Lembro-me de ter tido uma conversa com a minha avó quando estava perto de me licenciar. Rebuscou na memória dela e contou-me como sentiu um vazio no momento em que percebeu que tinha terminado o seu curso. É provável que também tenha tido a mesma sensação quando me apercebi que tinha os créditos todos que precisava ou quando me dei conta de que não precisava de ir fazer mais exames. Eventualmente porque ainda não era claro para mim o que ia fazer a seguir e, aí sim, o vazio atingiu-me – como se, de repente, não houvesse mais nada para fazer. Ou então apenas por causa da sugestão dela.
Nos últimos anos tenho coleccionado um número relativamente simpático de últimos dias. Mas estes últimos dias são diferentes dos das últimas aulas das últimas cadeiras da licenciatura. Porque estão associados não àquilo que termina mas àquilo que vai começar. E, nesse sentido, não sinto vazio nenhum – sinto, quando muito, o oposto. Como se não fossem últimos dias mas efectivamente primeiros dias. E, desta forma, estão muito mais próximos do longínquo primeiro dia de escola na primária do que último dia de faculdade.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Democracia à moda russa
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Back to the future
21 de Outubro de 2015 é a data para a qual Marty (Hello, hello, anybody home? Think McFly!) e o Doc viajam no segundo filme da trilogia. Passaram 30 anos sobre o filme e estamos a sensivelmente seis meses da data - 1985 é o ano de origem, é o presente da história. Não há carros voadores nem skates magnéticos sem rodas. Não há roupas que se ajustam automaticamente às dimensões de cada um. Claro que, pelo meio, o mundo também não acabou uma série de vezes, num dos inúmeros acontecimentos em que era suposto tê-lo feito. Por exemplo aquando da profecia maia. Ainda assim, sinto que as minhas expectativas de miúdo saíram defraudadas. Enfim, pode ser que nos seis meses que restam seja surpreendido.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Sugiro que não me sugiram
O youtube, para além do conjunto de sugestões que já oferecia na sua barra lateral, agora resolve saltar mesmo para um qualquer vídeo logo após o final daquele que acabámos de ver. Quer dizer, não é logo logo, aparece uma não muito longa contagem decrescente com o título, normalmente não muito preciso, por debaixo. Ou seja, é como se os links com mix de vídeos subordinados a um dado tema fossem generalizados a todos os conteúdos. Com a agravante de a associação não ser, de todo óbvia: o algoritmo que escolhe o vídeo seguinte seguramente é baseado no histórico de visualizações, donde qualquer coisa pode suceder a qualquer coisa. E é isto que é particularmente irritante. É esta suposta aleatoriedade orientada para o meu perfil de utilizador. Por exemplo, ver um excerto do programa do Jon Stewart e em seguida ser presenteado com o Winton Marsalis ao vivo. Já não bastava o paternalismo de oferecer sugestões, agora é uma quase sobranceria de - a não ser mediante um click num curto espaço de tempo - ter que gramar algo que não pedi e, frequentemente, mal direccionado para aquilo que me apetece ver naquele momento, pese embora o meu interesse pelo tópico.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Notas para a Grécia
Will Butler dos Arcade Fire dedica esta música à Grécia. Segundo o próprio, estava a ler o blog do Guardian quando a inspiração surgiu.
Agressividade passiva
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Oh la vache ou (um)a diferença entre mim e o David Duchovny
I had an idle idea while driving one day that if I were a cow I’d probably do my best to get to India. I thought that was funny.
Em tempos idos, o mesmo também me ocorreu e, vai daí, até escrevi um post sobre isso. Great minds think alike. Há tanto tempo que imediatamente afastei a ideia de o procurar no arquivo. Diga-se que não continuei a explorar o mesmo raciocínio aplicado a outros animais - tenho alguma dificuldade em classificar esta última parte como algo negativo (preguiça, a imaginação a ir-se) ou positivo (não estou tão queimado quanto o Duchovny).
Em tempos idos, o mesmo também me ocorreu e, vai daí, até escrevi um post sobre isso. Great minds think alike. Há tanto tempo que imediatamente afastei a ideia de o procurar no arquivo. Diga-se que não continuei a explorar o mesmo raciocínio aplicado a outros animais - tenho alguma dificuldade em classificar esta última parte como algo negativo (preguiça, a imaginação a ir-se) ou positivo (não estou tão queimado quanto o Duchovny).
domingo, 22 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
É isto
Estragon: Well, shall we go?
Vladimir: Yes, let's go.
[They do not move.]
Waiting for Godot, Samuel Beckett
Vladimir: Yes, let's go.
[They do not move.]
Waiting for Godot, Samuel Beckett
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Nichts
Estragon: Nothing happens, nobody comes, nobody goes, it's awful!
Waiting for Godot, Samuel Beckett
Waiting for Godot, Samuel Beckett
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Marcação à zona de desconforto
Não tenho preconceitos em relação à mudança. Mais até, em procurar a mudança. Arriscar. Mas tenho algo contra paternalismo de vão de escada que se instalou em torno da suposto falta de proactividade alheia: causa algum desconforto a questão de instigar os outros (ou recriminar os que não o fazem) a sair da respectiva zona de conforto. Como se tudo na vida se resumisse (confortavelmente) a um certo nível (ou ausência) de atitude. Sem querer cair num (desconfortável) argumento circular, a essas vozes (desconfortáveis) apetece-me dizer para sairem da própria zona de conforto. Que, aparentemente, é (confortavelmente) instruir os outros para sairem da deles.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Where to draw the line
A diferença entre bom dia e boa tarde é vincada. Sou normalmente corrigido (e corrijo!) se alguém me disser bom dia às três da tarde. No entanto, hoje desejaram-me um resto de bom dia às três da tarde. Fiquei a pensar se deveria corrigir para um mais apropriado resto de boa tarde.
domingo, 8 de fevereiro de 2015
É uma experiência relativamente comum
Sentado na bicicleta, pedalar e lutar para atingir equilíbrio à medida que se adquire velocidade, incentivado pela voz progenitora que corre segurando a traseira da bicicleta. A sensação de excitação misturada com algum medo surge quando se olha para trás e apercebe que o apoio já lá não está - ficou para trás, curvado, mãos agarradas aos joelhos, a arfar.
