sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Pay up
Acabei de ver uma tipa num supermercado pagar sessenta e picos euros de compras com uma nota de quinhentos.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Causalidade
Deve haver muitos doentes nesta cidade: passo a vida a ouvir ambulâncias. Quer dizer, também pode ser porque fazem imenso barulho, nunca vi nada assim. Tudo bem que precisam assinalar a marcha de emergência mas tanta chinfrineira era dispensável. Só para verem, ao ponto das pessoas na rua levarem as mãos aos ouvidos em sofrimento quando uma passa. É insuportável. Talvez por isso tenham tantos doentes. Na especialidade de otorrinolaringologia. Ou, claro, cardiologia que, se uma começa o tinonim de um momento para o outro, um gajo assusta-se e não é pouco.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Baleável
Uma parte significativa dos germânicos – tal como os nortenhos – tem um pequeno problema com a letra “v”, embora não quando estão a falar na sua própria língua. A confusão gera-se porque o som que atribuímos a essa letra é, para eles o som da letra “w”, enquanto “v” é lido como o nosso “f”. Em inglês, a baralhação fica por vezes muito engraçada. Um dos casos mais giros que já presenciei é o da palavra “available” que, na boca dalguns alemães se transforma em “awailable”. Ora, dito desta forma, faz-me pensar em baleias e numa escrita alternativa: “awaleable”. Ou seja, quando me disseram que tal pessoa estava disponível, pareceu-me que estavam a insinuar qualquer coisa em relação à sua massa corporal.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Quoi d’autre?
O Simon e o Garfunkel estavam num bar quando, de repente, se começa a ouvir o Bridge Over Troubled Water. O Simon olha para o Garfunkel com olhos ternurentos e diz: “they’re playing our song”.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
A dor é mais urgente que o prazer
A sensação de perda que sentimos quando perdemos algo que foi nosso é maior que a sensação de ganho quando a recebemos. Um tipo chamado Thaler resolveu chamar a este fenómeno o efeito de dotação (tradução manhosa minha). Até o raio do título deste post é uma frase da autoria dele (e do co-autor Kahneman). Aparentemente, o valor das coisas muda quando as enfiamos no saco daquilo que é nosso.
sábado, 23 de outubro de 2010
Ziel
Saio de casa sem saber porquê. Visto o casaco e bato a porta atrás de mim e é só quando chego à rua que me apercebo que não sei para onde vou. Não sei para onde é suposto ir. Só pensei que ia sair, não pensei para onde ia. E agora aqui estou, na rua, parado ao frio à porta, uma rua à minha frente e nada. Penso em voltar a entrar, tirar o casaco e depositá-lo em cima da cadeira que só serve para ser depósito de casacos. Penso mesmo em dar meia volta e esquecer tudo, que se dane, voltar a entrar em casa e ficar no sofá de comando de televisão em riste. Quem me mandou sair sem pensar? Quem me mandou atravessar o raio da porta de casaco vestido, como quem efectivamente se dirige a algum mas não faz ideia qual. Só quando ponho o pé na rua percebo, vejo, sinto que não sei para onde vou. Que não tenho para onde ir.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Uma questão de sotaque
Quando era miúdo gostava de ler os livros de banda desenhada do Tio Patinhas. A minha mãe torcia o nariz: dizia que aquilo não era português e achava que podia comprometer a minha aprendizagem da língua. Pese embora a validade desse argumento, secretamente, acho que era também a vontade de que lesse qualquer coisa mais pedagógica do que aquelas aventuras de patos falantes. Para mim, claro, a questão da linguagem não representava nenhum problema. Bastava usar um sotaque abrasileirado de cada vez que passava os olhos pelos balões das falas dos personagens. Aliás, se não o fizesse então aí sim, não me parecia que aquilo que estava escrito fizesse grande sentido.
