terça-feira, 11 de abril de 2017

Entrou pelo lado contrário ao do banco do piano, que está sempre à esquerda de quem olha para o palco.

Avançou trôpega, desequilibrada, como quem luta, em simultâneo, com o vestido justo e os saltos altos. Ou, pura e simplesmente, bebeu um copo ou dois a mais. Como sempre, o vestido é vistoso. Neste caso, escuro, com lantejoulas, longo, com uma cauda, as costas abertas e um decote apertado. Só não tinha a racha que é, normalmente, estrategicamente colocada na perna direita para, com a orientação do piano e do banco, ficar virada para o público.

A mão a deslizar pelo rebordo do tampo do piano enquanto caminhava, até que parou de frente para o público e fez uma vénia pronunciada, teatral de exagerada que foi. Sentou-se e deu início aos 24 prelúdios de Chopin. Um por cada uma das tonalidades maiores e a sua respectiva relativa menor, ordenados pelo ciclo das quintas. Não que tens tocado mal - duvido que o consiga sequer fazer. Mas foi pouco convincente, pouco embrenhada de forma que esperaria ver. Talvez o público tenha tido alguma responsabilidade: por mais de uma vez, no momento em que inspirou e ergueu os braços na direcção do teclado para começar o prelúdio seguinte, foi desconcentrada pela tosse de um qualquer espectador. Voltou com as mãos atrás, ajeitou-se na cadeira, coçou a cabeça.

Veio o intervalo. Os vinte minutos escritos no programa esticaram para meia hora, momento a partir do qual alguns dos espectadores, impacientes, começaram a bater palmas e a assobiar. Aos trinta e cinco minutos, o apresentador anunciou que a jovem pianista chinesa regressaria dentro de cinco minutos. E voltou. A mesma entrada atabalhoada, embora, desta vez, as variações e fuga sobre um tema de Händel de Brahms tenham soado de outra forma.

E depois veio talvez a melhor parte do concerto. Yuja Wang é conhecida pelos encores e esteve à altura dessa fama. Foram seis e impressionantes (um dos quais, fenomenal, aqui em baixo). Entrou e saiu todas estas vezes, uma delas esbarrou contra a porta giratória que dá acesso ao palco e, na entrada seguinte, não conseguiu não se rir um pouco. É possível que tenha fumado umas coisas durante o intervalo. Se o fez, apoio incondicionalmente. Porque resultou.

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