terça-feira, 30 de novembro de 2010

What are the odds

Há cerca de ano e meio atrás, fartei-me do Millennium BCP e fechei a minha conta. Tinha sido aberta pelos meus pais quando era miúdo, na altura no BPA, se não estou em erro. Um ano e meio de pois e ainda continuam, religiosamente, a enviar-me por e-mail a newsletter deles. Este ano, foram ao cúmulo de me enviar um SMS de parabéns no meu dia de anos, algo que nunca fizeram em todo o tempo que efectivamente fui cliente deles.

sábado, 27 de novembro de 2010

Festarolas

«Uma parte essencial da saloiice indígena é a mania do prestígio. Ontem o DN falava da cimeira da NATO, notando com grande satisfação que ela nos trazia grande prestígio. E porquê? Porque Portugal recebia os "chefes" (e que "chefes") dos 28 Estados membros, mais duas dezenas de "representantes" de outros desgraçados países, desde o afegão Karzai ao russo Medvedev. Esta festarola já tornou Lisboa num inferno e provocou o governo a dar o presente do costume ao grosso do funcionalismo: a sempre abençoada e nunca verdadeiramente merecida "tolerância de ponto". Mas parece - dizem os peritos - que o mundo pasma com a nossa "capacidade" de organização, ainda por cima de um "evento" que "mudará o futuro próximo da humanidade". Para dona-de-casa não estamos mal.

A Expo-98 e o Europeu de Futebol de 2004, embora sem "mudar o futuro próximo da humanidade", o que foi uma pena, tinham a seu tempo mostrado essa nossa extraordinária vocação. E mesmo hoje Portugal continua ardorosamente à procura de um espectáculo qualquer que reforce e alargue a sua enorme fama de "receber bem", necessária como pão para a boca a um país que se preze. Consta, por exemplo, que vem aí o Mundial de Futebol e até, suponho que em homenagem à Comporta, a Ryder Cup (uma espécie de campeonato de golfe). Só falta agora o pingue-pongue e o ténis, que se escondeu, talvez por modéstia, no Estoril. A única coisa que espanta neste fulgurante currículo é que Portugal não use a sua "capacidade de organização" para se organizar a si próprio, uma coisa por que ninguém certamente o criticaria.

De resto, há por aí gente, como a sra. Merkel, que é muitíssimo capaz de preferir Portugal com uma dívida externa mais pequena, um défice razoável e uma economia em crescimento. Sabemos que essa gente é mesquinha e má. E que nada paga a íntima alegria de ver Obama e os seus duzentos guarda-costas nas ruas de Lisboa. O brilho de uma boa "cimeira" não substitui a mediocridade de uma vida honesta e de uma sociedade um pouco menos miserável e caótica. Os pobres - é uma velha verdade - gostam de se roçar (figurativamente) pelos ricos. Como a insignificância gosta de se roçar pela grandeza e discutir a sério o "futuro próximo da humanidade", em especial do Afeganistão em que o interesse de Portugal é óbvio. Mas, de quando em quando, convinha que o governo descesse à realidade de que teoricamente se devia ocupar.»

Vasco Pulido Valente

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

P. diz que já não me ama.

Ou melhor, que afinal já não me ama. Assim, meio de rompante, embora se note que andou a remoer a frase durante algum tempo. O que é estranho: com tanto tempo para ensaiar, devia ter-lhe saído melhor. Depois fica chateada com a ausência de uma reacção minha. Ou melhor, uma reacção efusiva. Ou seja, queria que eu tivesse ficado lixado. Não fiquei. E expliquei-lhe: não me estava a dizer nada de novo. Aí é que ela ia trepando pelas paredes. Como era possível que eu soubesse? Estava armado em parvo. Eu e o meu cinismo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sei que a P. não está interessada em sexo mas acede à minha incursão.

Também não me apetece muito mas apetece-me ainda menos o fuzilamento de que seria alvo caso não manifestasse nenhuma vontade.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

P. está numa daquelas fases insuportáveis em que me pergunta vezes sem conta o que eu acho disto ou daquilo.

É incapaz de tomar uma decisão. Pergunta-me tudo desde se há-de deixar o trabalho actual até que sapatos deverá calçar, o que é que eu acho disto e daquilo. Pior, larga-me constantemente aquele “não é?” no final de cada frase, parece que não tem segurança naquilo que diz e precisa que constantemente vá anuindo. Até que perco a paciência. Discuto com ela e digo-lhe que está a exagerar, que a insegurança dela é disparate, não faz sentido nenhum. Quando os ânimos começam a acalmar e consigo que me vá dando alguma razão, não consigo evitar e estrago tudo quando sou eu próprio que digo “não é?”.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

P. diz-me que quer ter um filho comigo.

E pergunta-me se quero ter um filho com ela. Eu faço um sorriso. Verdadeiro. Gostava mesmo de ter um filho. Abraço-a. Beijo-a. E digo-lhe que sim. Claro que sim. Acrescento mais qualquer coisa, mais ou menos como este é um bom momento. E, após a parte séria, aproveito para brincar: até podemos começar já a tratar disso enquanto a dispo. A P. fica com uma cara linda. Contente. Preenchida. Satisfeita. Adoro vê-la assim. Mas sei perfeitamente que não deixou de tomar a pílula.

domingo, 21 de novembro de 2010

P. seria a melhor pessoa para fazer uma campanha a favor do sexo virtual.

Até estou a ver o slogan: orgasmo sim, mas não me toques. Assim do género da “cena de sexo” do filme do Woody Allen, o Herói do Ano 2000 em que os tipos usam uns capacetes que estimulam ondas cerebrais.

