«Perdi as pernas... Foram-me cortadas... Salvavam-me aí mesmo, na floresta... Fui operada nas condições mais primitivas. Puseram-me na mesa para me operar, e não havia iodo sequer, serraram-me as pernas com uma serra comum, as duas pernas... Puseram-me na mesa, faltava iodo. Foram buscá-lo a outro destacamento, a seis quilómetros, deixando-me sobre a mesa. Sem anestesia. Sem... Em vez de anestesia, uma garrafa de aguardente caseira. Não havia nada, a não ser uma serra comum... De carpinteiro...
(...)
Mais tarde, em Ivanovo e em Tachkent, fizeram quatro reamputações, a gangrena reapareceu quatro vezes. De cada vez, cortavam mais um bocado, e acabou por resultar numa amputação muito alta.»
A guerra não tem rosto de mulher, Svetlana Alexievich
terça-feira, 13 de agosto de 2019
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