quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Jacob (Collier) of all trades, master of all
(Publicado originalmente aqui)
Magrinho, franzino, com uma popa de gel, calças de harém e t-shirt uns quantos números acima: assim irrompe energicamente (para não dizer freneticamente) pelo palco do Teatro Capitólio Jacob Collier. O jovem prodígio da música, de 24 primaveras de idade, começou a dar nas vistas há cerca de uma meia dúzia de anos atrás, a propósito das interpretações originais que fez de algumas músicas conhecidas e que carregou no youtube. Os vídeos foram propalados e o resto, adaptando um termo da gíria contemporânea, é pura viralização (conceito meu).
O sucesso viria a expandir-se, senão a cimentar-se, com o lançamento, em 2016, do seu álbum de estreia, “In my room”, que tem uma particularidade bastante interessante: todas as tarefas – interpretação, escrita de arranjos, gravação e produção – associadas ao seu álbum foram levadas a cabo, na íntegra, pelo próprio. No ano seguinte, viria a receber dois Grammies por dois dos temas do álbum: uma versão do tema dos Flinstones e o clássico de Stevie Wonder “You and I”.
Apoiado por uma equipa do MIT que o ajudou a desenvolver hardware e software que permitissem executar, ao vivo, os temas que tinha gravado na sua sala musical familiar, Jessie fez uma digressão com um círculo de instrumentos em palco e com uma panóplia de looping stations, que lhe permitiam fazer uma série de playbacks simultâneos. Isso e um harmonizer, um instrumento que foi desenhado exclusivamente para o moço e cuja função dificilmente conseguirei pôr por palavras (embora, ainda assim, tente): digamos que dá corpo à voz original, adicionando-lhe camadas e alturas diferentes, por forma a parecer que está a cantar várias notas em simultâneo.
Não foi este formato de one-man show com que o multi-instrumentista se apresentou no Teatro Capitólio em Lisboa, mas sim em quarteto, que o acompanhará na promoção do seu novo álbum intitulado “Djesse”. É aqui que tenho que me desculpar, fazer um mea culpa, mas o facto de ter estado de pé invalidou grande parte das minhas notas deste concerto. Por isso – e também porque os aplausos e assobios não ajudaram a perceber o que foi dito – apenas arrisco o nome do baixista, Rob Mullarkey. Já os nomes do baterista e da cantora/pianista/guitarrista/seguramente-mais-instrumentos-que-me-estão-a-escapar são gatafunhos seguidos de vários pontos de interrogação. E isso é particularmente enxovalhante no caso desta última, uma vez que se trata de uma jovem portuguesa, e que devia ser conhecida de metade da audiência, que estava a torcer e a apoiá-la de forma bastante notória e audível.
Apesar da referida formação em quarteto, não significa que o jovem se dedique a tocar um único instrumento no decurso do concerto. Longe disso. Muito longe disso. Na maior parte dos casos, vai alternando de instrumento, ao mesmo tempo que canta, e intervalando com rápidas deslocações até ao limiar do palco, lá bem perto do público. Um dos poucos temas em que apenas toca um instrumento é a versão espectacular do tal “You and I” de Stevie Wonder, na qual Jacob fica sozinho em palco ao piano (ou teclado) e consegue gerar uma interacção intensa com o público e arrancar a maior ovação da noite. Impressionante é também o controlo e domínio do baixo eléctrico. E, claro, da voz: dos sons mais graves – para mim, os seus registos mais impressionantes – até ao falsete, Jessie tem ao seu dispor uma tessitura longa, que não parece exigir grande esforço para se fazer ouvir.
A música abarca de tudo um pouco: inclui elementos do jazz, funk, música folk, gospel e soul, mas também de música electrónica e clássica. Tudo com groove; muito groove. O grau de elaboração dos arranjos, das harmonizações, da componente rítmica, da improvisação, da riqueza dos instrumentos utilizados e a qualidade de execução não parecem ser compatíveis com a tenra idade de Collier. Há um nível de maturidade musical muito elevado em praticamente todos os níveis e detalhes. Não obstante, a música e a interpretação têm uma certa aura de inocência ou ingenuidade, que diria mais compatível com a idade, embora envoltas numa espécie de falsa simplicidade que camufla toda a engrenagem elaborada subjacente.