sábado, 20 de novembro de 2010

P. não gosta assim tanto de sexo.

Quer dizer, P. gosta de sexo, do que ela não gosta é de se expor a outra pessoa. Nem a mim nem a ninguém. E não é meramente por causa do corpo, acho que não a incomoda que eu conheça a nudez dela. O que a incomoda é que eu lhe conheça a cara quando se vem.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

P. diz uma coisa uns dias, outros dias diz outra.

Sei perfeitamente que depende sempre do lado para o qual o vento sopra. Já não é nada de novo. Talvez de início me irritasse. Com o tempo, acabei por me habituar. E, para ser sincero, nem sequer me incomoda. Aprendi a apreciar e achar graça, quase como se fosse uma virtude. Porque, no fundo, a incoerência não é um defeito.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

P. diz que é capaz de me amar.

Não tem a mínima dúvida disso. Deve ter-se apercebido recentemente. Eu digo-lhe que não tenho a mínima dúvida que a amo já. Ela gosta da minha resposta. Aninha-se no meu braço, com um suspiro e um sorriso.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O ponto a partir do qual tudo muda.

A partir do qual tudo é diferente. Costumas dizer “no turning back” e tens razão. Dou-te razão porque percebo (finalmente) a força desses pontos, dessas rupturas que rasgam com tudo. Buracos negros que distorcem tudo à volta. A partir desses acontecimentos, todos os caminhos são novos e diferentes.

domingo, 14 de novembro de 2010

Ao que isto chegou

"Não vejo dificuldades em Timor-Leste comprar também dívida pública portuguesa, na medida em que o próprio Governo timorense já tomou a decisão de diversificar a aplicação do Fundo do Petróleo, comprando outras dívidas públicas, incluindo a australiana e de outros países"

All things considered

Já não sei muito bem como chegámos ali, falávamos de publicidade e de psicologia e, a certa altura, estávamos na Apple e no Jobs. Foi algures por aí que me disse que em breve teria que comprar um computador novo e esperava que esse processo não fosse fácil. Isto porque estava muito contente com o actual. Quatro anos e meio constantemente ligado – ok, de vez em quando fazia um reboot – e nunca tinha dado um único problema de hardware! Fiz uma cara de espantado. É claro que provoquei um pouco: mas porque carga de água queres ter o PC constantemente ligado? E já ouviste falar na pegada ecológica? Enfim, de qualquer das formas, havia que dar o braço a torcer, isso é que é uma máquina da guerra, resistente e duradoura. Eu próprio estou ligado também há quatro anos e meio (um pouco mais, para ser mais preciso) e já dei vários problemas de hardware. Riu-se. I won´t buy your brand then. Ora toma e embrulha.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

C'um caneco

«Levar com uma caneca de cerveja na cabeça não é brincadeira nenhuma. A medicina legal alemã analisa agora o perigo que representam as canecas utilizadas da Oktoberfest, a festa da cerveja, que, cada vez mais, servem de arma em cenas de pugilato entre bebedores. Uma destas canecas de cerveja matou um homem de 29 anos, atingido na cabeça, vítima de comoção cerebral.

As canecas utilizadas na festa da cerveja pesam, vazias, 1.3kg. Levam um litro. A asa torna-as muito maneáveis e, de facto, podem ser uma arma terrível. Basta uma força de 4 mil newtons para fraturar um crânio e um golpe violento representa uma força superior a 8500 newtons (…).»

Revista Courier

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Yipe-ki-yay

«Bebop was a high-frequency music that shot forward, then suddenly went mute in the middle of a melody chorus; it was highly aware of its own weight and shape. It didn’t have the conversational quality of swing playing, of Lester Young and the daddy of them all, Coleman Hawkins, unless you mean a conversation under the influence of amphetamines. Amphetamines properly accompanied bebop, as gin accompanied stride piano.»

Coltrane - the story of a sound, Ben Ratliff

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Polka dot

O céu começa a escurecer e os pontinhos de luz surgem, um a um, formas geométricas perfeitas das janelas dos edifícios altos. Parecem pequenos favos de colmeias, somos abelhas que habitamos a luz destes gabinetes que irradiam para o exterior. E que preenchemos a escuridão da noite.

domingo, 7 de novembro de 2010

Constant state of crisis

A ideia de se separar dela era insuportável. Nem que fosse só por umas horas. Por exemplo, as horas em que saia de casa para trabalhar. Sofria o dia todo. Até não aguentar mais e se despedir.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Ar na canalização

Se há coisa que me irrita nos computadores é demorarem séculos a abrir. No local de trabalho então a espera é particularmente penosa. De tal forma que me esforço por optimizar o tempo perdido. A primeira coisa que faço assim que entro no gabinete é carregar no botão para ligar o aparelho; só depois tiro o casaco e o penduro. Mais: tenho todo o tempo do mundo para me deslocar à máquina do café, tirar a minha dose matinal, regressar à cadeira e, mesmo assim, ainda não é o suficiente para que apareça a janela que solicita o ctrl+alt+del, seguido do username e da password. Insiro as minhas credenciais e, enquanto as definições de segurança são carregadas, assim como as minhas definições pessoais, dou uma saltada ao gabinete do colega do lado só para fazer aquela conversa da chacha. Passado uns minutos regresso, mesmo a tempo de ver a janela do Explorer com a página da intranet a abrir. É finalmente o final do processo que, na totalidade, não demora menos de 6 a 7 minutos, num bom dia.

Agora, o que me deixa mais lixado é que, para fechar, quando um tipo se vai embora e não está minimamente preocupado com o tempo, bastam apenas alguns segundos. É uma provocação, só pode.