segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A curva da avozinha

Um conceito que ganhou um certo destaque nos últimos anos, e pelas razões óbvias, é o da curva de Laffer. Resumidamente, a curva não é mais do que uma representação do nível de receita obtido para diferentes níveis da taxação. Trata-se de uma espécie de parábola invertida: a receita será zero se não houver impostos (se a taxa for nula) e, a partir daí é crescente para taxas mais elevadas mas só até um determinado ponto, a partir do qual subsequentes aumentos da taxa, na prática, levam a uma recolha inferior de impostos. No limite, para taxas suficientemente elevadas, a receita será novamente zero.

Esta ideia começou por ganhar alguma notoriedade no mandato de Ronald Reagan, que reduziu impostos argumentando que os EUA estavam na zona decrescente daquela curva. De tal forma que, e por pouco intuitivo que possa ser, uma redução das taxas deveria levar a uma maior captação de dólares para os cofres estatais (não foi o caso).

O que acho curioso nesta curva é que ela não faz mais do que aplicar a um caso particular – política fiscal – um princípio que as nossas avós já sabiam há muito tempo (aprenderam com as suas próprias avós): qualquer coisa em excesso é, geralmente, nocivo. É uma espécie de teoria da moderação. Ou do com-juizinho, não-sejas-garganeiro. Dai eu achar que “curva da avozinha” seria uma melhor designação.

Um exemplo (há tantos): beber um copo de vinho por dia, segundo dizem os especialistas, até pode ser saudável mas beber 37 já não é (e as avozinhas sabem isto tão bem). Neste caso, a partir de determinado número de copos, nem sequer se trata de ser menos benéfico, trata-se de ser nocivo – atravessamos o eixo das abcissas e entramos em território negativo, vamos do primeiro ao quarto quadrante. Outro: há especialistas (outros) que dizem que fazer desporto é benéfico até determinado nível e que cargas excessivas acabam por ser emendas piores que sonetos.

Interessantes são também os casos-limite desta representação. Em certas circunstâncias temos apenas a parte decrescente da curva de Laffer/avozinha. Por exemplo, em princípio, consumir droga, mesmo em doses pequenas, não deverá ter grande benefício, pelo que a regra deverá ser quanto maior a quantidade ingerida maior será o dano, qualquer que seja o valor do consumo. Neste caso, a curva é estritamente decrescente, a iniciar logo em zero e avançar para terreno negativo daí para a frente. Todas as avós sabem isto, dizem sempre para não nos metermos na droga. Levar um tiro, outro exemplo, em princípio, também não acarreta nada de bom.

E claro, o que me parece mais útil – embora sobejamente mais difícil – seria determinar processos para os quais os benefícios são sempre crescentes. E quando digo sempre crescentes, ficaria satisfeito mesmo que fosse com um limite máximo e não um crescimento para o infinito. Destes, infelizmente, nenhuma avozinha me falou.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Restart

Um dos temas que o orador mais frisa é a necessidade de uma maior ênfase na perspectiva colectiva. A reacção natural quando se fala em consciência é pensar-se na individual, quando a consciência colectiva também é importante. A preocupação com os outros, a compaixão, a empatia.

A palestra termina, segue-se uma sessão perguntas que se arrastou longa e penosamente. Curiosamente, as perguntas são normalmente na primeira pessoa. Ouvem-se "eus" atrás de "eus". É quase como se se tratasse de uma chamada para o helpdesk, esperando uma resolução para um problema específico.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O centro como terreno fértil de vitórias é algo a que nos habituámos.

Ainda agora quando temos, pela primeira vez, uma solução governativa que envolve os partidos mais à esquerda do espectro, o PS reafirma o seu europeísmo e a convicção de cumprimento dos compromissos europeus. Ou seja, sente necessidade de reforçar as características que o colocam mais à direita da esquerda. Isto, ao mesmo tempo que o nosso Presidente eleito, após inúmeras piscadelas ao centro e tentativas de distanciamento do anterior governo, se autodenomina como a esquerda da direita.

Os EUA, curiosamente, parecem passar por um processo diferente. Os candidatos republicanos são do menos moderado que se tem visto, das posições relativas à imigração e ao porte de armas até à negação da existência de alterações climáticas. Do lado democrata, Bernie Sanders é um candidato às primárias bastante à esquerda para o panorama americano: defende, por exemplo, educação e saúde gratuitas para todos e impostos sobre a banca, num discurso marcadamente anti-Wall Street. E está a bater-se com Hillary Clinton com uma proximidade um pouco inesperada.

Há umas semanas atrás, diria que achava pouco provável que Trump conseguisse a nomeação pelos republicanos. Entretanto, a vantagem que forjou e que leva para a Super Tuesday - bem como a desistência de Jeb Bush, que lhe poderia custar votos na Flórida, um dos estados mais importantes pela sua dimensão - fazem-me pensar um pouco mais.

Se efectivamente conseguir a nomeação, o candidato democrata pode ser importante para determinar o sucesso em chegar à Casa Branca. Com uma democrata mais moderada como Hillary, poderá ter uma possibilidade menor. Mas, admitindo que a batalha será contra Sanders, a polarização pode jogar a favor de Trump: mais depressa vejo americanos a votar por alguém com o discurso do magnata de Nova Iorque do que alguém que promete educação e saúde gratuitas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Optimismo

«Isto significa que estou pessimista sobre o futuro? Nem pessimista nem o contrário: o futuro, como dizem os ateus, a Deus pertence.»

Vamos ao que interessa, João Pereira Coutinho

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Regime

Contrariamente à ditadura, a meditadura é um regime bastante democrático e que preza as liberdades individuais.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Sobre os resultados da jornada anterior

Enorme falta de congruência linguística: Vitória de Guimarães contra Vitória de Setúbal deu em empate e o Vitória saiu perdedor.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Vestir a camisola é associado a entrega e dedicação a uma determinada tarefa ou causa.

No caso das modelos da Playboy, as mesmas entrega e dedicação poderiam mais adequadamente ser descritas por despir a camisola (pelo menos até há pouco tempo).

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Uma questão de "o"

Dizer tio Carlos ou ti Carlos, embora possa ser bastante próximo, revela uma grande diferença em relação a quem o diz. O primeiro é montes de bem; o segundo é rústico ou rural. Enquanto o primeiro é passível de ser considerado coisa de tio, ninguém diz do segundo que é coisa de ti.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Chez les hommes

«O amor nos homens não é mais do que o reconhecimento pelo prazer recebido (...)»

Submissão, Michel Houellebecq

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Taxação de acordo com a gradação alcoólica

Cerveja com IVA de 4-5%, vinho (nos dias que correm) entre os 13% e os 14%, whisky, gin e vodka lá mais para os 40%. Água e sumos com IVA zero.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Mindemptiness

A desconcentração não existe: a descontração é concentração noutro assunto.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016