Dito isto: ainda a meio, cheguei à conclusão de que não iria gostar. Não me enganei: confirmou-se e, quando cheguei ao fim, cheguei à conclusão de que não gostei. Não porque ache que o filme seja mau per se: não é. Ou que faça um mau retrato da realidade: acho que é um retrato fidedigno. E continua a ter uma actualidade arrepiante: vejam-se os recentes acontecimentos nos EUA.
O que não me agrada é a nítida intenção de dar uma lição, a carga de didatismo ou proselitismo, que instintivamente me repele. Neste particular, estou com o Ricardo Araújo Pereira, que, segundo o próprio, não faz humor para mudar o mundo, mas para fazer as pessoas rir (um objectivo totalmente inesperado). O Spike Lee tem uma posição diametralmente oposta: a arte serve para mudar o mundo.
Não que ache impossível ou errado que a arte faça mudar o mundo: pode ser uma consequência natural. O que irrita é que o ponto de partida seja exactamente esse: mudar o mundo. Parece uma quase presunção ou sobre-autoestima moral. Para senhora sabichona, de dedo em riste, com uma propensão inata para dar sermões aos outros, já me bastou a minha avó.
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