quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Live score

O velhote na cadeira de rodas, de lado para o banco. Um chapéu na cabeça. Quase sempre ao final da tarde. Sempre o mesmo banco. Ela sentada, de perna cruzada, a mão estendida e agarrada a um dos braços da cadeira de rodas. Uma bata que já deve ter sido branca em tempos, agora está apenas suja. A cara cravejada de borbulhas. Às vezes ela fala ao telefone
Estou a passeaarrr
(um sotaque brasileiro nordestino carregado)
Ele continua sempre com a mesma cara distante - carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra.
Mas na maior da parte das vezes, ela limita-se a olhar para baixo, ou para as mãos ou para o chão. Em silêncio. Ele sempre com cara de carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra. Cumprem um horário, calendário. Cumprem um ritual: o ritual de levar o velhote a passear à rua. Na cadeira de rodas, chapéu na cabeça. Ao final da tarde.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Frontloading

Louis CK fala acerca das suas filhas e do seu papel enquanto pai. Contrariamente ao seu estilo self-deprecating (I'm an idiot, I'm broke, my wife hates me, I have no sex, etc.), surpreendentemente afirma que acha ter feito um bom trabalho com as filhas. Depois ilustra melhor aquela que, para ele, é a mais importante tarefa da paternidade: explicar-lhes que a maior parte das vezes não vão conseguir aquilo que querem e que meio caminho para serem felizes é aprenderem a lidar com a desilusão.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Seek and you shall find

As pessoas perdem o autocarro ou o comboio mas nunca os ganham. Também os apanham mas nunca os encontram. Nem mesmo quando os perdem.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Chimerica

Niall Ferguson compara a relação económica entre os EUA e a China - que ele designa de Chimerica - a um casal: primeiro aproximaram-se e os destinos cruzaram-se cada vez mais; agora estão lentamente a afastar-se. A economia global dependente de aconselhamento sentimental.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

So help me God

«A Constituição federal dos EUA, elaborada na Convenção de Filadélfia, é integralmente laica, primando até pela ausência de referencias retóricas a Deus. Contudo, a inércia sociológica e cultural leva, anda hoje, a que o Presidente dos EUA, na sua tomada de posse, jure com a mão sobre a Bíblia, apesar do profundo pluralismo religioso da sociedade norte-americana.»

Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques

domingo, 17 de agosto de 2014

sábado, 16 de agosto de 2014

Guerra das estrelas

«Para que a Europa sobreviva, os Europeus têm de ser fiéis ao melhor da sua história e à promessa de um futuro comum, alimentada e renovada depois da tragédia dos seus fracassos sucessivos. Talvez valha a pena os Europeus começarem a olhar com mais atenção para as estrelas que cintilam nas longas noites do inverno da nossa crise de destino. Mas o seu significado ainda não brilha, nem na alma dos cidadãos, nem no espírito dos seus líderes.»

Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Perna de ganso

Os filósofos e os jogadores de rubgy têm essencialmente o mesmo objectivo de vida: fazer ensaios.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Política de casino

No final de 2010, a meio do seu primeiro mandato, Barack Obama teve uma derrota histórica nas eleições intercalares. Perdeu o controlo da Casa dos Representantes para o Partido Republicano por uma margem significativa. A derrota foi estrondosa, punha em causa as suas hipóteses de reeleição em 2012 e levou-o a dizer, no discurso pós-eleitoral, “I need to do a better job”.

Pouco depois de ter tido essa derrota, a CIA comunicou ao Presidente que tinha obtido um conjunto de indicações acerca do eventual paradeiro de Osama bin Laden, numa casa no Paquistão. A informação não era, no entanto, precisa, havia apenas alguns indícios que apontavam nesse sentido.

Durante meses os detalhes do local foram estudados minuciosamente assim como as possibilidades de ataque. Pese embora toda a preparação, a decisão de avançar com uma operação era bastante arriscada e delicada por essencialmente duas razões. Por um lado, não havia nenhuma certeza de que se tratava do esconderijo de bin Laden. Por outro lado, se fosse efectivamente o esconderijo, tal seguramente significaria que existia conivência do governo do Paquistão, até então tido como um aliado pelos EUA. Por esta razão, Obama resolveu não partilhar nenhuma da informação que tinha com o governo paquistanês. Desta forma, havia o risco de os militares americanos serem interceptados por militares paquistaneses no percurso de 190kms entre a fronteira do Afeganistão e o local do suposto esconderijo, e a subsequente crise diplomática que tal geraria.

