sábado, 23 de julho de 2016

Mário Laginha e a ópera italiana em destaque na 8ª edição do Festival ao Largo

(Publicado originalmente aqui)

Ao longo de três semanas, de 8 a 30 de Julho, a 8ª edição do Festival ao Largo traz grandes orquestras e nomes sonantes do canto lírico em 15 espectáculos ao largo livre, em frente à fachada do Teatro Nacional de São Carlos. Espectáculos para os quais – nunca é demais frisar – não é necessário bilhete, o festival é gratuito.

O festival tem uma programação musical bastante variada e, embora se centre na música, também contempla o teatro e a dança. Nos dias 13 e 14, os alunos finalistas da licenciatura em Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema (em co-produção com o Teatro Municipal São Luiz e o Teatro Nacional D. Maria II) apresentaram o clássico de Shakespeare “Sonho de uma noite de verão”, sob a direcção artística de Cristina Carvalhal, comemorando assim o 400º aniversário da morte do dramaturgo britânico. Já à dança caberão as honras de encerramento do festival, com a Companhia Nacional de Bailado a subir ao palco no final da semana que vem, nos dias 28, 29 e 30, apresentando, respectivamente, “Serenade” de George Balanchine, “Herman Schmerman” de William Forsythe e os “5 Tangos” de Hans van Manen.

Relativamente à programação musical, este ano incluiu obras do pianista e compositor português Mário Laginha e, pela primeira vez, uma ópera.

O músico português esteve no arranque do festival na sexta-feira e sábado, dias 8 e 9. A Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direcção de Cesário Costa, interpretou “Mãos na pedra, olhos no céu”, composto por Mário Laginha para o filme de João Botelho sobre a cidade do Porto, “As mãos e as pedras”, que estreou na aberta do Porto Capital Europeia da Cultura em 2001.

Na quinta-feira, dia 21, Mário Laginha juntou-se à Orquestra da Gulbenkian, dirigida por Pedro Neves, para interpretar duas composições. A primeira composição foi o concerto para piano e orquestra do pianista português, obra estreada em 2009 no 31º Festival Internacional de Música do Algarve. O concerto tem três andamentos e, segundo o próprio, está repleto não só de influências do mundo da música clássica – Mozart, Beethoven, Prokofiev, Ravel, etc. –, mas também doutras esferas musicais do pianista, com o jazz à cabeça – a certa altura, ia jurar que ouvi Gershwin –, mas também música étnica, na torrente de ritmos diferentes que Laginha imprime às teclas do piano. Da mistura destas influências, algo que o pianista refere ser um tarefa difícil e arriscada, nasceu este concerto. A segunda dispensa qualquer tipo de apresentação: a quinta sinfonia de Beethoven, sobejamente conhecida, cujo motivo inicial – pa-pa-pa-paaan, pã pã pã pãããn – é seguramente dos trechos musicais mais emblemáticos.

A fechar a programação de música do festival, a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos interpretaram a ópera Cavalleria Rusticana, do compositor italiano Pietro Mascagni, sob a direcção musical de Domenico Longo, na sexta-feira e no sábado, dias 22 e 23. Nos principais papéis: a soprano Mary Elisabeth Williams dá corpo e voz a Santuzza, a jovem camponesa; o tenor Lorenzo Decaro a Turiddu, o jovem aldeão que acaba de regressar do serviço militar; a sua mãe, (Mamma) Lucia é interpretada pela mezzo-soprano Laryssa Savchenko; o barítono Luís Rodrigues é Alfio, um carreteiro; finalmente, a mezzo-soprano Maria Luísa de Freitas é Lola, a mulher de Alfio. Uma excelente interpretação da ópera, considerada a primeira do “verismo”, o movimento realista italiano, onde se destacou a fantástica performance de Mary Elisabeth Williams, que arrancou a maior ovação da noite da multidão que encheu a praça.

Para os mais distraídos: ainda é possível ver 3 espectáculos de bailado. Já agora, não sei se já vos disse, mas é à borla.

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