A sabedoria popular estrangeira costuma dizer “Jack of all trades, master of none”. Mas, neste caso, este Jacob de todos os ofícios parece ter um claro e sério grau de mestria sobre todos eles. Ficamos à espera do regresso para breve de Collier a Portugal, desta vez ao Cool Jazz Fest, a 16 de Julho. Pode ser que, por essa altura, aumente a parada e faça um número adicional, que envolva tocar uns sete instrumentos diferentes ao mesmo tempo, a fazer o pino, com uma camisa de forças vestida, enquanto faz equilibrismo num arame a 20 metros do chão. Prepara-te, Houdini.
Magrinho, franzino, com uma popa de gel, calças de harém e t-shirt uns quantos números acima: assim irrompe energicamente (para não dizer freneticamente) pelo palco do Teatro Capitólio Jacob Collier. O jovem prodígio da música, de 24 primaveras de idade, começou a dar nas vistas há cerca de uma meia dúzia de anos atrás, a propósito das interpretações originais que fez de algumas músicas conhecidas e que carregou no youtube. Os vídeos foram propalados e o resto, adaptando um termo da gíria contemporânea, é pura viralização (conceito meu).
O sucesso viria a expandir-se, senão a cimentar-se, com o lançamento, em 2016, do seu álbum de estreia, “In my room”, que tem uma particularidade bastante interessante: todas as tarefas – interpretação, escrita de arranjos, gravação e produção – associadas ao seu álbum foram levadas a cabo, na íntegra, pelo próprio. No ano seguinte, viria a receber dois Grammies por dois dos temas do álbum: uma versão do tema dos Flinstones e o clássico de Stevie Wonder “You and I”.
Apoiado por uma equipa do MIT que o ajudou a desenvolver hardware e software que permitissem executar, ao vivo, os temas que tinha gravado na sua sala musical familiar, Jessie fez uma digressão com um círculo de instrumentos em palco e com uma panóplia de looping stations, que lhe permitiam fazer uma série de playbacks simultâneos. Isso e um harmonizer, um instrumento que foi desenhado exclusivamente para o moço e cuja função dificilmente conseguirei pôr por palavras (embora, ainda assim, tente): digamos que dá corpo à voz original, adicionando-lhe camadas e alturas diferentes, por forma a parecer que está a cantar várias notas em simultâneo.
Não foi este formato de one-man show com que o multi-instrumentista se apresentou no Teatro Capitólio em Lisboa, mas sim em quarteto, que o acompanhará na promoção do seu novo álbum intitulado “Djesse”. É aqui que tenho que me desculpar, fazer um mea culpa, mas o facto de ter estado de pé invalidou grande parte das minhas notas deste concerto. Por isso – e também porque os aplausos e assobios não ajudaram a perceber o que foi dito – apenas arrisco o nome do baixista, Rob Mullarkey. Já os nomes do baterista e da cantora/pianista/guitarrista/seguramente-mais-instrumentos-que-me-estão-a-escapar são gatafunhos seguidos de vários pontos de interrogação. E isso é particularmente enxovalhante no caso desta última, uma vez que se trata de uma jovem portuguesa, e que devia ser conhecida de metade da audiência, que estava a torcer e a apoiá-la de forma bastante notória e audível.
Apesar da referida formação em quarteto, não significa que o jovem se dedique a tocar um único instrumento no decurso do concerto. Longe disso. Muito longe disso. Na maior parte dos casos, vai alternando de instrumento, ao mesmo tempo que canta, e intervalando com rápidas deslocações até ao limiar do palco, lá bem perto do público. Um dos poucos temas em que apenas toca um instrumento é a versão espectacular do tal “You and I” de Stevie Wonder, na qual Jacob fica sozinho em palco ao piano (ou teclado) e consegue gerar uma interacção intensa com o público e arrancar a maior ovação da noite. Impressionante é também o controlo e domínio do baixo eléctrico. E, claro, da voz: dos sons mais graves – para mim, os seus registos mais impressionantes – até ao falsete, Jessie tem ao seu dispor uma tessitura longa, que não parece exigir grande esforço para se fazer ouvir.
