segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Lento

As pessoas podem estar sonolentas mas nunca sonorápidas. São corpulentas e não corpurápidas. Não são quezirápidas. Não são macirápidas. Também não são nem flaturápidas nem (consequentemente?) pestirápidas. E, sobretudo, não são nunca turburápidas.

domingo, 30 de agosto de 2015

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Right off the bat

É interessante ter programas de culinária apresentados por ingleses. É como ter especialistas em ski alpino oriundos das Bahamas.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Os pontos nos is

«Hoensch disse que a morte em si só era uma miragem em constante construção, mas que a realidade não existia. O oficial das SS disse que a morte era uma necessidade: ninguém no seu perfeito juízo, disse, admitiria um mundo cheio de tartarugas ou cheio de girafas. A morte, concluiu, era reguladora. O jovem erudito Popescu disse que a morte, segundo a sabedoria oriental, era só uma passagem. O que não era claro, disse ele, ou pelo menos ele não achava claro, era para que lugar, para que realidade conduzia essa passagem.
- A pergunta – disse ele – é aonde. A resposta – respondeu a si mesmo – é para onde os meus méritos me levarem.
O general Entrescu achou que aquilo era o menos, que o importante era movimentarmo-nos, a dinâmica do movimento, o que equiparava os homens e todos os seres vivos, incluindo as baratas, às grandes estrelas. A baronesa Von Zumpe disse, e talvez fosse a única a ter falado com franqueza, que a morte era uma chatice.»

2666, Roberto Bolaño

domingo, 23 de agosto de 2015

Dismaland

Nunca fui e continuo sem grande vontade de visitar a Disneyworld, mas aqui era menino para ir.

sábado, 22 de agosto de 2015

Fadices do lar

O dia mais importante do ano não é o aniversário. Nem o Natal nem nada que se pareça. É o dia em que a empregada vem de férias.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

«Às vezes pensava que já não lia precisamente por ser ateu. Digamos que a não leitura era o degrau mais alto do ateísmo ou pelo menos do ateísmo tal como ele o conhecia. Se não acreditas em Deus, com acreditar na porcaria de um livro?»

2666, Roberto Bolaño

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Macaquinho de imitação

Ajeita os óculos com dois dedos - polegar a parte inferior da haste em torno da lente e o indicador na parte superior. Às vezes, três dedos, com o dedo médio a ajudar o indicador. Dou por mim a fazer o mesmo automaticamente e ocorre-me que normalmente faço-o só com um dedo - o indicador - empurrando o pedaço que une os blocos redondos que envolvem as lentes contra o nariz sobre o qual se apoia. Monkey see monkey does. Incorporar um hábito alheio apenas pela observação inadvertida.

domingo, 16 de agosto de 2015

A outra face

Disse-lhe que aquela era uma conversa para ser tida face to face. E então ligaram o chat do facebook.

sábado, 15 de agosto de 2015

Younger self

Num episódio de Nip Tuck, uma senhora idosa faz uma operação plástica para parecer mais nova. Mas não pelas razões as quais este tipos de cirurgias são tipicamente associados. O marido ficou senil e não a reconhece. Sentada ao lado dele, diz-lhe que não sabe quem é. Acrescenta a tristeza que sente pelo facto de a sua mulher nunca o visitar no lar onde vive, ao mesmo tempo que exibe uma fotografia velha e amachucada dela quando mais nova. É com o aspecto que tinha nessa fotografia que ela quer voltar a ficar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Topologia

Disse que se desmanchou a rir e, às questões subsequentes acerca do que levaria alguém a rir numa situação daquelas, respondeu
O que queriam que fizesse? Chorasse?
Explico-lhe que não chorar não é forçosamente rir.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Luhmann

"The type of communication theory I am trying to advise therefore starts from the premise that communication is improbable, despite the fact that we experience and practice it every day of our lives and would not exist without it."

terça-feira, 11 de agosto de 2015

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

É tudo uma questão de aceitar (ou não) o custo afundado.

Como quando nos forçamos a ler um livro até ao fim apenas porque já o começámos, e mesmo que a leitura esteja a ser penosa. Saber lidar com a desistência e aceitar o tempo entretanto perdido é, por vezes, mais do que arte e um saber viver: é um exercício de liberdade.