Até que surgiram as versões traduzidas. Português de Portugal, lembro-me de ouvir nos anúncios que davam na televisão, certamente dirigidos a mães como a minha. Os livros passavam a ter uma risca com as nacionais cores do verde e do vermelho no canto superior direito para distinguir das antigas versões. E aí o argumento transatlântico caiu por terra e a leitura mental deixou de ser feita com sotaque brasuca. E devorei ainda mais livros do que os já devorava. Lembro-me de comprar um livro sempre que passava num quiosque perto das Palmeiras a caminho das aulas de ténis em Oeiras.
Esta história ocorre-me agora sempre que leio jornais que já adoptaram o novo acordo ortográfico, como o Expresso, por exemplo. Não consigo ler o Expresso com o meu sotaque nasalado de português lisboeta, tenho que o ler usando uma imitação de sotaque brasileiro porque faltam lá uma série de letras como o “c” numa série de palavras. Não é tão gritante como eram os livros originais do Patinhas em que toda a gente se tratava por “você” e os pronomes reflexivos dos verbos vinham sempre no sítio errado, claro. Mas também não traduz em letras a forma como oiço as pessoas falar ali para os lados do Marquês ou de Benfica. Assim como, para o mesmo, qualquer sítio entre Bragança e Faro.
Porque, por muito que o vendam de outra forma, parece-me sempre uma abrasileiração do português.
Até que surgiram as versões traduzidas. Português de Portugal, lembro-me de ouvir nos anúncios que davam na televisão, certamente dirigidos a mães como a minha. Os livros passavam a ter uma risca com as nacionais cores do verde e do vermelho no canto superior direito para distinguir das antigas versões. E aí o argumento transatlântico caiu por terra e a leitura mental deixou de ser feita com sotaque brasuca. E devorei ainda mais livros do que os já devorava. Lembro-me de comprar um livro sempre que passava num quiosque perto das Palmeiras a caminho das aulas de ténis em Oeiras.
Esta história ocorre-me agora sempre que leio jornais que já adoptaram o novo acordo ortográfico, como o Expresso, por exemplo. Não consigo ler o Expresso com o meu sotaque nasalado de português lisboeta, tenho que o ler usando uma imitação de sotaque brasileiro porque faltam lá uma série de letras como o “c” numa série de palavras. Não é tão gritante como eram os livros originais do Patinhas em que toda a gente se tratava por “você” e os pronomes reflexivos dos verbos vinham sempre no sítio errado, claro. Mas também não traduz em letras a forma como oiço as pessoas falar ali para os lados do Marquês ou de Benfica. Assim como, para o mesmo, qualquer sítio entre Bragança e Faro.
Porque, por muito que o vendam de outra forma, parece-me sempre uma abrasileiração do português.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Maintenance
Mesmo que quisesse não consigo deixar de pensar nisso. Por muito que queira. Esforço-me, tento pensar noutras coisas, abstrair-me. Mas, quando dou por mim, já estou com a cabeça aí outra vez. Como se fosse um íman e a minha cabeça um pedaço de metal frio. Acéfalo. A atracção é inevitável, tem uma força descomunal, incontornável. Talvez por isso tenha verdadeiramente deixado de lutar, deixado de tentar redireccionar os meus pensamentos – como se isso fosse minimamente possível, como se tivesse a destreza suficiente para os condicionar. Acabei por desistir, claro. Agora faço o mais fácil e, convenhamos, o mais lógico: espero que passe. E não me tenho saído mal.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Tudo tem um preço
«(…) os países que integram, temporariamente, o Conselho de Segurança recebem 59% mais ajuda dos EUA e têm 20% mais de possibilidades de receber apoio do FMI.»
Revista Visão
Revista Visão
domingo, 17 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Escrevo-te nestas linhas.
Escrevo-te e ficas melhor escrita nestas linhas do que verdadeiramente és. Escrevo-te da forma a que fiques melhor do que verdadeiramente és. Escrevo-te nestas linhas como gostava que fosses. E então já és verdadeiramente tu nestas linhas.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
De início ainda é possível dar algumas respostas.