A música abarca de tudo um pouco: inclui elementos do jazz, funk, música folk, gospel e soul, mas também de música electrónica e clássica. Tudo com groove; muito groove. O grau de elaboração dos arranjos, das harmonizações, da componente rítmica, da improvisação, da riqueza dos instrumentos utilizados e a qualidade de execução não parecem ser compatíveis com a tenra idade de Collier. Há um nível de maturidade musical muito elevado em praticamente todos os níveis e detalhes. Não obstante, a música e a interpretação têm uma certa aura de inocência ou ingenuidade, que diria mais compatível com a idade, embora envoltas numa espécie de falsa simplicidade que camufla toda a engrenagem elaborada subjacente.
A sabedoria popular estrangeira costuma dizer “Jack of all trades, master of none”. Mas, neste caso, este Jacob de todos os ofícios parece ter um claro e sério grau de mestria sobre todos eles. Ficamos à espera do regresso para breve de Collier a Portugal, desta vez ao Cool Jazz Fest, a 16 de Julho. Pode ser que, por essa altura, aumente a parada e faça um número adicional, que envolva tocar uns sete instrumentos diferentes ao mesmo tempo, a fazer o pino, com uma camisa de forças vestida, enquanto faz equilibrismo num arame a 20 metros do chão. Prepara-te, Houdini.
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
A senhora tem uma no ventre e uma expressão de desconforto.
No topo esquerdo do anúncio, lê-se "muitos fritos este Natal?" e, no topo inferior direito, a promessa de que, ao tomar o produto publicitado, que o intestino ficará a funcionar como um relógio. O que é uma afirmação que suscita profunda reflexão: questiono-me se quereria o meu intestino a funcionar como um relógio. Da mesma forma que tenho sérias dúvidas se quereria que o meu relógio funcionasse como um intestino.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Não é uma imagem bonita
Sempre que, a propósito de toalhas, ouço falar em lavar turcos, imagino uns quantos Erdogans a ser enfiados numa banheira e esfregados com uma esponja.
domingo, 27 de janeiro de 2019
Lealdade grupal II
«De facto, as histórias falsas têm uma vantagem intrínseca relativamente à verdade no que toca a unir pessoas. Se queremos medir a lealdade grupal, pedir às pessoas que acreditem em absurdos é um teste muito melhor do que pedir-lhes que acreditem na verdade. Se um grande chefe diz: «O sol ergue-se a oriente e põe-se a ocidente», não é preciso ser-se leal ao chefe para aplaudir. Mas se o chefe diz: «O sol ergue-se a ocidente e põe-se a oriente», só quem lhe é realmente leal aplaudirá. Do mesmo modo, se todos os nossos vizinhos acreditam na mesma história fantasiosa, podemos contar com eles num momento de crise. Se apenas estiverem dispostos a acreditar em factos confirmados, o que prova isso?»
21 lições para o século XXI, Yuval Noah Harari
21 lições para o século XXI, Yuval Noah Harari
sábado, 26 de janeiro de 2019
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Lealdade de grupo
«Dar às pessoas mais ou melhor informação dificilmente melhorará a situação. Os cientistas esperam desfazer equívocos através de um melhor ensino das ciências, e os comentadores esperam mudar a opinião pública relativamente a temas como políticas de saúde ou o aquecimento global apresentando ao público factos rigorosos e relatórios de especialistas. Essas esperanças baseiam-se numa incompreensão da forma de pensar dos seres humanos. A maioria dos nossos pontos de vista é moldada pelo pensamento de grupo e não pela individualidade racional, e agarramo-nos a estas perspectivas devido à lealdade de grupo. O mais provável é que bombardear as pessoas com factos e denunciar a sua ignorância individual saia pela culatra. A maioria dos seres humanos não gosta de factos em excesso, e certamente não aprecia sentir-se estúpida. Não presuma que conseguirá convencer apoiantes do Tea Party acerca da verdade do aquecimento global mostrando-lhes tabelas de dados estatísticos.»
