quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Lisboa by morning
Um homem, meia-idade, casaco de cabedal de quem anda de mota, de pé à porta de um prédio, a cortar as unhas virado para o passeio.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Ain't it fun when you know that you're gonna die young
Rock-and-pop superstardom is one requirement for entry into the so-called 27 Club. The other, much less enviable qualification is premature death. The theory, popularized in music journals, is that 27 is the age at which rock musicians are most at risk of an untimely death.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
domingo, 26 de outubro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Não parece aquilo que é.
Quem é o vê a passar na rua não sabe que vive na rua. Mas vive. Na ombreira de uma porta, sempre a mesma. Uma coisa que nem metro e meio deve ter. Um amontoado de roupas, cobertor. Deita-se em posição bastante fetal, para conseguir caber naquele espaço exíguo para um homem de estatura média. Às vezes, para conseguir estar de barriga para cima, põe as pernas ao alto, levantadas contra a parede.
Se nunca o tivesse visto ali deitado, não saberia que passa ali as noites. Tem um aspecto normal. À conversa com as pessoas enquanto fuma um cigarro, sentado na mesa do café. No limite, é como se já morasse ali, como se aquela ombreira onde passa as noites – encolhida numa posição do mais fetal possível – fosse a sua morada.
Se nunca o tivesse visto ali deitado, não saberia que passa ali as noites. Tem um aspecto normal. À conversa com as pessoas enquanto fuma um cigarro, sentado na mesa do café. No limite, é como se já morasse ali, como se aquela ombreira onde passa as noites – encolhida numa posição do mais fetal possível – fosse a sua morada.
Alinhamento
A notícia de abertura do Expresso é a operação plástica (falhada?) da Renée.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Um jardim e no entanto não o sinto como um pequeno espaço verde.
É exactamente o oposto. O Torel faz-me lembrar, leva-me até São Paulo: a toda a volta, tirando uma tira de Tejo, só so vê construção, prédios. Por um momento, parece que Lisboa não tem limites para lá do betão e que se espraia continuamente pelo horizonte fora.
domingo, 19 de outubro de 2014
If it's alright by you
Dizia que não tinha quaisquer arrependimentos. Em relação a seja o que for. Que, se lhe fosse dada a hipótese de voltar atrás, faria tudo exactamente da mesma forma, tomaria exactamente as mesmas decisões. O cliché. E tudo sem pensar duas vezes. Mas tinha um medo: o de se vir a arrepender de não se ter arrependido antes.
sábado, 18 de outubro de 2014
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Easy come easy go
Há formas de dizer as coisas. A forma certa. A única forma certa. Mas tudo é passível de ser dito. Sem reservas. Sem subterfúgios. Sem que nada fique por dizer, guardado, abafado. Tudo o que é preciso é encontrar a forma certa.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Essência
But above all I am a man. A hopelessly inquisitive man.
The Master
The Master
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Embriaguez
«- Amok?... Creio recordar-me… é uma espécie de embriaguez... entre os malaios.
- É mais do que uma embriaguez... é a loucura, uma espécie de raiva humana, literariamente falando... uma crise de monomania assassina e insensata, à qual a intoxicação alcoólica não se pode comparar. (...) A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar...»
Amok, Stefan Zweig
- É mais do que uma embriaguez... é a loucura, uma espécie de raiva humana, literariamente falando... uma crise de monomania assassina e insensata, à qual a intoxicação alcoólica não se pode comparar. (...) A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar...»
