A tua fotografia dá-me uma chapada na cara. Inesperada. Os olhos claros queimam-me, os cabelos escuros cegam-me. Semeámos uma pedra e, ao longo deste tempo, deixámo-la crescer. Aos poucos, lentamente, porque o tempo não gosta de tratar de nada precipitadamente: o tempo leva tempo a tratar das coisas. E a pedra cresceu, ganhou forma, ganhou tamanho, tornou-se num verdadeiro pedregulho, um calhau enorme, pesadíssimo. Ao ponto de ninguém conseguir pegar nela, totalmente inamovível. E depois cometemos o erro de pensar, supor, assumir que era suficiente. Que abafaria toda e qualquer chapada inesperada, claridade ardente, escuridão ofuscante. Que nos protegeria de tudo o que viria, de tudo o que veio. E tudo o que pode vir a ser. Um erro de principiante, claro, uma ingenuidade rotunda e ignorante. Há assuntos tão grandes que nenhuma pedra – por quão grande que seja – os pode cobrir. E é por causa da queimadura, da cegueira, da chapada sonora inesperada que nos deixa atónitos que gradualmente percebemos. A pedra que semeámos, cuidámos e deixámos lentamente que crescesse afinal quanto mais cresce mais pequena se torna – e é uma surpresa: uma vez mais, a ingenuidade rotunda e ignorante. Passa subitamente de um pedregulho, calhau enorme a uma pequena pedra, uma pedrinha.
O tamanho ideal para se alojar no nosso sapato.
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