Uma ou outra seja, mais ou menos esfarrapada. Mas à medida que as questões se avolumam, começam a escassear. Até ao ponto em que uma pergunta tem outra como resposta. E aí acabam-se as questões.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
A tua mão é certeira.
Pousa em cheio naquela zona dorida. Com uma convicção à prova de bala. É assertiva: mesmo quando me agito um pouco pela ponta de dor que sinto, não paras. E insistes naquele ponto doloroso, insistes até que a minha tolerância aumenta até não me ser sequer desconfortável. Dás-me instruções. Sobre como colocar a cabeça ou as costas. E eu obedeço cegamente, de olhos fechados, tentando concentrar-me o melhor que posso. Tentando concentrar-me para relaxar, para não me retesar ou defender. A fazer um esforço para te deixar o meu corpo inerte quando as tuas mãos assertivas me percorrem uma vez mais. Algo que, por esta altura, já deves ter percebido que não me deixa confortável, já deves ter percebido que não me sinto à vontade com o toque. Mas também já deves ter percebido que não é com o teu toque em especial, é com qualquer toque. Talvez por isso me fales com uma voz suave, estupidamente suave. Como se eu fosse um miúdo no dentista a precisar de um bocadinho de atenção para deixar que me façam uma maldade num dente. É isso, a tua voz é-me maternal. Infantiliza-me. E resulta: o ruído das pessoas desaparece porque eu estou a focar-me apenas na tua voz. Suave. E chegamos à parte das mãos. Deslizas as tuas mãos pelas minhas, uma de cada vez. E essa é talvez a parte que mais me relaxa. Curioso. Não são incursões pelas costas tensas, não são os movimentos no cabelo que normalmente me derretem. São as tuas mãos a passar pelas minhas mãos inertes.
domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
A partir do momento em que a discussão começou a aquecer, ela começou a perder o controlo.
Que é como quem diz, o pudor de dizer aquilo que verdadeiramente achava. Pressionada um pouco, lá teve que admitir umas quantas coisas que não queria mas que estavam mesmo na cara. Encostada contra a parede, eis senão quando, sai daquela boca a grande pièce de resistance: “I don’t love you”. Sob a forma de um quasi-grito mas que, ao mesmo tempo, parecia um suspiro por finalmente conseguir pôr aquilo cá fora. Ora, isto deveria ser mais do que suficiente para ficar todo chateado. Porra, um gajo entrega o coração numa bandeja a uma miúda e ainda ouve isto? Mas não. Curiosamente, a única coisa que me passou pela cabeça – e quase tive que refrear um risinho parvo – foi responder-lhe “gostas pouco, gostas…”. O problema é que ela não iria perceber.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
É quem sequer olho para trás.
Nem sequer penso duas vezes. Sigo e nada mais. Não me passam pela cabeça as implicações, não me passam pela cabeça as consequências. Tudo isso está fora da equação. Desconsiderado. Tudo isso me parece irrelevante naquele momento. Aliás, tudo isso me é irrelevante naquele momento, não interessa rigorosamente nada. E isso é estranho. Estranho como, de repente, nada tem o valor que deveria ter.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Se lhe perguntassem não saberia responder.
Percebeu-o de repente. Não saberia dar uma resposta minimamente coerente. Ainda se fosse uma pergunta elaborada e rebuscada. Mas não. Muito pelo contrário. Porra, era a pergunta mais óbvia e natural. E isso deixou-a assustada. Petrificada E então pôs-se rapidamente a tentar inventar qualquer coisa, burilar qualquer coisa em cima do joelho, que soasse relativamente bem. E assim ficava preparada, sentia-se mais segura porque sabia que era só uma questão de cuspir aquelas palavras quando o momento certo surgisse – momento esse que seguramente iria surgir, toda a gente sabe que os momentos certos surgem sempre. Mas nem isso a deixava totalmente confortável. Tinha receio que não funcionasse, que não conseguisse imprimir a convicção necessária.
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