portas e as janelas entaipadas. E, lá à frente, num pré-fabricado similar, um outro oficial fardado, com uma farda diferente, aguarda-nos. Mostramos novamente o cartão e obtemos autorização para entrar na República Turca do Norte do Chipre, de acordo com uma inscrição.
A rua continua a ser mesma mas agora as placas têm um nome em turco, escrito num fundo diferente. As lojas têm um aspecto diferente, assim como as pessoas. Os transeuntes são agora muito menos e praticamente não se vislumbram turistas, a maioria são locais e do sexo masculino. Locais que também se sentam nas esplanadas dos poucos cafés e falam uns com os outros. E que parecem ficar ao seguir-nos com os olhos enquanto passamos. Os gatos também marcam presença, passam ao nosso lado, atravessam à nossa frente enquanto vou olhando em todas as direcções. Ao fundo, à direita, ergue-se a mesquita, a partir da qual vêm os cânticos que se ouvem também do outro lado da cidade. Que é já ali ao lado.
Pouco depois resolvemos voltar: este local parece-me estranhamente inóspito, pouco convidativo. Talvez pela estranha diferença incutida por uma fronteira inesperada em algo que, de outra forma, não tem razão para ser diferente. Como se a nossa fronteira com Espanha fosse em plena Rua Augusta. Fazemos o percurso inverso de passar pelos pré-fabricados e pela zona deserta que os separa, que em tempos deveria ter tanta vida como qualquer parte da mesma rua. À chegada ao ponto de origem, olho para a placa que se ergue à beira da fronteira. Em cima, lê-se Nicósia escrito em grego; por debaixo, em inglês, francês e alemão, lê-se “a última capital dividida”.
Algures lá à frente, depois de passar pela animação da rua, vê-se um pré-fabricado, daqueles que normalmente associamos a escritórios em locais de obras. Branco. Uma bandeira. Chegamos e mostramos a nossa identificação ao oficial fardado à nossa frente. Olha para os cartões e faz-nos sinal com a mão para avançarmos. Poucos passos depois e estamos na no man’s land, um segmento (um quarteirão?), da mesma rua de há alguns passos atrás, completamente deserta, as lojas com as grades corridas em baixo, as portas e as janelas entaipadas. E, lá à frente, num pré-fabricado similar, um outro oficial fardado, com uma farda diferente, aguarda-nos. Mostramos novamente o cartão e obtemos autorização para entrar na República Turca do Norte do Chipre, de acordo com uma inscrição.
A rua continua a ser mesma mas agora as placas têm um nome em turco, escrito num fundo diferente. As lojas têm um aspecto diferente, assim como as pessoas. Os transeuntes são agora muito menos e praticamente não se vislumbram turistas, a maioria são locais e do sexo masculino. Locais que também se sentam nas esplanadas dos poucos cafés e falam uns com os outros. E que parecem ficar ao seguir-nos com os olhos enquanto passamos. Os gatos também marcam presença, passam ao nosso lado, atravessam à nossa frente enquanto vou olhando em todas as direcções. Ao fundo, à direita, ergue-se a mesquita, a partir da qual vêm os cânticos que se ouvem também do outro lado da cidade. Que é já ali ao lado.
Pouco depois resolvemos voltar: este local parece-me estranhamente inóspito, pouco convidativo. Talvez pela estranha diferença incutida por uma fronteira inesperada em algo que, de outra forma, não tem razão para ser diferente. Como se a nossa fronteira com Espanha fosse em plena Rua Augusta. Fazemos o percurso inverso de passar pelos pré-fabricados e pela zona deserta que os separa, que em tempos deveria ter tanta vida como qualquer parte da mesma rua. À chegada ao ponto de origem, olho para a placa que se ergue à beira da fronteira. Em cima, lê-se Nicósia escrito em grego; por debaixo, em inglês, francês e alemão, lê-se “a última capital dividida”.
domingo, 22 de outubro de 2017
sábado, 21 de outubro de 2017
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Salto
A maior parte dos que puxam a TV-box para trás para ver a Quadratura do Círculo avançam as partes do Jorge Coelho para a frente.
quinta-feira, 19 de outubro de 2017
Crime (re)compensa
«There seems to be little correlation between poverty and honesty. One would rather expect the opposite; dishonesty may not always pay but surely it sometimes does.»
Capitalism and freedom, Milton Friedman
Capitalism and freedom, Milton Friedman
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Armas de fogo
O argumento de que o Estado não pode acudir sempre aos cidadãos e que estes têm de ser capazes de se fazer valer é usado frequentemente nos EUA para justificar o direito de posse de armas.
terça-feira, 17 de outubro de 2017
É preciso perceber
A água que se sacode no capote é manifestamente insuficiente para apagar fogos.
Gonçalo Ribeiro Telles
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
A funcionária do aeroporto de Viena pede-me para ver o cartão de embarque e a minha identificação enquanto aguardamos.