21 lições para o século XXI, Yuval Noah Harari
21 lições para o século XXI, Yuval Noah Harari
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
O trolley do presidiário
O privilégio de ver gente a entrar no ginásio ou health club de trolley não é novo: o som das rodinhas no chão de pedra balneário a dentro faz lembrar os carrinhos para carregar as compras, normalmente associados a uma faixa etária mais alta. Agora ir para a prisão com um trolley pela mão é algo que só recentemente, a propósito de recentes prisioneiros em casos mediáticos, pude apreciar. Parece quase que estão a fazer check in só com bagagem de cabine, não despacham nada para o porão para poupar na tarifa. Ou vão em low cost. Mas é curioso e até inesperado: para as estadias relativamente prolongadas que se esperam num encarceramento, um trolley parece manifestamente insuficiente.
terça-feira, 22 de janeiro de 2019
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Kudos
Quando um canhoto se refere a alguém como o seu "braço direito" estará a dizer que essa pessoa é um empecilho?
domingo, 20 de janeiro de 2019
quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
segunda-feira, 14 de janeiro de 2019
Murray
Nunca fui um grande adepto: do grupo dos big four, é aquele cujo estilo de jogo me interessa menos. Foi triste assistir à conferência de imprensa pré Open da Austrália, na qual fez o anúncio emotivo do final da carreira, por não resultar de uma vontade própria, nos seus próprios termos, mas sim de um obstáculo físico. Numa altura em que a longevidade dos atletas profissionais parece atingir novos limiares - e não é só no ténis, que está repleto de exemplos -, de repente, os 31 anos de Andy Murray parecem precoces, quando há não muito tempo (basta recuar uma geração de jogadores) seriam uma idade perfeitamente normal para arrumar as raquetes.
domingo, 13 de janeiro de 2019
quinta-feira, 10 de janeiro de 2019
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
Charger vs Mustang
Prelúdio:
1ª parte:
2ª parte:
1ª parte:
2ª parte:
segunda-feira, 7 de janeiro de 2019
domingo, 6 de janeiro de 2019
A sério...?
Eddie Redmayne, actor que interpretou Stephen Hawking no filme que retrata a sua vida, escreveu o seguinte no prefácio do livro "Breves respostas às grandes perguntas", que reune um conjunto de textos do acervo do cientista:
«Nervoso, lembrei-me de falar com ele acerca do facto de as nossas datas de aniversário terem apenas alguns dias de diferença, pelo que partilhávamos o mesmo signo do zodíaco. Ao fim de alguns minutos, Stephen respondeu: «Sou um astrónomo. Não um astrólogo.»»
«Nervoso, lembrei-me de falar com ele acerca do facto de as nossas datas de aniversário terem apenas alguns dias de diferença, pelo que partilhávamos o mesmo signo do zodíaco. Ao fim de alguns minutos, Stephen respondeu: «Sou um astrónomo. Não um astrólogo.»»
sábado, 5 de janeiro de 2019
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
O racional da racionalidade
«Rationality is an a priory assumption about the way the world should work rather than a description of the way the world actually worked. The assumption that investors are rational in the long run is a useful hypothesis because it illuminates understanding of changes in prices in different markets; in the terminology of Karl Popper, it is a 'pregnant' hypothesis. Hence, it is useful to assume that investors are rational in the long run and to analyze economic issues on the basis of this assumption.»
Manias, panics and crashes, Robert Aliber e Charles Kindleberger
Manias, panics and crashes, Robert Aliber e Charles Kindleberger
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019
quarta-feira, 2 de janeiro de 2019
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
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