Amok, Stefan Zweig
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
sábado, 11 de outubro de 2014
Sinusoidal
A dificuldade, o peso. Olhos a arder. Tudo isso volta, contrariando o desta vez é diferente. Regressa, quase como se tivesse uma data marcada de antemão. Um encontro estipulado algures no passado, daqueles a que se diz que sim e que só quando confrontados com a iminente realização nos apercebemos. Tudo isso volta. Toda essa dificuldade. Todo esse peso. Pesado, por sinal, que obriga a caminhar mais devagar. Desta vez não é diferente. Assim como nenhum das outras vezes foi.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Ausência de simetria
De uma pessoa gorda diz-se que é forte mas uma pessoa magra não se diz que é fraca.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
terça-feira, 7 de outubro de 2014
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
domingo, 5 de outubro de 2014
Ponto focal
Com alguém que lhe era semelhante passava o tempo a ver as poucas diferenças entre ambos. Com alguém diferente só pensava naquilo que tinham em comum.
sábado, 4 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Sinestesia
Diz-se que uma pessoa está visivelmente irritada mesmo quando, na prática, está sobretudo auditivamente irritada.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
O discurso contra a violência na televisão é algo que já vimos e ouvimos inúmeras vezes.
Pessoalmente, ouvi-o muitas vezes vindo da minha avó. Que a violência nos meios de comunicação é prejudicial e estimula a violência na vida real, especialmente no caso das crianças. Estamos a dar sugestões sobre como se mata e rouba.
Por estas e por outras temos a célebre “bolinha” vermelha, que nos avisa (e aos pais das crianças) quando a emissão que aí vem é particularmente violenta e não indicada aos mais sensíveis – tecnicamente, o símbolo também alerta para cenas de sexo, mas isso não suscitava grande preocupação por parte da minha avó. Ao alerta circular vermelho soma-se o horário fora de horas deste tipo de filmes ou programas, que normalmente só são emitidos já a noite deixou de ser uma criança.
Mas, ainda assim, há tanta oferta de conteúdos que retrata situações de violência nos horários mais normais, a roçar a adolescência da noite. E, nesses casos, sem “bolinha”. Basta ver a grelha de programação. Do “CSI” que procura criminosos olhando para borrifos de sangue e células epiteliais, ao “Criminal Minds”, uma equipa de elite especializada em casos de assassinos em série. Também há outras mais leves como o “Castle”, um escritor que segue polícias de Nova Iorque nas suas investigações criminais para obter ideias literárias e que acaba por dar sempre uma mão a resolver os mistérios.
Algumas destas séries têm requintes de malvadez. Por exemplo, Dexter, que dá o nome a uma série, trabalha como investigador forense de locais de crime e é, simultaneamente, um assassino em série. Captura as vítimas, imobiliza-as num local próprio para a execução, preparado de forma meticulosa para iludir as técnicas de investigação forense – há que admitir que a combinação de actividades deste personagem é invulgarmente conveniente. E depois espera pacientemente (e com notória excitação) que a substância que administra às vítimas para as atordoar no momento da captura deixe de fazer efeito. Só então desfere o golpe mortal, quando tem certeza que estão acordadas. E bem acordadas, depois de se aperceberem do sarilho em que estão metidas. Não as mata no conforto da anestesia; para além do castigo da morte, Dexter quer impor-lhes o castigo da percepção da sua morte (brutal) eminente. Há contudo uma atenuante que nos ajuda a criar uma certa empatia por este personagem: acontece que os seus alvos são outros assassinos – algo que nos ajuda a catalogá-lo como uma espécie de herói e aceitar o facto de que mata pessoas cruelmente a torto e a direito.
Como não gostar de uma série deste género? Macabra, é certo, mas particularmente original. Ao fascínio típico pelo crime que a maior parte de nós tem, sobretudo quando mete pessoas mortas – basta pensar nos género policial e na Agatha Christie – soma-se ainda uma certa dose de grotesco. É então que o cocktail se torna explosivo. Ainda outro exemplo: o Seven. Um filme perturbador e, a espaços, bastante grotesco. Mas, também, um filme fascinante, de culto.