Como se sabe, a operação foi bem-sucedida. Tratava-se de facto do líder da Al Qaeda e, a 1 de Maio de 2011, o Presidente dirigiu-se ao país, explicando que o terrorista tinha sido morto no decurso da invasão da habitação onde se encontrava. Para além da importância da vitória para a luta americana contra o terrorismo, ela teve um impacto fulcral para o Presidente Obama e catapultou-o para a vitória nas eleições para o segundo mandato. Aliás, pouco tempo depois do anúncio da morte do homem mais procurado do mundo, Barack Obama começou a sua campanha política para a Casa Branca, surfando a onda de boa opinião pública que estava a ter.

A questão que me parece mais interessante nesta história pode ser resumida no seguinte contra-factual: teria a decisão de Obama sido diferente acaso o resultado das eleições intercalares não tivesse sido tão mau e a sua reeleição não estivesse em risco? Por outras palavras, se tivesse, ao invés, bons índices de popularidade, teria ele dado luz verde a uma operação arriscada que poderia pôr em causa a sua imagem junto da opinião pública?

A decisão do líder dos Estados Unidos parece um típico caso de “double or nothing” ou do nosso “perdido por cem, perdido por mil”: quando, partindo de uma situação desfavorável e confrontados com uma decisão arriscada que possa anular ou reverter o resultado final sem, no entanto, alterar materialmente o resultado actual, temos tendência a assumir mais risco do que numa situação normal. Se a operação tivesse corrido mal – porque, p.e., não se tratava do esconderijo de bin Laden – a popularidade do Presidente americano provavelmente cairia ainda mais mas, na prática, muito provavelmente não alteraria em nada o resultado final das eleições. Ao invés, ao ter corrido bem, é um dos maiores cartões-de-visita do seu primeiro mandato aos olhos do eleitorado – mais até do que ter conseguido alargar drasticamente a cobertura médica dos americanos – e, por conseguinte, o acontecimento tido como mais relevante para o levar a conseguir a sua reeleição.


Comportamentos de tomada de risco elevado são relativamente comuns. Mais: como esta história mostra, podem ser perfeitamente racionais do ponto de vista individual. Tudo depende das circunstâncias em que as decisões são tomadas, como a própria sabedoria popular nos explica, basta voltar ao “perdido por cem, perdido por mil”. Infelizmente, nem sempre a melhor estratégia ao nível do interesse individual coincide com a do interesse colectivo.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Flipping burgers

O Stata tem um comando chamado twoway com uma série de opções diferentes - curiosamente não tem um threeway.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Burro velho aprende sistemas operativos

Faz por esta altura um ano que mudei para Mac. Uma decisão protelada uma série de anos, no mínimo quatro, altura em que comprei o meu último PC. As incompatibilidades, o software que não corre, a necessidade de adaptação – todos estes papões, essas medeias de sete cabeças, esses abomináveis homens das neves. Temos tido os nossos tête-à-tête, por vezes é preciso bater um pouco com a cabeça na parede. Mas é mesmo pouco. Ao ponto de achar que a decisão de não mudar para Mac precisa de outra razão que a suporte.

domingo, 3 de agosto de 2014

Escudo

O maior problema do wishful thinking não é o wishful: é a ausência de thinking.

sábado, 2 de agosto de 2014

Typo (negative)

O corrector automático é manhoso, actua à revelia. É insistente, é teimoso. Sabe mais a dormir que nós todos acordados. E se essa sobranceria me irrita, tenho que admitir que por vezes tem imensa graça. Com alguma adrenalina à mistura, diga-se que algumas correcções erradas (adoro dizer isto) podem dar azo a situações bem perigosas. Mas, sem esse perigo à espreita, outras são de ir às gargalhadas.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A linha que não separa

Fazer uma linha por debaixo de palavras que se quer destacar, mas nunca por cima. Embora, conceptualmente, sobrelinhar não pareça ser assim tão diferente de sublinhar.