segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
sábado, 27 de dezembro de 2014
A TSF é curiosa
É uma rádio essencialmente de publicidade e anúncios polvilhada, aqui e ali, por programas noticiosos. E, às vezes, passa música, que normalmente é da melhor que se ouve em qualquer frequência.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Up to a point
O teu lugar. A tua cadeira. O teu lugar que já não é teu. Ainda não vi
(não quero ver)
mas sei que já não estás
Naquele lugar, naquela cadeira.
Já não é teu. Como é natural
(perfeitamente normal, lógico até)
que o deixe de ser. Nada disto é teu, deixou de ser, como tinha que ser, assim como o meu lugar há muito tempo que deixou de ser meu. Outra pessoa no meu lugar, na minha cadeira. Estranho como nada disso me incomoda: alguém no meu lugar e isso parece-me perfeitamente natural, normal. Lógico. Mas o teu
Lugar, cadeira.
E pior do que vazio, pior do que não estares lá tu é estar outra pessoa. Outra pessoa onde costumavas estar, onde devias estar, onde me lembro de te ver
(ainda não vi)
onde me lembro de me ter habituado a ver-te. E eu sei que é normal, natural, lógico que já não estejas - como eu, que há muito tempo deixei tudo
(outra pessoa no meu lugar, e isso não me incomoda).
Mas outra pessoa no
Teu lugar, tua cadeira
Não me é natural, lógico, normal. E incomoda-me.
(não quero ver)
mas sei que já não estás
Naquele lugar, naquela cadeira.
Já não é teu. Como é natural
(perfeitamente normal, lógico até)
que o deixe de ser. Nada disto é teu, deixou de ser, como tinha que ser, assim como o meu lugar há muito tempo que deixou de ser meu. Outra pessoa no meu lugar, na minha cadeira. Estranho como nada disso me incomoda: alguém no meu lugar e isso parece-me perfeitamente natural, normal. Lógico. Mas o teu
Lugar, cadeira.
E pior do que vazio, pior do que não estares lá tu é estar outra pessoa. Outra pessoa onde costumavas estar, onde devias estar, onde me lembro de te ver
(ainda não vi)
onde me lembro de me ter habituado a ver-te. E eu sei que é normal, natural, lógico que já não estejas - como eu, que há muito tempo deixei tudo
(outra pessoa no meu lugar, e isso não me incomoda).
Mas outra pessoa no
Teu lugar, tua cadeira
Não me é natural, lógico, normal. E incomoda-me.
O diabo está nos detalhes. Ou no maxilar inferior.
As pessoas falam do céu da boca mas nunca do inferno. Será a parte de baixo?
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Atestado da velhice de uma viatura
Não obstante a recente quebra da cotação do Brent e subsequente ajustamento dos preços dos combustíveis, o valor residual do meu carro aumenta substancialmente sempre que atesto o depósito.
domingo, 21 de dezembro de 2014
You name it
Gozamos (criticamos?) com os americanos pela falta de originalidade nos nomes das cidades. Que os EUA repetiram a fórmula de Paris já o sabemos, culpa de Wim Wenders. Embora tenha avisado apenas em relação ao Texas, deixou de fora as restantes Paris do Kentucky, o Tennessee e o Illinois. E tantas outras fórmulas repetidas, como London e até a nossa Lisboa versão Lisbon.
Mas tentemos colocar-nos no lugar dos responsáveis por este estado das coisas. Há uns quantos séculos atrás, depois de uma viagem transatlântica num barco – que deveria conseguir a proeza de ser bastante mais desconfortável que voar em turística durante umas oito horas – os descobridores e/ou colonos chegavam a um sítio totalmente desconhecido e tinham que desencantar um nome para o local.
É claro que nem todos conseguiram grandes feitos: tirar coelhos da cartola não é suficiente para descrever este processo. Há algumas técnicas para lidar com o assunto. A primeira, e eventualmente preferível, seria conseguir inventar qualquer coisa completamente nova. Mas é tramado conseguir tal façanha e não podemos mandar a primeira pedra ao colono que falhe a tentar.
Outro refúgio é emprestar uma designação dos nativos americanos. Esta prática foi posta em prática com algum sucesso aqui e ali: Massachusetts, que tanta inspiração acabou por dar aos Bee Gees, mas também Manhattan ou o Hawai, ou ainda Malibu e o rio Potomac. Outro ainda é associar o local a uma determinada data: a Ilha da Páscoa e o Rio de Janeiro.
Quando nada disto funciona, lá está, temos que recorrer à pátria mãe e, de repente, entramos nos casos que referia há pouco. Claro que podemos fazer ligeiras adaptações, como Nova Iorque, Nova Jérsia e Nova Orleães, é só acrescentar o adjectivo no início.