Limite? A maior parte de nós assiste a este tipo de programação e não é violenta. Não andamos aos tiros e às facadas em pessoas só porque vemos imagens de violência na televisão, mesmo que seja em canais de alta definição. E depois, como estabelecer critérios para o que deve e não deve ser transmitido? Mesmo os mais acérrimos defensores de uma qualquer imposição de limites normalmente não consegue atacar filmes que pertencem à categoria de “sérios”, sobretudo se retratarem episódios sangrentos da História da Humanidade (aprender com os erros é importante, memória colectiva, etc.). Esta linha de argumentação suporta um filme como o Schindler’s List; já a violência gratuita do Kill Bill de Tarantino cai por terra. Mas não é à prova de bala. O problema é que também é possível argumentar o reverso da medalha, que a violência de Tarantino não é credível, que ninguém leva aquilo a sério de tão hollywoodesco que é – logo, não faz sequer sentido censurar o que, no fundo, não passa de uma gozação. De repente ocorre-me o Christ’s Passion que, confesso, é um filme que não agrada ao meu estômago (ocorre-me também que, no limite, poderíamos afirmar que um crucifixo é uma alusão a um acto de violência extrema).
Contradições? Há dias vi um episódio do “The Bridge” em que o chefe de cartel mexicano Fausto Galván, ao visitar o túmulo do filho, mostra a cabeça do assassino, aos pés da estrutura que suporta a urna, num frasco de vidro. Explica ao detective Marco Ruiz – que também procura vingança para o seu filho assassinado – como forçou a vítima a assistir à sua própria decapitação. Vi este episódio perto da altura em que circularam as notícias das mortes dos homens decapitados por membros do Estado Islâmico. A decapitação ou as imagens das cabeças decapitadas não foram, penso eu, veiculadas pelos meios de comunicação. Houve até alguma discussão deontológica entre os jornalistas sobre essa questão, em relação aos limites da sua profissão e se, no fundo, não estariam a propagandear ainda mais a causa terrorista mostrando essas imagens. E isto é ainda mais interessante tendo em conta que não me parece ter havido grande pudor em mostrar a cena da cabeça decapitada dentro de um frasco com um liquido. Ou, aliás, o episódio desta mesma série onde um miúdo é manietado dentro de um recipiente fechado de plástico que lentamente se vai enchendo de água até o planeado afogamento ser inevitável. Ou ainda, aliás, onde o autor da morte do miúdo é atacado na prisão e lhe tiram um olho com uma colher. A mesma série que, aliás, tenho seguido regularmente desde o ano passado. E a mesma série que, aliás, julgo, não tem “bolinha” vermelha e, tenho a certeza, não é transmitida fora de horas.
Por estas e por outras temos a célebre “bolinha” vermelha, que nos avisa (e aos pais das crianças) quando a emissão que aí vem é particularmente violenta e não indicada aos mais sensíveis – tecnicamente, o símbolo também alerta para cenas de sexo, mas isso não suscitava grande preocupação por parte da minha avó. Ao alerta circular vermelho soma-se o horário fora de horas deste tipo de filmes ou programas, que normalmente só são emitidos já a noite deixou de ser uma criança.
Mas, ainda assim, há tanta oferta de conteúdos que retrata situações de violência nos horários mais normais, a roçar a adolescência da noite. E, nesses casos, sem “bolinha”. Basta ver a grelha de programação. Do “CSI” que procura criminosos olhando para borrifos de sangue e células epiteliais, ao “Criminal Minds”, uma equipa de elite especializada em casos de assassinos em série. Também há outras mais leves como o “Castle”, um escritor que segue polícias de Nova Iorque nas suas investigações criminais para obter ideias literárias e que acaba por dar sempre uma mão a resolver os mistérios.
