terça-feira, 30 de julho de 2013
You're addicted to love (might as well face it)
Dizia-se uma autêntica viciada no amor, uma eterna apaixonada. E por isso mudava periodicamente de objecto não fosse essa paixão esmorecer.
sábado, 27 de julho de 2013
Não me faças perguntas que eu te saiba responder.
Faz-me perguntas para as quais não há resposta.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Pomada
Estava um calor imenso, como sempre naquela terra no Verão. Lembro-me de ter entrado na cozinha vindo da rua, morto de sede. Vi um copo escuro, translúcido em cima da mesa, enchi-o de água e levei à boca com sofreguidão. De imediato, um sabor horrível ficou-me na boca e cuspi o conteúdo. Demorei um pouco a perceber que o copo estava sujo de vinho – o meu avô tinha estado na cozinha, tinha bebido e deixado o copo ali.
Esta foi a primeira vez que – embora inadvertidamente e numa muita pequena quantidade altamente diluída em água – provei vinho.
Esta foi a primeira vez que – embora inadvertidamente e numa muita pequena quantidade altamente diluída em água – provei vinho.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Petit doigt
Criticava acerrimamente o quanto as pessoas valorizam – conscientemente e não – as suas impressões para tomar decisões. Perguntei-lhe em que baseava a sua certeza de que a intuição é assim tão mau instrumento de previsão.
Tenho um dedo que adivinha.
Tenho um dedo que adivinha.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
terça-feira, 23 de julho de 2013
Às vezes lembro-te de ti.
Lembro-me que existes. De raspão, nas situações mais insólitas e invulgares. A forma que a memória tem de nos pregar partidas. Pergunto-me onde andarás, que será feito, como estarás. E depois percebo a indiferença. A minha indiferença. És-me totalmente indiferente. Ou passaste a sê-lo. E é uma indiferença que me espanta – não contava com ela, juro que não a esperava, pelo menos com esta intensidade gélida. Se, por um lado, confesso que me sabe muito bem – uma quase liberdade – por outro quase me sinto mal: é quase como se estivesse a fazer-te algo desagradável, a desrespeitar-te, percebes? Não me deverias ser indiferente, tudo em ti deveria mexer-me. E, talvez por isso, não consiga ser (totalmente) indiferente a essa indiferença. Por uma questão de educação. Não, nem sequer é bem isso. É porque às vezes preocupo-me comigo próprio. Juro.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Desjejum
As paletes com pacotes de leite eram distribuídas normalmente na primeira aula da manhã. A professora recebia das mãos da contínua e distribuía pela turma toda. Lembro-me de não perceber todo o alcance, o propósito e de não dizer que não queria um daqueles pacotes castanhos. Depois percebi e então passei a pedir sempre: custa menos a quem precisa se não se destacar dos que não precisam. Isto foi há cerca de vinte anos. É triste que isto ainda seja notícia.
domingo, 21 de julho de 2013
Um sintoma da nossa pequenez
Noticiar sempre que somos notícia – por boas e más razões – nos meios de comunicação estrangeiros.
sábado, 20 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
quarta-feira, 17 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
Estender a mão
Na esquina, na zona curva do passeio, perto dos semáforos e onde desagua quem atravessa a passadeira. Perto da entrada de um prédio. De joelhos, os braços estendidos em frente com um recipiente nas mãos, a cabeça curvada e os olhos fechados. Totalmente oposto a tantos outros que pedem – fazendo jus à designação de pedintes. Este não. Não diz uma palavra e limita-se a ficar naquela posição.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Forward guidance
«I’m not going to tell you that money doesn’t matter, because you wouldn’t believe me anyway. In fact, for too many people around the world, money is literally a life-or-death proposition. But if you are part of the lucky minority with the ability to choose, remember that money is a means, not an end. A career decision based only on money and not on love of the work or a desire to make a difference is a recipe for unhappiness. »
Ben Bernanke
Ben Bernanke
domingo, 14 de julho de 2013
Quelque
Quando almoçava sozinho, no fim, costumava perguntar-me
Quer algum cafezinho?
Eu respondia-lhe sempre que sim e ela punha a cafeteira pequena que dava para apenas uma chávena ao lume. Eu achava-lhe graça, não usava aquela forma com mais nada, por exemplo
Quer algum pão, quer alguma fruta, quer algum guardanapo, quer algum prato, copo
Nada disto. Só mesmo com o café. Alentejana, talvez seja um regionalismo, pensei a certa altura.
Há dias entrei numa mercearia em Lisboa para fazer uma pequena compra. Dirijo-me à caixa, pago, estou a enfiar na carteira o troco quando a senhora olha para mim e me pergunta
Quer algum saco?
Respondi-lhe que sim.
Quer algum cafezinho?
