segunda-feira, 31 de maio de 2021

A pergunta

Vivia mesmo ao pé da paragem de autocarro onde eu costuma esperar pelo 413 ou 423 para ir para a escola. Magro, alto, cabelo loiro. Conhecia-o de vista e até sabia o seu nome e calculo que também me conhecesse a mim. Não só porque morávamos perto mas também porque andávamos na mesma escola, temos sensivelmente a mesma idade. E, no entanto, nunca tínhamos falado um com o outro. 

Naquele dia, esperava o tal 413 ou 423 como em tantos outros, sozinho na paragem. Apareceu e meteu conversa comigo, não me lembro exactamente a que propósito. Mas lembro-me que, a certa altura, me perguntou se podia ser meu amigo, uma pergunta que parece algo inusitada, como se a amizade pudesse ser decretada com base num pedido e numa anuência (ao contrário do namoro: esse sim, pode ser solicitado). Respondi-lhe que sim, embora nunca tivéssemos verdadeiramente ficado amigos - lá está, é uma relação que precisa de um crescimento orgânico, não pode ser determinada por uma resposta afirmativa a uma simples pergunta. E a verdade é que não tínhamos grande contacto para que pudesse verdadeiramente existir.  

A excepção são as amizades virtualmente solicitadas dos dias de hoje. Aquelas que nascem de um click num botão, que desencadeia uma notificação ao solicitado.  

terça-feira, 25 de maio de 2021

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Irrealismo prodigioso

«Se a História, no sentido restrito do «conhecimento do historiável», é o horizonte próprio onde melhor se apercebe o que é ou não é a realidade nacional, a mais sumária autópsia da nossa historiografia revela o irrealismo prodigioso da imagem que os Portugueses se fazem de si mesmos.»

O labirinto da saudade, Eduardo Lourenço