Hoje vi um pai a ensinar um filho a andar de skate.
(empurra com a perna esquerda!)
Hoje vi um pai a ensinar um filho a andar de skate.
(empurra com a perna esquerda!)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Embracing the shallow
Num dos episódios de Dr. House, o seu (único?) amigo Wilson descobre que tem cancro. Um oncologista com cancro, a ironia. A partir daí e durante alguns episódios, assistimos à reacção do feiticeiro revirado pelo feitiço.
Wilson não quer ser tratado no hospital, Wilson não quer fazer os tratamentos convencionais que tantas vezes prescreveu aos seus doentes com base em taxas elevadas de sucesso da terapia. Que dizer àqueles a quem estas terapias ainda assim, desafiando as probabilidades, não funcionaram? Prefere uma solução experimental, arriscada, que caso não resulte pode significar a sua morte. Não morre mas também não consegue a cura.
Como muitos dos que passam por situações graves de saúde que (im)põem um prazo de validade - assim como aqueles de quem se diz terem enganado a morte por pouco - qual lugar-comum, sentiu que tinha que mudar a sua vida. Aproveitar os cinco meses que lhe faltam. Sugar o tutano de cada dia, carpe diem.
Resolve cortar totalmente com a sua vida de até àquele momento. Tinha arriscado pouco, feito poucas loucuras. Ao contrário do (não único?) amigo House, é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros, que tem consideração pelo sofrimento dos seus doentes.
E então, ao contrário da maioria dos que executam o lugar-comum, não tentou uma mudança para uma vida com mais sentido mas sim para vida superficial, imatura. Embracing the shallow. Cria inclusivamente um alter ego, Kyle Calloway, personagem cujo papel vai tentar desempenhar para satisfazer essa vontade de vazio.
Wilson não quer ser tratado no hospital, Wilson não quer fazer os tratamentos convencionais que tantas vezes prescreveu aos seus doentes com base em taxas elevadas de sucesso da terapia. Que dizer àqueles a quem estas terapias ainda assim, desafiando as probabilidades, não funcionaram? Prefere uma solução experimental, arriscada, que caso não resulte pode significar a sua morte. Não morre mas também não consegue a cura.
Como muitos dos que passam por situações graves de saúde que (im)põem um prazo de validade - assim como aqueles de quem se diz terem enganado a morte por pouco - qual lugar-comum, sentiu que tinha que mudar a sua vida. Aproveitar os cinco meses que lhe faltam. Sugar o tutano de cada dia, carpe diem.
Resolve cortar totalmente com a sua vida de até àquele momento. Tinha arriscado pouco, feito poucas loucuras. Ao contrário do (não único?) amigo House, é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros, que tem consideração pelo sofrimento dos seus doentes.
E então, ao contrário da maioria dos que executam o lugar-comum, não tentou uma mudança para uma vida com mais sentido mas sim para vida superficial, imatura. Embracing the shallow. Cria inclusivamente um alter ego, Kyle Calloway, personagem cujo papel vai tentar desempenhar para satisfazer essa vontade de vazio.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Souffrance
Fala-se muito dos problemas das pessoas que sofrem em silêncio. Ninguém se preocupa com as que sofrem em ruído.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Bateria
Dois filmes ligados por baterias.
O primeiro pela razão mais óbvia: a história de um aluno de uma escola de jazz de topo e de um professor tirânico. Whiplash, o título e tema central do filme, mas também Caravan, Buddy Rich, Donna Lee, rudimentos e double time feel a 300bpms. O segundo pela razão menos óbvia: a banda sonora de Birdman é, na sua maioria, uma bateria que vai acompanhando a dinâmica do filme. Uma ou outra vez, o baterista é filmado - Brian Blade aparece curvado sobre os pratos e os timbales.
O primeiro a não perder para quem gosta de música e, em especial, teve aulas de música e só faltou chegar a vias de facto com professores execráveis. O segundo, por imensas (todas?) razões, a não perder para quem gosta de cinema.
O primeiro pela razão mais óbvia: a história de um aluno de uma escola de jazz de topo e de um professor tirânico. Whiplash, o título e tema central do filme, mas também Caravan, Buddy Rich, Donna Lee, rudimentos e double time feel a 300bpms. O segundo pela razão menos óbvia: a banda sonora de Birdman é, na sua maioria, uma bateria que vai acompanhando a dinâmica do filme. Uma ou outra vez, o baterista é filmado - Brian Blade aparece curvado sobre os pratos e os timbales.
O primeiro a não perder para quem gosta de música e, em especial, teve aulas de música e só faltou chegar a vias de facto com professores execráveis. O segundo, por imensas (todas?) razões, a não perder para quem gosta de cinema.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Deflated
Comprar um pão de Mafra fatiado quentinho, acabadinho de fazer. Chegar a casa, arrumar as compras a correr e, depois de tudo no devido sítio, tirar uma faca da gaveta e a manteiga do frigorífico. Abrir a embalagem da manteiga e reparar que está cheia de bolor.
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