Eu respondia-lhe sempre que sim e ela punha a cafeteira pequena que dava para apenas uma chávena ao lume. Eu achava-lhe graça, não usava aquela forma com mais nada, por exemplo
Quer algum pão, quer alguma fruta, quer algum guardanapo, quer algum prato, copo
Nada disto. Só mesmo com o café. Alentejana, talvez seja um regionalismo, pensei a certa altura.
Há dias entrei numa mercearia em Lisboa para fazer uma pequena compra. Dirijo-me à caixa, pago, estou a enfiar na carteira o troco quando a senhora olha para mim e me pergunta
Quer algum saco?
Respondi-lhe que sim.
sábado, 13 de julho de 2013
Sobem a rua os dois, todas as manhãs.
Ele é alto e cheiinho, a ficar careca, dentes de fumador. Tem um andar um pouco desengonçado, como se o fato o estivesse a incomodar e a dificultar a deslocação. Ela tem um cabelo castanho ondulado, uns olhos claros e uma cara suave sem grandes traços, daquelas que facilmente se podem encaixar em diferentes mulheres.
Não os conheço de lado nenhum excepto nesta circunstância e, ainda assim, é como se já os conhecesse. Às vezes conversam, rua acima, como velhos amigos que se encontram após uma longa ausência. Outras vezes, a maior parte das vezes, rendem-se à falta de tema que ocupe aqueles instantes e caminham mecanicamente, olhos na calçada.
Mesmo nesse silêncio que me parece incómodo, sinto-os cómodos um com o outro. Ele é calmo, a calma dele é a solidez que ela vê nele – ela sabe que pode contar com ele. E ele tem tudo o que quer, que é saber que no dia seguinte ela vai voltar a subir a rua ao lado dele.
É esse conforto que os une nessa incómoda caminhada silenciosa.
Não os conheço de lado nenhum excepto nesta circunstância e, ainda assim, é como se já os conhecesse. Às vezes conversam, rua acima, como velhos amigos que se encontram após uma longa ausência. Outras vezes, a maior parte das vezes, rendem-se à falta de tema que ocupe aqueles instantes e caminham mecanicamente, olhos na calçada.
Mesmo nesse silêncio que me parece incómodo, sinto-os cómodos um com o outro. Ele é calmo, a calma dele é a solidez que ela vê nele – ela sabe que pode contar com ele. E ele tem tudo o que quer, que é saber que no dia seguinte ela vai voltar a subir a rua ao lado dele.
É esse conforto que os une nessa incómoda caminhada silenciosa.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Tuner
Chegámos à porta do apartamento com um molho de chaves e instruções sobre qual utilizar. A partir da porta nascia um corredor donde brotavam as divisões à esquerda. A primeira, a cozinha, tinha a janela virada para o pátio donde tínhamos saído. Ouvia-se um rádio. Lembro-te de ter achado curioso porque não estava ninguém no apartamento naquele momento, seria mais lógico que o rádio estivesse desligado. Mas pouco depois reparo que, em cada divisão, sem excepção, havia um aparelho do género ligado. Até na casa-de-banho. E então ocorre-me que lá em baixo no pátio do prédio, onde tinha estado até àquele momento, no relvado com árvores, entre as cadeiras de lona, as geleiras e os grelhadores, também havia um rádio a tocar. Que só agora valorizava porque só agora tinha visitado o apartamento. Não havia um único sítio onde não houvesse constantemente música a acompanhá-los, mesmo onde não estavam.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Cabeçudos
O conjunto de estátuas – são catorze no total – é da autoria de um escultor chinês e foi colocado perto da Baía dos Ingleses, em Vancouver. Na minha cabeça tinha ficado o nome “Laughter Therapy” mas, aparentemente, segundo as minhas pesquisas na Internet, chama-se “A-maze-ing Laughter”. As mesmas pesquisas indicam que as estátuas chegaram ali por empréstimo para uma exposição temporária a propósito dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010. Ora o período de empréstimo terminou no Verão de 2012 e a população afeiçoou-se tanto à obra que as autoridades da cidade desenvolveram esforços para ficar definitivamente com ela. O problema é que o escultor tinha estabelecido a módica quantia de 5 milhões de dólares (e dos EUA, não do Canadá) como preço para os catorze cabeçudos. Felizmente a quantia não era uma condição irrevogável – um multimilionário da cidade conseguiu convencer o artista a deixar ficar as estátuas onde estão por apenas milhão e meio.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
domingo, 7 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
"Se é para apanhar uma insolação então que seja com uma cerveja em cada mão"
Ouvido na praia do Meco. Entre muitos outros igualmente sugestivos.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Trabalho de laboratório
Experimentei várias combinações e cheguei à conclusão que o melhor Apfelsaftschorle é obtido com Compal Fresh e Água Castello.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
My way
Há duas chávenas de café vazias em cima da mesa metálica na esplanada de calçada mas ela está sozinha. Olha fixamente em frente. Para lá da árvore, para lá do passeio e da estrada, do prédio do outro lado da rua. A cara muito pálida. Branca, macilenta. O lenço na cabeça esconde a ausência de cabelo e, ao tentar escondê-la, acaba por evidenciá-la, expô-la ainda mais. E, na mão direita – só reparo depois porque estava escondida pelo tampo da mesa – um cigarro.
terça-feira, 2 de julho de 2013
The hand that rocks the cradle
«- Afinal, você é canhoto? - pergunta o escritor, aproximando-se.
