sábado, 31 de julho de 2010

Spam

E, sem saber porquê, de um momento para o outro, estava a escrever outra vez.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Calada.

Um coro à volta. Ruídos, barulhos, zumbidos. Perguntas, afirmações, querem fazê-la falar, abrir a boca semiaberta. Ela está calada. Muda, queda. E o ruído. Tudo à volta, perguntas, agitação, provocam-na para quebre o silêncio, que fale, que grite, que chie, que rosne, que cante, que berre, que guinche mas tudo o que acontece é o silêncio. Calada. Não reage. No meio da chinfrineira, dos chilreio constante, dos zumbidos irritantes que sobem pelos ouvidos acima e doem, de certeza que doem. E nada. Silêncio. Ela está calada. Demasiado calada. À agitação à volta, um coro de perguntas inquisitórias, insinuantes, insolentes e quando, de repente, finalmente, no meio dos ruídos, barulhos, zumbidos.
Quem é que matou o meu morto?
E então tudo ficou calado à sua volta.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A melancolia é matreira.

Surge de repente, inesperada. Apanha-nos desprevenidos, causa alguma surpresa. Assim como aqueles convidados que chovem à hora da refeição, sem que contássemos com eles. Tentamos livrar-nos deles sem sucesso – vamo-nos deitar que estes senhores se querem ir embora – têm sempre imensa vontade de pôr a conversa em dia. E depois vem uma certa habituação. Às vezes tão inesperada quanto o surgimento inicial. E é nessa altura que, atrevo-me a dizer, a melancolia chega a tornar-se em algo relativamente agradável.

Izola

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A cor da água.

Um azul absurdo de claro. Como se os rios, os riachos, corressem sobre os azulejos das paredes de uma piscina se depositassem em lagos do mesmo material. São os mesmos rios que, durante anos, séculos, baralharam toda a gente. Nascem e, após percorrem uma parte da sua distância, mergulham e correm dentro das entranhas da terra para novamente voltarem a brotar. Por essa razão, alguns têm vários nomes diferentes, na medida do número de vezes voltam à superfície. E são estas águas azuis que continuam a escavar e a formar as cavernas impressionantes. Quilómetros de túneis e a galerias, que chegam a ter centenas de metros de altura, com estalactites e estalagmites que vão desde as mais pequenas dimensões (o esparguete que cai do tecto) até estruturas de vários metros. Quase fica a sensação que, neste país, há tanta vida e tanto para ver à superfície como debaixo dela.

Algures parte incerta #3



sábado, 24 de julho de 2010

Oughta know

Que a Guiné Equatorial, uma ditadura que tem o espanhol e o inglês como línguas oficiais, queira entrar para a CPLP, já é suficientemente caricato. Que essa pretensão seja levada a sério ou, inclusivamente, aplaudida, é triste – Portugal é o único país dos pertencentes à comunidade que levanta (algumas) dúvidas à adesão. Que o Ramos-Horta, cujo país não há muito tempo se encontrava manietado por um regime do género, ache que é perfeitamente normal, isso então está para lá de incompreensível: devia saber melhor que nós.

Algures parte incerta

terça-feira, 20 de julho de 2010

Bled



As distâncias baralham.

Baralharam-me. No mapa, tudo parece mais distante. De tal forma que, quando a funcionária do hotel em Ljubljana me diz que a tirada até Bled afinal não é uma tirada porque se trata de apenas 50 a 60 quilómetros, fico um pouco surpreendido.

Os dois lagos mais importantes. Bled, com a ilha imponente no meio, é mais turístico. A estrada que o ladeia é sinuosa. Há hotéis em cada esquina e praias – leia-se línguas de relva e de pedra – onde locais e turistas se estendem ao sol. Estão trinta e muitos graus, um ar abafado sem aragem, daí que encostar rapidamente o carro e vestir o fato-de-banho é infalível. Entrar na água custa e não é por motivos térmicos já que a água é surpreendentemente quente: as pedras são para homens de pés rijos. O segundo é o de Bohinj, a uma vintena de quilómetros do primeiro. Menos pessoas, menos confusão, fica a impressão que aqui se vive mais para a neve e para o ski próprios do inverno e não tanto para a água límpida do verão.

sábado, 17 de julho de 2010

Trieste

Raconte moi

«I asked Serge, “Can you tell us why it’s so weird and so difficult to invent a story? How difficult can it be? And yet it is very difficult.”
Serge said, “Stories come from a part of you that only gets visited rarely – sometimes never at all. I think most people spend so much time trying to convince themselves that their lives are stories that the actual story-creating part of their brains hardens and dies. People forget that there are other ways of ordering the world. »

Generation A, Douglas Coupland

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A propósito deste mundial que está prestes a acabar,

a velha questão dos meios técnicos auxiliares de arbitragem. A quantidade de erros de arbitragem neste mundial – erros não despiciendos, que tiveram uma influência decisiva no resultado final – é impressionante. Mais impressionante do que os próprios erros é a teimosa resistência à introdução dos ditos meios técnicos como o Hawkeye do ténis. O caso do ténis é giro: assume-se que os juízes de linha têm a possibilidade de errar. Faz sentido. Têm que verificar centenas de bolas por partida, muitas delas a velocidades bastante elevadas. O Hawkeye permite que o jogador que duvide da decisão do juiz de linha possa comprovar a decisão através do recurso a um sistema bastante preciso.

Ora, uma coisa deste tipo facilmente resolveria qualquer tipo de bola que claramente entra – como o golo da Inglaterra do Lampard frente à Alemanha – assim como os foras-de-jogo claramente por assinalar – como o não golo da Argentina frente ao México – (não serve, por exemplo, para lances em que é preciso ajuizar se a entrada do jogador é para amarelo ou não). E resolveria qualquer destas situações de uma forma objectiva e matando qualquer disputa. Mais: nada disto poria em causa a autoridade do árbitro nem prejudicaria o jogo. Pelo contrário, mais facilmente a credibilidade cai por terra com os erros clamorosos que existiram.

Aparentemente, o futebol quer mesmo continuar a ser um jogo de polémica no qual a intervenção do árbitro tem um peso significativo no resultado final. Só pode ser.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ainda sobre trocadilhos estúpidos com nomes de jogadores da bola.

Outro holandês: Rafael Van der Vaart faz lembrar um tipo com problemas de flatulência. Mas o prémio de nome de jogador de futebol deste mundial mais curioso vai para um jogador da selecção anfitriã: Piennar. Este é, aliás, o mesmo apelido do capitão de equipa de râguebi da África do Sul que ganhou o campeonato do mundo da modalidade a jogar em casa frente aos All Blacks, episódio retratado no Invictus do Clint Eastwood.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Love hurts

O BPI tinha a Fernanda Serrano, a Caixa foi desencantar a Catarina Furtado. O meu palpite é que o BES já andará atrás da Soraia Chaves.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carsick

Tenho alguma dificuldade em perceber como é que os navegadores de rallies conseguem ler e dar indicações sem enjoar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O ar fechado, abafado.

Não está calor mas o carro, ao sol, aqueceu. Abri a janela, abriste a janela. Detesto andar de carro depressa com os vidros abertos, o vento na cara, o barulho. Não ouço a música do rádio, não oiço o que me dizem pelo auricular do telefone, não consigo falar contigo. Detesto andar na auto-estrada com os vidros abertos porque é quando ando depressa, o barulho, o vento.