Acho sempre que os meus vizinhos vão pensar que tenho um problema com alcool quando oiço o barulho estridente das garrafas a cair no interior do vidrão do prédio.
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
Dirijo-me ao segurança, como todos as manhãs, à entrada.
Está a atender uma pessoa à minha frente e demora algum tempo. Quando finalmente chega à minha vez, começa por apontar o aparelho ao pulso direito, que lhe estendo de imediato, ainda antes de dizer "bom dia". Que a leitura não saia à primeira, é já algo a que estou habituado, por isso não estranho que vá percorrendo diversas zonas do pulso, enquando carrega no botão. Nem sequer é incomum que, após meia dúzia de tentativas frustradas, me peça para medir a temperatura na testa. Acedo ao pedido e, com alguma vergonha, afasto desajeitadamente a minha franja Justin Bieberesca da testa.
O processo transforma-se oficialmente num problema quando nem literalmente de arma apontada à cabeça o meu corpo resolve fornecer uma temperatura. Aos poucos, a atrapalhação do segurança cresce e ultrapassa a minha. Em desespero de causa, pede-me para medir no pulso esquerdo, pode ser que resulte aí: está-se mesmo a ver que não resultar e, de facto, não resulta.
Com isto, formou-se uma longa fila atrás de mim, que se prolonga até à porta. Pede-me para esperar um pouco enquanto testa a máquina nas restantes pessoas que, uma a seguir à outra, são rapidamente processadas, sem nenhum problema. Observo, desconsolado, a facilidade com a que máquina lê outros pulsos e testas, crescentemente convencido de que o problema sou eu. Após ter varrido toda a fila e as pessoas terem ido à sua vida, volta a mim. Tenta novamente e, novamente, não tem sucesso.
Estamos numa encruzilhada: a ausência de uma temperatura que permita tomar uma decisão sobre a minha entrada é um vazio legal não previsto no protocolo. Não faz ideia como agir nestes casos. Pega no telefone e liga a quem de direito para saber o que fazer. A instrução é para me deixar entrar: segundo o informam, devo estar "demasiado frio" para que o aparelho possa fazer o seu trabalho em condições. Entro a matutar na frieza deste comentário.
terça-feira, 9 de novembro de 2021
It's all in the reflexes
O impacto da digitalização e robotização no mercado laboral não é uma discussão recente. O espectro de profissões que podem vir a ser afectadas é bastante alargado mas há algumas, tais como os condutores de camiões, que são consideradas quase como casos paradigmáticos. Os progressos no desenvolvimento de tecnologias de condução automática passaram a ser uma espécie de espada de Dâmocles que paira sobre a cabeça dos profissionais do sector.
Por isso é que os mais recentes relatos de escassez de condutores de camiões têm alguma piada. Primeiro foi no Reino Unido, relacionado com as dificuldades de obtenção de visto de mão-de-obra estrangeira. Mais recentemente, nos EUA, onde muitos trabalhadores do sector (assim como de outros, tais como a resturação e hotelaria) decidiram abandonar os empregos duros, fisicamente exigentes, que em alguns casos causam disrupção na vida pessoal e familiar e, ainda para mais, não fantasticamente bem pagos.
The biggest kink in America's supply chain: not enough truckers
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
In loco
Dar conselhos sobre saúde mental nas redes sociais é como alertar para as alterações climáticas numa central termoeléctrica.
domingo, 7 de novembro de 2021
Tell me why
«Que importância tem que eu acredite ou não? Escolhi este caminho, sinto-me útil! Que interesse tem saber se faço isso com sinceridade ou não? Faço alguma coisa, estou ao serviço de uma...[causa]»
Cevdet Bei e os seus filhos, Orhan Pamuk