- Sim. Mas, para disparar, sou dextro.
A mão esquerda, explico com súbita inspiração, é a que segura as crianças ao colo. Não pode ser a mão que mata.»
A confissão da Leoa, Mia Couto
- Sim. Mas, para disparar, sou dextro.
A mão esquerda, explico com súbita inspiração, é a que segura as crianças ao colo. Não pode ser a mão que mata.»
A confissão da Leoa, Mia Couto
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Assino por baixo
“Literacia – Dizem-me uma e outra vez «não percebi o teu texto». Apetece-me sempre responder: «e o problema é meu?»”
“Ética bloguista – Escrever como se ninguém lesse. Escrever sabendo que alguém sempre lê.”
“Não uses isto – Já não é a primeira vez. Alguém conta uma história e depois olha para mim e pede seriamente: «não uses isto». Fico sempre um bocado perplexo, porque nunca divulguei segredos ou conversas alheios de cunho provado. Nem no blogue nem em lado nenhum.
Mas admito que encaro tudo o que me chega como «material» em potência. O mundo é um manancial inexaurível de frases e episódios. Mas existem regras claras: nomeadamente que as pessoas mencionadas nunca sejam identificáveis. Depois, recupero histórias que me contaram há anos e anos, mudo o sexo das personagens, pego em bocados e detalhes que me interessam, corto e colo a meu interesse. E uso aspas sempre que possível, mas umas aspas abstractas, que servem apenas para não me locupletar com achados alheios.
Nesse sentido é verdade, uso tudo. Mas não revelo nada.”
“Confessionalismos – recebo comentários preocupados ou incomodados com os meus posts «confessionais». Já escrevi várias vezes sobre esta violenta incomodidade face ao registo pessoal, uma incomodidade que não cessa de me espantar. E já expliquei que os meus textos assumidamente pessoais e mesmo intimistas quase nunca são confessionais. Um texto confessional é um texto que fornece informações de facto, enquanto os meus posts só transmitem estados de espírito (meus ou alheios).
Julgo que algumas pessoas que se incomodam com o suposto conteúdo confessional dos posts gostavam que o conteúdo fosse confessional (não é). Quando eu escrevo sobre «estar apaixonado», as pessoas supõem que eu estou apaixonado, o que é uma suposição sem provas nenhumas.
O chamado confessionalismo é, muitas vezes, apenas wishful thinking dos leitores.”
Prova de vida, Pedro Mexia
“Ética bloguista – Escrever como se ninguém lesse. Escrever sabendo que alguém sempre lê.”
“Não uses isto – Já não é a primeira vez. Alguém conta uma história e depois olha para mim e pede seriamente: «não uses isto». Fico sempre um bocado perplexo, porque nunca divulguei segredos ou conversas alheios de cunho provado. Nem no blogue nem em lado nenhum.
Mas admito que encaro tudo o que me chega como «material» em potência. O mundo é um manancial inexaurível de frases e episódios. Mas existem regras claras: nomeadamente que as pessoas mencionadas nunca sejam identificáveis. Depois, recupero histórias que me contaram há anos e anos, mudo o sexo das personagens, pego em bocados e detalhes que me interessam, corto e colo a meu interesse. E uso aspas sempre que possível, mas umas aspas abstractas, que servem apenas para não me locupletar com achados alheios.
Nesse sentido é verdade, uso tudo. Mas não revelo nada.”
“Confessionalismos – recebo comentários preocupados ou incomodados com os meus posts «confessionais». Já escrevi várias vezes sobre esta violenta incomodidade face ao registo pessoal, uma incomodidade que não cessa de me espantar. E já expliquei que os meus textos assumidamente pessoais e mesmo intimistas quase nunca são confessionais. Um texto confessional é um texto que fornece informações de facto, enquanto os meus posts só transmitem estados de espírito (meus ou alheios).
Julgo que algumas pessoas que se incomodam com o suposto conteúdo confessional dos posts gostavam que o conteúdo fosse confessional (não é). Quando eu escrevo sobre «estar apaixonado», as pessoas supõem que eu estou apaixonado, o que é uma suposição sem provas nenhumas.
O chamado confessionalismo é, muitas vezes, apenas wishful thinking dos leitores.”
Prova de vida, Pedro Mexia
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