Sabíamos que não ia ser possível voltar atrás, nem sequer um bocadito que fosse. É claro que sabíamos, não nascemos ontem. E, no entanto, apenas aflorámos o assunto. Ao de leve, en passant. Pior: assumimos que não tinha que ser um assunto: vamos ser seguramente capazes de lidar com isto como pessoas crescidas. E não foi ingenuidade. Antes cinismo ou pragmatismo – porque é sempre mais fácil evitar e fugir com o rabo à seringa, facilita a vida a toda a gente. Porque sabíamos perfeitamente que ia ser sempre muito difícil – para não dizer impossível – voltar atrás nem que fosse só um bocado. Não se volta atrás. Nem sequer há atrás para se poder voltar: uma vez atravessado aquele ponto, tudo o que está para trás passa a ser diferente do que era até àquele momento. Como se a história se reescrevesse de outra forma, com outras linhas, porque tudo agora pode ser interpretado novamente e com conclusões diferentes.
O que é certo é um certo clima de podridão diplomática. Esse fica e é um reflexo indelével da tal falta de ingenuidade – ou falsa ingenuidade tácita – e que, por isso, não pode ser afastado sem dar demasiado o flanco, abrir demasiado o jogo que é suposto estar definitivamente acabado, sem possibilidade de prolongamento nem contestação do resultado. E, por isso, permanece, fica de pedra e cal. Materializa-se numa espécie de eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes: ninguém quer dar o braço a torcer, ninguém quer chegar-se à frente, expor-se, sob pena de cair no ridículo do menosprezo. Porque a partir de agora – e ao contrário do início – há vitórias e derrotas, vencedores e vencidos, o que muda totalmente as regras e torna tudo completamente diferente.
Porque lá no fundo ninguém quer perder.
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