Importante é que tudo isto não é específico dos EUA: veja-se a quantidade de Córdobas que existem por essa América Latina fora ou a Austrália de New South Wales e Newcastle. E quando nem a pátria mãe nos salva (ou então apenas porque temos um ego), nada como designar o local com o nosso próprio nome. Do rio Hudson ao estreito de Magalhães, quiçá o exemplo máximo de todos – e útil para fechar o círculo – seja a própria América.
Mas tentemos colocar-nos no lugar dos responsáveis por este estado das coisas. Há uns quantos séculos atrás, depois de uma viagem transatlântica num barco – que deveria conseguir a proeza de ser bastante mais desconfortável que voar em turística durante umas oito horas – os descobridores e/ou colonos chegavam a um sítio totalmente desconhecido e tinham que desencantar um nome para o local.
É claro que nem todos conseguiram grandes feitos: tirar coelhos da cartola não é suficiente para descrever este processo. Há algumas técnicas para lidar com o assunto. A primeira, e eventualmente preferível, seria conseguir inventar qualquer coisa completamente nova. Mas é tramado conseguir tal façanha e não podemos mandar a primeira pedra ao colono que falhe a tentar.
Outro refúgio é emprestar uma designação dos nativos americanos. Esta prática foi posta em prática com algum sucesso aqui e ali: Massachusetts, que tanta inspiração acabou por dar aos Bee Gees, mas também Manhattan ou o Hawai, ou ainda Malibu e o rio Potomac. Outro ainda é associar o local a uma determinada data: a Ilha da Páscoa e o Rio de Janeiro.
Quando nada disto funciona, lá está, temos que recorrer à pátria mãe e, de repente, entramos nos casos que referia há pouco. Claro que podemos fazer ligeiras adaptações, como Nova Iorque, Nova Jérsia e Nova Orleães, é só acrescentar o adjectivo no início.
Importante é que tudo isto não é específico dos EUA: veja-se a quantidade de Córdobas que existem por essa América Latina fora ou a Austrália de New South Wales e Newcastle. E quando nem a pátria mãe nos salva (ou então apenas porque temos um ego), nada como designar o local com o nosso próprio nome. Do rio Hudson ao estreito de Magalhães, quiçá o exemplo máximo de todos – e útil para fechar o círculo – seja a própria América.
sábado, 20 de dezembro de 2014
Um almoço forçado.
Para encher um vazio de calendário ou de programa. Que discutir com meia dúzia de turcos aos quais apenas fui apresentado há uma hora atrás?
Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.
E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.
E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.
Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.
Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.
E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.
E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.
Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
I got your back, baby
É difícil de identificar quem faz de wing(wo)man em pares de Testemunhas de Jeová.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Sem rei mas com roque
Há muitos anos, um convidado de um programa de televisão, abertamente monárquico, foi questionado sobre a razão da sua preferência política. Respondeu à pergunta com outra pergunta que alguém, uma referência sua, lhe teria colocado: já reparaste que os países europeus mais desenvolvidos são monarquias? Estava a referir-se aos países escandinavos, ao Reino Unido, à Holanda, à Bélgica que, efectivamente, têm níveis de desenvolvimento dos mais elevados do mundo.
Esta história é particularmente interessante para explicar a típica confusão que por vezes existe entre correlação e causalidade. Mas antes disso, em primeiro lugar, há um importante ponto em relação à delimitação do perímetro elegível para analisar monarquias. A escolha da Europa (ocidental) não é inocente uma vez que é uma das zonas do mundo onde existe simultaneamente um grande número de monarquias e países com elevado desenvolvimento. No entanto, mesmo assim há os casos da Alemanha e da França que não têm monarquias mas têm elevado nível de desenvolvimento e, por outro lado, a Espanha que tem uma monarquia e que, no quadro da Europa Ocidental, não sendo terceiro-mundista, também não é propriamente escandinava.
Para ter uma abordagem mais exaustiva, resolvi consultar a Wikipedia, essa fonte de elevado gabarito. De acordo com a enciclopédia virtual, há uma série de outras monarquias no mundo para além das dos países europeus, e mesmo sem contar com os países da Commonwealth. Comecemos no que está mais longe de nós, a Oceânia, onde só temos um exemplar: Tonga. Daí passemos à Ásia onde temos o Brunei, a Malásia, o Cambodja e a Tailândia e, mais ao norte, o Butão. Continuando para oeste, Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Oman e Qatar no Médio Oriente. Em África, o Lesotho e a Swazilândia e, no norte, no Magrebe, temos Marrocos.
De repente, a coincidência entre elevado desenvolvimento humano e a existência de um regime monárquico deixar de ser tão óbvia. Claro que poderia ser argumentado que as monarquias coincidem com os países mais desenvolvidos dentro de um grupo com características comuns, ou seja, uma análise por clusters. Ainda assim, por exemplo, o Cambodja é um dos países com um Índice de Desenvolvimento Humano mais baixos do mundo em qualquer grupo que possa ser considerado.