Mostro-lhe o meu cartão de cidadão e o visor do telefone mas ela quer em papel para poder rabiscar e, desta forma, poupar-me a ter de mostrar novamente quando for o momento de entrar para o ambiente. E diz-me
I think you wouldn’t be lucky when I wrote on your phone
Duas coisas que não fazem sentido. Começo pela segunda: “when” é claramente “if” e está relacionado com o facto de o “wenn” alemão significar as duas coisas, apenas o contexto da frase os distingue. Mas concentremo-nos na segunda, outro falso amigo com o qual ainda não me tinha deparado a falar inglês com nativos da língua alemã. O “lucky” não é “lucky”, é “happy”. Acontece que “glücklich”, de “Glück”, que significa sorte ou felicidade, tanto pode, por isso, ser “sortudo” como “feliz” ou “contente”.
Esta coincidência dos dois significados na mesma palavra é interessante. Porque parece que a felicidade ou o contentamento germânicos são fenómenos de sorte, como se fossem exogenamente determinados por um acaso favorável, e não algo decorrente de uma acção levada a cabo por aquele que se sente feliz ou contente.
I think you wouldn’t be lucky when I wrote on your phone
Duas coisas que não fazem sentido. Começo pela segunda: “when” é claramente “if” e está relacionado com o facto de o “wenn” alemão significar as duas coisas, apenas o contexto da frase os distingue. Mas concentremo-nos na segunda, outro falso amigo com o qual ainda não me tinha deparado a falar inglês com nativos da língua alemã. O “lucky” não é “lucky”, é “happy”. Acontece que “glücklich”, de “Glück”, que significa sorte ou felicidade, tanto pode, por isso, ser “sortudo” como “feliz” ou “contente”.
Esta coincidência dos dois significados na mesma palavra é interessante. Porque parece que a felicidade ou o contentamento germânicos são fenómenos de sorte, como se fossem exogenamente determinados por um acaso favorável, e não algo decorrente de uma acção levada a cabo por aquele que se sente feliz ou contente.
domingo, 15 de outubro de 2017
sábado, 14 de outubro de 2017
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
Os cartazes eleitorais
O processo de escrutínio e avaliação do grau de comicidade dos cartazes eleitorais é um clássico das autárquicas. Mensagens e emails, redes sociais, programas de televisão em que os casos mais caricatos são dissecados ao pormenor. Mas há outro prazer, um assumido guilty pleasure que associo a estes cartazes - em bom rigor, também é possível de realizar noutras eleições, embora com muito menos escolha do que nas locais: a adulteração das imagens dos candidatos, através de dentes pintados, verrugas acrescentadas com canetas, rugas e demais características físicas pronunciadas. É altamente infantil e, admito, parvo. Eu próprio não me dedico a este tipo de intervenção pouco cívica. Mas não resisto a um sorriso e, nas melhores manifestações de criatividade, mesmo até um pequeno riso, quando observo, na via pública, algumas verdadeiras obras de arte.
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Substituição
«(...) That unquenchable hunger, that hollowness at the center, does speak to something real - to a profound emptiness at the heart of the very culture that spawned Donald Trump. And that hollowness is intimately connected to the rise of lifestyle brands, the shift that gave Trump an ever-expanding platform. The rise of the hollow brands - selling everything, owning next to nothing - happened over decades when the key institutions that used to provide individuals with a sense of community and a share identity were in sharp decline: tightly knit neighborhoods where people looked out for one another; large workplaces that held out the promise of a job for life; space and time for ordinary people to make their own art, not just consume it; organised religion; political movements and trade unions that were grounded in face-to-face relationships; public-interest media that strove to knit nations together in a common conversation.
All these institutions and traditions were and are imperfect, often deeply so. They left many people out, and very often enforced an unhealthy conformity. But they did offer something we humans need for our well-being, and for which we never cease to long community, connection, a sense of mission larger than our immediate atomized desires. These two trends - the decline of communal institutions and the expansion of corporate brands in our culture - have had an inverse, seesaw-like relationship to one another over decades: as the influence of those institutions that provided us with the essential sense of belonging went down, the power of commercial brands went up.»
No is not enough, Naomi Klein
All these institutions and traditions were and are imperfect, often deeply so. They left many people out, and very often enforced an unhealthy conformity. But they did offer something we humans need for our well-being, and for which we never cease to long community, connection, a sense of mission larger than our immediate atomized desires. These two trends - the decline of communal institutions and the expansion of corporate brands in our culture - have had an inverse, seesaw-like relationship to one another over decades: as the influence of those institutions that provided us with the essential sense of belonging went down, the power of commercial brands went up.»
No is not enough, Naomi Klein
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
Fala-se de tendências a propósito da moda.
Não faz muito sentido: a ser alguma coisa, a moda é altamente cíclica. Com alguma componente irregular, aqui e ali.
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
Why Investors Bet on Gun Sales After a Mass Shooting
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