quarta-feira, 30 de julho de 2014

Objectar (conscientemente)

Não concordava com a percentagem de despesa pública empregue em defesa nacional. E então retirava a mesma percentagem da sua declaração de impostos.

terça-feira, 29 de julho de 2014

A definição de inimigo interno

Tentar abrir o site da instituição onde trabalho justamente no local de trabalho e ser bloqueado pelo browser, com uma janela a indicar uma "security threat".

domingo, 27 de julho de 2014

Roda

Virou-se para o moinho com uma cara ameaçadora e disse "comigo não fazes farinha".

sábado, 26 de julho de 2014

As above so below

«de qualquer maneira, não existe isso de "passar o tempo". O tempo não passa.»
Não passa? Que queria ele dizer?
»Como é que eu sei? Talvez seja o contrário: passamos nós no tempo. Como é que hei de saber? Ou talvez o tempo passe pelas pessoas. (...)»

Caixa Negra, Amoz Oz

sexta-feira, 25 de julho de 2014

The frayed ends of sanity #2

Estou na zona de quartos do IKEA quase a acabar de escolher aquilo que preciso e a pensar em sair. De repente, um anúncio daqueles típico
Pede-se ao proprietário do veículo com a matrícula
Por acaso (e só por acaso) apercebo-me que se trata do meu carro - quem é que liga a estes anúncios por microfone, normalmente com vozes nasaladas e monocordicamente aborrecidas? - porque no final do anúncio dizem a marca, o modelo e a cor.
Pego rapidamente nas últimas coisas que preciso e largo no sentido das caixas e da saída. Faço um slalom difícil por entre as pessoas que vão de passeio e caminham a um passo lento, olhando em todas as direcções como se fosse a primeira vez que visitassem a loja sueca. Enquanto tento ultrapassar os obstáculos roçando os limites do código de estrada dos hipermercados e os do carrinho onde tenho as minhas compras (acelerações alucinantes, travagens bruscas), vou imaginando na minha cabeça o que poderá ter acontecido para que me chamem pelo altifalante. Terão batido no meu carro? Terei eu batido em alguém?
Quando finalmente chego perto do carro, vejo um funcionário com uma fila de carrinhos de compras no sítio onde estacionei. Dá-me uma descasca
Acha que isto é sítio para se estacionar?
É então que reparo que estacionei na passadeira que ele precisa de usar para passar. Peço-lhe desculpa (que mais?). E ele continua
Não tinha mais onde estacionar?
O segurança de colete amarelo fluorescente aproxima-se, pergunta-me se ouvi o anúncio, diz-me que não me preocupe que não tem problema
Tem problema tem, estacionei numa passadeira e não dei por isso

quarta-feira, 23 de julho de 2014

The frayed ends of sanity

Paro o carrinho do supermercado encostado num sítio que me parece não importunar o tráfego dos consumidores. Dirijo-me à prateleira em busca de qualquer coisa. Regresso ao carrinho, ponho as coisas no interior e sigo em direção a mais prateleiras e coisas para comprar. Pouco minutos depois, já noutra zona do supermercado, um homem alto vem ter comigo
Desculpe mas esse carrinho é meu
E no momento em que diz isso, olho para o interior e dou-me conta que, de facto, não costumo levar aquele tipo de iogurtes, assim como há tempo que não compro cereais. Peço-lhe desculpa e ele simpaticamente ajuda-me a isolar quais as coisas que entretanto tinha adicionado às dele e, mais do que isso, a localizar o meu carrinho, perdido e abandonado noutro canto do supermercado.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Goodness knows what the end will be

Saber parar de procurar é uma arte.
Know when to fold.
Do poker até à vida sentimental.
Let's call the whole thing off.
Como quase sempre, a resposta a tudo está na música.

domingo, 20 de julho de 2014

Matar moscas com uma carabina

«Section 232 stipulates that each regulatory agency must establish ‘an Office of Minority and Women Inclusion’ to ensure, among other things ‘increased participation of minority-owned and women-owned businesses in the programs and contracts of the agency’. Unless you believe, with the head of the International Monetary Fund, Christine Lagarde, that there would have been no crisis if the best-known bank to fail had been called ‘Lehman Sisters’ rather than Lehman Brothers, you may well wonder what exactly this particular section of Dodd-Frank will do to ‘promote the financial stability of the United States’.»

The Great Degeneration, Niall Ferguson

sábado, 19 de julho de 2014

À medida que o tempo passa, tudo é uma questão de zoom e velocidade do obturador.

Zoom para evitar o lugar-comum da perspectiva mas também pela imagem: quanto maior o trilho, maior o zoom out; quanto maior o zoom out, mais existe para avaliar, até quantificar. E é nessa passagem da fotografia macro – a única possível na juventude – para a grande grande-angular – só possível depois de soprar mais umas quantas velas – que está verdadeiramente o segredo. Em relação à velocidade do obturador, uma fotografia com uma velocidade muito elevada capta minuciosamente um momento de tempo muito preciso. A velocidade mais lenta – no limite o bulb – regista as deslocações, os movimentos arrastados entre os vários momentos.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Something else não é forçosamente something more

O Facebook gosta de facilitar a vida a pessoas como eu que não têm muita pachorra para fornecer informações pessoais. Sugere e palpita hipóteses com base em perfis alheios: aparece à esquerda uma lista e a ligação que deu origem a essa sugestão. O mais giro é, no entanto, o pluralismo: as respostas em branco são admissíveis. Por exemplo, o último item da lista do local de origem é “I don’t have a hometown”. É com a não-resposta que o Facebook lida mal.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Rotunda do Saldanha.

Paro na passadeira: uma velhota curvada, de bengala, com nítida dificuldade em se deslocar aproxima-se. Aliás, paro ligeiramente em antecipação da aproximação dela à passadeira. Ela pára também, olha para a estrada e vê que estou à espera dela – devagar, todos os gestos são feitos devagar. Começa a descer do passeio para o asfalto, faz-me sinal com a mão a agradecer. O tipo atrás de mim, visivelmente irritado, arranca rapidamente, ultrapassa-me e passa pela faixa da esquerda antes da velha ter tempo para chegar à segunda metade da passadeira.

domingo, 6 de julho de 2014

Targeted long-term

Há uma altura em que todos os caminhos parecem convergir para exactamente o mesmo ponto focal. E caminhos que seguem direcções aparentemente distintas. Totalmente distintas. E o pior é que, sem a percepção do verdadeiro destino, nem sequer passa pela cabeça ajustar o trajecto, rever as coordenadas, traçar outro rumo.

sábado, 5 de julho de 2014

Entregar a alma ao criador

Adulterar recordações. Dourar a pílula. Nunca nada é exactamente como nos lembramos (ou pensamos) que foi. Nunca nada é tão bom como a sensação que nos dá ao revermos na nossa cabeça aquilo (que pensamos) que nos aconteceu. Daí a saudade, daí o
dantes é que era
ou
nos bons velhos tempos.
Um passado que teima constantemente em competir com um futuro que teima em ficar sempre aquém das expectativas (enviesadas).
Um erro auto-inflingido. Um erro doce.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Parede esburacada

O comentador da RTP, aludindo à dificuldade de ultrapassar o guarda-redes dos EUA, Tim Howard, que finalmente sofre um golo da Bélgica depois de inúmeras defesas, refere a alcunha pela qual é conhecido: "the wall". O problema é que a pronuncia como "the hole".