De uma forma mais geral, a confusão entre correlação e causalidade é algo abundante. Lidamos mal com aquilo que não sabemos ou entendemos e estamos programados para tentar construir relações de causa/consequência. Por vezes, isso faz-nos interpretar erradamente aquilo que vemos: uma relação de correlação sem causalidade. Ou que não vemos: uma terceira variável que não observamos e que, essa sim, tem uma relação de causalidade sobre outras duas (correlacionadas entre si) que observamos.
Um exemplo mais palpável. Tenho cada vez mais rugas e cabelos brancos mas dificilmente poderia argumentar convincentemente que os cabelos brancos são a causa das rugas ou vice-versa. Em princípio, a minha idade, genética ou hábitos de vida terão uma responsabilidade maior na evolução desses dois “indicadores”.
O facto de que (alguns) países com elevado nível de desenvolvimento terem monarquias não significa que uma das variáveis cause a outra. Há seguramente um conjunto de variáveis históricas, sociais, económicas e culturais que conduziram tanto a esse sistema político (ou à ausência de mudança para outro) e a esse nível de desenvolvimento. Ter uma monarquia não é uma condição necessária – e muito menos suficiente – para um país subir no ranking do desenvolvimento. A questão verdadeiramente relevante é se instaurar uma monarquia conduz a um melhor funcionamento do país tudo o resto igual. E este “tudo o resto igual” faz toda a diferença: a nossa vida seria muito mais fácil se tornar o nosso país numa nação mais próspera fosse tão elementar como construir um trono e designar alguém para nele se sentar.
Esta história é particularmente interessante para explicar a típica confusão que por vezes existe entre correlação e causalidade. Mas antes disso, em primeiro lugar, há um importante ponto em relação à delimitação do perímetro elegível para analisar monarquias. A escolha da Europa (ocidental) não é inocente uma vez que é uma das zonas do mundo onde existe simultaneamente um grande número de monarquias e países com elevado desenvolvimento. No entanto, mesmo assim há os casos da Alemanha e da França que não têm monarquias mas têm elevado nível de desenvolvimento e, por outro lado, a Espanha que tem uma monarquia e que, no quadro da Europa Ocidental, não sendo terceiro-mundista, também não é propriamente escandinava.
Para ter uma abordagem mais exaustiva, resolvi consultar a Wikipedia, essa fonte de elevado gabarito. De acordo com a enciclopédia virtual, há uma série de outras monarquias no mundo para além das dos países europeus, e mesmo sem contar com os países da Commonwealth. Comecemos no que está mais longe de nós, a Oceânia, onde só temos um exemplar: Tonga. Daí passemos à Ásia onde temos o Brunei, a Malásia, o Cambodja e a Tailândia e, mais ao norte, o Butão. Continuando para oeste, Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Oman e Qatar no Médio Oriente. Em África, o Lesotho e a Swazilândia e, no norte, no Magrebe, temos Marrocos.
De repente, a coincidência entre elevado desenvolvimento humano e a existência de um regime monárquico deixar de ser tão óbvia. Claro que poderia ser argumentado que as monarquias coincidem com os países mais desenvolvidos dentro de um grupo com características comuns, ou seja, uma análise por clusters. Ainda assim, por exemplo, o Cambodja é um dos países com um Índice de Desenvolvimento Humano mais baixos do mundo em qualquer grupo que possa ser considerado.
De uma forma mais geral, a confusão entre correlação e causalidade é algo abundante. Lidamos mal com aquilo que não sabemos ou entendemos e estamos programados para tentar construir relações de causa/consequência. Por vezes, isso faz-nos interpretar erradamente aquilo que vemos: uma relação de correlação sem causalidade. Ou que não vemos: uma terceira variável que não observamos e que, essa sim, tem uma relação de causalidade sobre outras duas (correlacionadas entre si) que observamos.
Um exemplo mais palpável. Tenho cada vez mais rugas e cabelos brancos mas dificilmente poderia argumentar convincentemente que os cabelos brancos são a causa das rugas ou vice-versa. Em princípio, a minha idade, genética ou hábitos de vida terão uma responsabilidade maior na evolução desses dois “indicadores”.
O facto de que (alguns) países com elevado nível de desenvolvimento terem monarquias não significa que uma das variáveis cause a outra. Há seguramente um conjunto de variáveis históricas, sociais, económicas e culturais que conduziram tanto a esse sistema político (ou à ausência de mudança para outro) e a esse nível de desenvolvimento. Ter uma monarquia não é uma condição necessária – e muito menos suficiente – para um país subir no ranking do desenvolvimento. A questão verdadeiramente relevante é se instaurar uma monarquia conduz a um melhor funcionamento do país tudo o resto igual. E este “tudo o resto igual” faz toda a diferença: a nossa vida seria muito mais fácil se tornar o nosso país numa nação mais próspera fosse tão elementar como construir um trono e designar alguém para nele se sentar.
domingo, 14 de dezembro de 2014
Loucura
«Duas formas de loucura, portanto: alguém que perdeu o real e alguém que perdeu o irreal, o imaginário.