Algumas destas séries têm requintes de malvadez. Por exemplo, Dexter, que dá o nome a uma série, trabalha como investigador forense de locais de crime e é, simultaneamente, um assassino em série. Captura as vítimas, imobiliza-as num local próprio para a execução, preparado de forma meticulosa para iludir as técnicas de investigação forense – há que admitir que a combinação de actividades deste personagem é invulgarmente conveniente. E depois espera pacientemente (e com notória excitação) que a substância que administra às vítimas para as atordoar no momento da captura deixe de fazer efeito. Só então desfere o golpe mortal, quando tem certeza que estão acordadas. E bem acordadas, depois de se aperceberem do sarilho em que estão metidas. Não as mata no conforto da anestesia; para além do castigo da morte, Dexter quer impor-lhes o castigo da percepção da sua morte (brutal) eminente. Há contudo uma atenuante que nos ajuda a criar uma certa empatia por este personagem: acontece que os seus alvos são outros assassinos – algo que nos ajuda a catalogá-lo como uma espécie de herói e aceitar o facto de que mata pessoas cruelmente a torto e a direito.
Como não gostar de uma série deste género? Macabra, é certo, mas particularmente original. Ao fascínio típico pelo crime que a maior parte de nós tem, sobretudo quando mete pessoas mortas – basta pensar nos género policial e na Agatha Christie – soma-se ainda uma certa dose de grotesco. É então que o cocktail se torna explosivo. Ainda outro exemplo: o Seven. Um filme perturbador e, a espaços, bastante grotesco. Mas, também, um filme fascinante, de culto.
Limite? A maior parte de nós assiste a este tipo de programação e não é violenta. Não andamos aos tiros e às facadas em pessoas só porque vemos imagens de violência na televisão, mesmo que seja em canais de alta definição. E depois, como estabelecer critérios para o que deve e não deve ser transmitido? Mesmo os mais acérrimos defensores de uma qualquer imposição de limites normalmente não consegue atacar filmes que pertencem à categoria de “sérios”, sobretudo se retratarem episódios sangrentos da História da Humanidade (aprender com os erros é importante, memória colectiva, etc.). Esta linha de argumentação suporta um filme como o Schindler’s List; já a violência gratuita do Kill Bill de Tarantino cai por terra. Mas não é à prova de bala. O problema é que também é possível argumentar o reverso da medalha, que a violência de Tarantino não é credível, que ninguém leva aquilo a sério de tão hollywoodesco que é – logo, não faz sequer sentido censurar o que, no fundo, não passa de uma gozação. De repente ocorre-me o Christ’s Passion que, confesso, é um filme que não agrada ao meu estômago (ocorre-me também que, no limite, poderíamos afirmar que um crucifixo é uma alusão a um acto de violência extrema).
Contradições? Há dias vi um episódio do “The Bridge” em que o chefe de cartel mexicano Fausto Galván, ao visitar o túmulo do filho, mostra a cabeça do assassino, aos pés da estrutura que suporta a urna, num frasco de vidro. Explica ao detective Marco Ruiz – que também procura vingança para o seu filho assassinado – como forçou a vítima a assistir à sua própria decapitação. Vi este episódio perto da altura em que circularam as notícias das mortes dos homens decapitados por membros do Estado Islâmico. A decapitação ou as imagens das cabeças decapitadas não foram, penso eu, veiculadas pelos meios de comunicação. Houve até alguma discussão deontológica entre os jornalistas sobre essa questão, em relação aos limites da sua profissão e se, no fundo, não estariam a propagandear ainda mais a causa terrorista mostrando essas imagens. E isto é ainda mais interessante tendo em conta que não me parece ter havido grande pudor em mostrar a cena da cabeça decapitada dentro de um frasco com um liquido. Ou, aliás, o episódio desta mesma série onde um miúdo é manietado dentro de um recipiente fechado de plástico que lentamente se vai enchendo de água até o planeado afogamento ser inevitável. Ou ainda, aliás, onde o autor da morte do miúdo é atacado na prisão e lhe tiram um olho com uma colher. A mesma série que, aliás, tenho seguido regularmente desde o ano passado. E a mesma série que, aliás, julgo, não tem “bolinha” vermelha e, tenho a certeza, não é transmitida fora de horas.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Encaixotar
O mundo está dividido em dois tipos de pessoas: os que dividem o mundo em dois tipos de pessoas e os outros.
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