Mas é evidente que há dois tipos de punição: alguém que perdeu a ligação com o real é punido socialmente, pelo conjunto dos homens e das suas relações, e é ainda punido materialmente, isto é: punido pela matéria: porque perceber minimamente o real é saber lidar com ele perceber coisas simples, como a provável queda de uma pedra que se encontra num ponto alto e está desequilibrada. (Apanhar na cabeça com uma pedra é um exemplo de uma punição do real.) Perder a função do real é assim perder os homens e o mundo, ou mais propriamente, é perder o mundo e a cidade, perder a natureza, as suas regras, previsibilidades e repetições e ainda a ligação com os homens, com os seus modos de viver.
Perder a função do irreal, perder o imaginário é, de facto, menos grave, temos de o reconhecer. Quem perdeu o imaginário privado pode ainda viver tranquilamente no mundo, defendendo-se dos homens por via dos bons negócios e defendendo-se da natureza por via dos sensato comportamento do corpo. No entanto, esse homem perde algo de substancial pois o imaginário individual é isto mesmo: a marca de um indivíduo, a marca privada que separa um homem do outro, que os distingue, que os faz merecer uma morte individual.»
Atlas do corpo e da imaginação, Gonçalo M. Tavares
Mas é evidente que há dois tipos de punição: alguém que perdeu a ligação com o real é punido socialmente, pelo conjunto dos homens e das suas relações, e é ainda punido materialmente, isto é: punido pela matéria: porque perceber minimamente o real é saber lidar com ele perceber coisas simples, como a provável queda de uma pedra que se encontra num ponto alto e está desequilibrada. (Apanhar na cabeça com uma pedra é um exemplo de uma punição do real.) Perder a função do real é assim perder os homens e o mundo, ou mais propriamente, é perder o mundo e a cidade, perder a natureza, as suas regras, previsibilidades e repetições e ainda a ligação com os homens, com os seus modos de viver.
Perder a função do irreal, perder o imaginário é, de facto, menos grave, temos de o reconhecer. Quem perdeu o imaginário privado pode ainda viver tranquilamente no mundo, defendendo-se dos homens por via dos bons negócios e defendendo-se da natureza por via dos sensato comportamento do corpo. No entanto, esse homem perde algo de substancial pois o imaginário individual é isto mesmo: a marca de um indivíduo, a marca privada que separa um homem do outro, que os distingue, que os faz merecer uma morte individual.»
Atlas do corpo e da imaginação, Gonçalo M. Tavares
sábado, 13 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Homem que ladra
As pessoas dizem de cães especialmente interactivos que só lhes falta falar. Já eu tenho dias em que só me falta mesmo ladrar. Ou ganir.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Auto-imunidade
O orgulho é exigente, não se contenta com pouco, precisa de cuidados meticulosos. É absorvente, obriga a uma atenção constante. E, aos poucos, vai cegando, tirando os olhos do que é verdadeiramente importante. Porque o orgulho é exactamente aquilo que é: orgulhoso. Como alternativa, um sucedâneo, uma espécie de parente pobre: o contentamento. Mais plácido, mais contido. Introvertido e fechado. E, por isso, permite o essencial: manter a perspectiva adequada.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Roubini e tanto dá até que fura
É a enésima vez que o Dr. Doom faz previsões do género. A certa altura vai mesmo acertar. Quando acertar, curiosamente, vai parecer uma coisa do outro mundo - a memória é uma senhora muito selectiva.
domingo, 7 de dezembro de 2014
Perder a auto-censura.
Deixar-se ir, vencer o filtro que, no limite, está lá por uma questão sobrevivência. É uma luta interna, uma luta contra o instinto de auto-preservação. Fechar os olhos, respirar fundo. Aceitar. E, com isso, crescer e amadurecer.
sábado, 6 de dezembro de 2014
Numa única olhadela, de rajada
1 - A polícia de Nova Iorque matou mais um cidadão negro
2 - A equipa contra a qual ninguém quer jogar
3 - Jornal japonês Sankei Shimbun pede desculpas por publicidade anti-semita
4 - E se o seu vizinho tivesse uma piscina com uma suástica no fundo?
2 - A equipa contra a qual ninguém quer jogar
3 - Jornal japonês Sankei Shimbun pede desculpas por publicidade anti-semita
4 - E se o seu vizinho tivesse uma piscina com uma suástica no fundo?
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
Subscrever:
Mensagens (Atom)